quarta-feira, 21 de maio de 2014

João Moreira dos Santos : "Jazz em Cascais : Uma História de 80 anos" (Casa Sassetti; 2009)

Eis uma agradável surpresa este livro, pelo menos para um ex-residente de Cascais e curioso do Jazz. Desconhecia completamente que a implantação e desenvolvimento do Jazz em Portugal passou sobretudo pela Linha do Estoril - claro que a evolução do Jazz em Portugal deixou de acontecer por estas bandas a dada altura porque as iniciativas do concelho foram quase sempre para o Jazz cristalizado, comercial e para o tio & tia fingirem que gostam.

Assente nas histórias dos empresários Erico Braga (1893-1962), Luís Villas-Boas (1924-1999) e Duarte Mendonça (1931-) e a forma como sempre tentaram dinamizar e divulgar o Jazz em Portugal, o que nunca foi fácil porque essa música era do Diabo! Para o Estado Novo, pior que saber que esta música punha o pessoal a dançar e pular era ainda mais inconcebível saber que os músicos negros não eram os selvagens que os "bons portugueses civilizavam em África".

O livro é bastante agradável no que respeita à leitura do texto e das imagens / documentos que aparecem. Não chega à leviandade dos "foto-livros" que nada dizem - é irónico que neste país pouco dado às imagens tenha começado nos últimos anos a serem editados montes de livros só com fotografias mas novamente com pouco ou nenhum contexto escrito, crítico ou narrativo - mas também não é uma enciclopédia exaustiva para cromos do Jazz.

Fiquei a conhecer as razões da existências de discotecas, teatros, clubes, casinos em Cascais e Estoril, como por exemplo, nunca pensei que o Palm Beach ou Bauhaus (discotecas dos betos) tinham começado por serem lugares de música Jazz, abertos em 1941 e 1955 respectivamente. Aliás, o Bauhaus chamava-se Ronda - acho que o Camarada Gouveia já me tinha contado. Agora percebo a decadência da noite cascaense nos anos 90 quando lá vivia...

As melhores histórias contadas passam pelo festival Cascais Jazz onde vamos encontrar as drogarias e extravagâncias de Miles Davis (em 1971), o incidente político de Charlie Haden (no mesmo ano) ou as exigências "da época" (estamos no PREC, em 1975) do grupo Plexus, ao qual faziam parte o Rui Neves (actual Director do Jazz em Agosto) e Carlos "Zíngaro" (músico e autor de BD) que ilustrou um panfleto contestário. Dos anos 80 para frente, com mais ou menos pobreza ou riqueza de meios e de apoios, os movimentos ligados ao Jazz na linha vão ficando profissionais e instítuidos, ou seja, deixa de contar episódios caricatos nem nada que valha a pena ler. Se por um lado permitem a edição de um livro como este (com o apoio da Câmara Municipal de Cascais), por outro chegamos ao fim da linha.

Em completa antítese ao livro anterior está o mono-volume Duarte Mendonça : 30 Anos de Jazz em Portugal 1974-2004 (CM de Cascais; 2004), também redigido por JM dos Santos. É o pior que a despesa pública consegue fazer porque não sabe delegar o dinheiro a quem sabe fazer como deve ser - o livro anterior é exemplo disso, aliás, apoiado pela CM de Cascais mas produzido por editores particulares.

Este é um livro luxuoso com design horroroso e disfuncional, que deveria servir para homenagear a Duarte Mendonça pelo seu bom trabalho que fez em promover o concelho e o Jazz. Porque é que o designer - já agora o nome: David Santos, para quando cruzarem com ele não lhe pedirem ajuda ou trabalho - coloca uma moldura enorme ao longo de todas as páginas? Além de parecer um convite de casamento torna o livro pesado em número de páginas e peso. Porque faz páginas duplas com algumas fotografias quando elas não tem esse tamanho e com isso ficamos com elas cortadas? Nada faz sentido... Sendo que ainda por cima é um livro para cromos do Jazz porque as fotografias só tem interesse para quem é doidinho por aqueles músicos (ainda assim dada a má qualidade da reprodução nem sei se satisfaz este público) e o conteúdo escrito é apenas uma simples biografia das façanhas de Mendonça e dos seus projectos sem que haja nada de especial a declarar a nível de histórias milaborantes.

O peso, o luxo e o institucional poderiam ser más características para um livro mas este é o livro institucional no pior sentido da palavra porque foi feito pela própria Câmara, que se calhar sabe passar multas ou atribuir verbas a centros de dia mas não sabe o que é um livro! Se calhar até deveriamos ter pena do designer, coitadinho deve ter sido obrigado a fazer o que lhe pediram... Imagino o Presidente da Câmara (que deverá ser tão ignorante como a maioria dos portugueses em matéