Entrevista por e-mail para revista Underworld / Entulho Informativo #14 (Jan'05)
Dois álbuns editados, três EP's lançados na net, remisturas para projectos tão diferentes como Holocausto Canibal, Mão Morta, ou Legendary Tiger Man, é assim o historial dos Stealing Orchestra. The incredible Shrinking Band foi, sem dúvida, um dos álbuns nacionais de 2003. Este ano a sua actividade passa pelo EP Bu, o qual inaugura a "netlabel" de nome irónico: You Are Not Stealing Records [entretanto em baixa, desactivado?]. Eis o maestro João Mascarenhas.
Como estão a correr os downloads do "Bu"? Estão a correr muito bem. Temos um novo website [www.stealingorchestra.com] com uma parte de estatística na administração tão porreira que permite ver de que países tivemos visitas. Temos Portugal e Estados Unidos empatados em primeiro e lá no fundo países como Vietnam, Marrocos, Lituania, Bulgária, Nigéria... países que nunca esperei que nos viessem visitar. Mas a verdade é que com a netlabel e os contactos que fizemos lá fora o EP circulou bastante. Ainda por cima o espaço do website foi oferecido por um fã da banda e os mp3 estão num servidor americano que fornece espaço a netlabels, o archive.org. Daí que, mesmo que ande com pouco tempo para a netlabel, as coisas correm bem sem precisar de me mexer muito. O mês passado um amigo disse-me que viu uma revista espanhola em Barcelona que escolhia a You Are Not Stealing Records como a netlabel do mês, o que tendo ainda apenas 2 EP's me deixa espantado.
E tens reacções escritas / por e-mail do pessoal que tem sacado os EP's? Algum tipo da Nigéria já te escreveu? ;) Por e-mail tive reacção de pessoas dos Estados Unidos e França por exemplo. Todos me asseguram que gostaram tanto que mostraram a amigos e que lá na zona onde eles vivem já dava para encher uma casa para um concerto. O que é sempre bom de se ler, no entanto, nem cá em Portugal estamos a dar concertos para já. Mas.. a ver vamos onde isto vai parar. O Fernando está neste momento com os X-Wife nos EUA, daí que só faltava eu e o Gustavo metermo-nos num avião ao lado dum terrorista e irmos para o país das oportunidades.
Já tens ideias para mais EP's para download ou já se prevê um novo álbum? Novo álbum é muito cedo.. a média tem sido 3 anos para fazer um álbum, o que quer dizer que provavelmente só em 2006. Mas até lá vai haver muitos EP's a sair pela netlabel, tanto de Stealing Orchestra como projectos individuais nossos ou com/de amigos. Na netlabel sempre de borla. Só me mete um nojo desgraçado estarmos a oferecer as músicas às pessoas gratuitamente e saber que elas ao passarem em algum lado tipo rádio, TV ou bar... vão pagar a taxa aos ladrões da SPA. É uma nojeira termos instituições que roubam os portugueses e com o apoio do estado. Vê lá tu que até um Cine-clube mesmo que sem fins lucrativos que passe umas musiquinhas no intervalo dos filmes, tem de pagar à SPA. Morte na maior agonia possível, é o que desejo a essa gente.
Percebo... uma das vezes que fiz de DJ foi num bar do interior - já agora, o bar Oráculo em S.Romão / Serra da Estrela - e a preocupação maior do dono era pagar os 8 contos à SPA e não fazer a lista das obras / músicas que passei nessas noites - por acaso até passei umas duas de Stealing. É que se chega lá a inspecção e a licença não estiver paga, eles podem multar e confiscar o material de som. Uma vez que o bar tem uma onda diferente (numa zona como aquelas) já tem os seus n problemas e não quer saber da lista dos temas passados para nada. Mas a verdade é que a SPA não fornece o formulário para executar essa lista, ‘tão-se a cagar, querem é o guito! Desculpem o desabafo! Mas se estás chateado com isso não estás com o facto de poderem sacar gratuitamente a tua música, como "planeias viver da música"? Que é o principal problema destas questões da música gratuita, e também arma de arremesso dos “proibicionistas”... Até agradeço o Desabafo, cada vez vejo mais pessoas enojadas com a SPA. É daquelas coisas que a União Europeia tem de acabar. Têm de acabar estes escândalos como a SPA e o IGAC, que cobra uma percentagem por cada DVD ou VHS vendidos em Portugal. É dos poucos países do mundo a ter isso, se não o único. E o dinheiro é pura e simplesmente para eles. Não tem utilidade para os portugueses, no entanto andam a roubar-nos e tal como a SPA, com o apoio do Estado. Quanto a viver da música, eu não quero ganhar dinheiro com a venda de discos. Eu sempre fiz outras coisas. Não posso nem imaginar viver deste tipo de música num país como Portugal. Mas há outras formas de ganhar dinheiro e a música pode ajudar-me chegar a elas. Como banda, ganha-se mais a tocar ao vivo, e um disco é promoção. De borla ou pago, a banda ganha sempre o mesmo com a venda dum disco - nada. Mas nada foi o que paguei por fazer este EP, daí que enquanto pudermos fazer EP's de borla, em casa ou em estúdios de amigos, eles podem ser de borla na internet.
Isso é Punk! Que eu saiba não tens um passado Punk mas sim Industrial, falo do projecto Hardware que foi o teu começo na música, fala um bocado sobre isso… A banda que me fez começar a fazer música electrónica foi Young Gods quando tinha uns 15 anos. Nessa altura ouvia muitas merdas industriais como Test Dept., SPK, Skinny Puppy, Nitzer Ebb, Front 242, Ministry... e como qualquer puto normal fiz o que aqueles que eu admirava faziam. Mas olha que quanto ao Punk, deixa-me dizer-te que a minha primeira banda era Punk. Qualquer músico dos que faz apenas o que gosta tem de ter começado por uma banda Punk, foda-se! É o mais básico e simples. Mas ao mesmo tempo era fã dos Pogues, daí que pegar no acordeão do meu avô e começar a aprender foi um passo. Hardware apanhou uma fase em que já ouvia também muito Heavy-Metal e as primeiras cenas de Techno. Hardware se te lembras era uma mistura de Metal com Techno, Electrónica com voz Death. Um disparate, mas era o que eu curtia nessa altura... devia ter uns 17 ou 18 anos.
É a tua opinião... eu fui dos poucos que teve acesso aos Hardware e achava fixe. E como foi a transição para os Stealing? E como integras o acordeão nos Stealing - uma banda essencialmente de samples? Depois de Hardware ainda experimentei Jungle que mais tarde se veio a chamar Drum'n'Bass quando se tornou numa moda. Em pouco tempo percebi que a minha cena não é tanto o ritmo mas mais a melodia. Stealing Orchestra apareceu ao samplar uma guitarra acústica de Grant Lee Buffalo e mistura-la com a voz num pitch lento da Dolores Pradera e com uma batida meia Hip-Hop, que deu origem à música “Mujer”, a primeira de Stealing. Senti que tinha descoberto o meu som, a minha identidade musical. O facto da batida ser Hip-Hop nada tem a ver com o que marca a sonoridade da banda. Mas tinha descoberto o conceito ou o molde. Stealing usa realmente muita samplagem para chegar onde quer, mas não deixa de haver muito trabalho de guitarras, bateria e acordeão, dependendo dos temas. Acordeão era o instrumento que eu gostava e sabia tocar e que era perfeito para a sonoridade que queria fazer e mesmo antes de começar a toca-lo por cima de músicas, já o tinha usado samplado (de Astor Piazzolla) nos primeiros temas. Isto antes dos merdosos dos Gotan Project. Sabes, as vezes não é tanto o ter-se sido pioneiro em alguma coisa, o que provavelmente não aconteceu da minha parte, mas é mais gajos como esses Tanga Project fazerem tanto alarido de uma merda de nada que toda a gente os come como grande cena. Depois é só uma questão de tempo até toda a gente dizer "bah. afinal aquilo é xunga". Já me estou a perder, que se fodam os gajos!
“Don’t believe the hype” já diziam os Public Enemy. Realmente existe um público nacional muito otário, que come uma série de merdas pseudo-cosmopolitas. Deve ser por uma questão de complexo de inferioridade que essas pessoas engolem “Gotans” para se mostrarem que também são “cidadão do mundo”. No início até pensei que os Stealing faziam parte dessa onda de Electrónica “clean” e asséptica. Entretanto que a vossa atitude não é a electrónica pela electrónica só porque “gamam” sons mas mais pela amalgama de sons como uns Mr. Bungle, End, Secret Chiefs 3… Mas como estas bandas tem sons mais pesados os críticos acham feio comparem-vos com elas. Queres aproveitar para nos dares referências de arrepiar? Já sei que fizeste uma versão de Marco Paulo, tens singles de Quim Barreiros, vá conta o que mais de tenebroso tens nos teus caixotes e estantes… Se há coisa que Stealing não é uma cena clean e asséptica ou robótica e fria. A amalgama de sons não tem que ser vista peça a peça, ou como uma soma de partes, o que interessa é apenas o resultado, o todo. É como um quadro de uma gaja nua feito com rebuçados, papeis, arames, moedas, etc... isso é a técnica mas o que tu vês é uma gaja nua. A soma de todas as sonoridades que juntamos resulta na nossa própria sonoridade, é apenas essa que nos interessa. Cabe à imprensa descobrir o que ali está, se quiser. Normalmente somos associados a bandas que não gostamos ou nunca ouvimos falar. E realmente das bandas que aí andam das poucas com que temos ligação é mesmo Mr. Bungle, Fantomas, Secret Chiefs 3 e depois coisas como The Lonesome Organist ou A Hawk and a Hacksaw.
Não tenho singles do Quim Barreiros mas tenho uma data deles do Marco Paulo. É uma das colecções parvas que faço, singles xungas com capas ridículas, e o Marco Paulo tem muitas. O disco mais parvo destes de música popular portuguesa é de um gajo que toca acordeão. É um disco musical e “spoken word”. Começa um juiz a contar a história dum gajo que matou a mulher e que com a emoção perdeu a fala, daí que vai usar o acordeão no tribunal para responder às perguntas do juiz. "Qual a sua nacionalidade?" e o gajo toca o hino nacional, e por aí fora com todos os fadinhos e cançonetas cujo titulo vai dizendo o nome, idade, etc… até no fim revelar que lhe tinha posto os palitos.
Enquanto o novo álbum e novos EP’s não saem, o que os Stealing tem remisturado nos últimos tempos? Para já há planos para um projecto do Gustavo (baterista) chamado Sweet Monster em EP. E mais outro EP com as primeiras musicas de Stealing. Mixes fizemos do Legendary Tiger Man e estamos para fazer uma dos Norton. Mais tarde vai haver mais EP's de outros projectos e vamos voltar aos concertos.
domingo, 30 de janeiro de 2005
sexta-feira, 28 de janeiro de 2005
DEA report on "Palhaços dos políticos"
Foi este fim-de-semana, em Lisboa, que um grupo de Artistas colocaram narizes vermelhos (de palhaço) nos outdoors publicitários dos cinco principais líderes partidários para as legislativas.
A iniciativa já tem feitos os seus danos colaterais a julgar pelas notícias e reacções no Correio da Manhã, Indymedia, A-Infos, Instituto Miguel Torga, Público e BBC.
Para não falar que o assunto já inspirou os cartunistas e colunistas dos jornais bem como o suplemento Inimigo Público... Ou ainda a capa d'O Independente.
Mas a surpresa foi no Porto, que copiaram a mesma ideia mas de forma menos bem feita - pintaram narizes, olhem para a tinta a escorrer neste link: http://pt.indymedia.org/ler.php?numero=55187&cidade=1
A iniciativa já tem feitos os seus danos colaterais a julgar pelas notícias e reacções no Correio da Manhã, Indymedia, A-Infos, Instituto Miguel Torga, Público e BBC.
Para não falar que o assunto já inspirou os cartunistas e colunistas dos jornais bem como o suplemento Inimigo Público... Ou ainda a capa d'O Independente.
Mas a surpresa foi no Porto, que copiaram a mesma ideia mas de forma menos bem feita - pintaram narizes, olhem para a tinta a escorrer neste link: http://pt.indymedia.org/ler.php?numero=55187&cidade=1
quinta-feira, 27 de janeiro de 2005
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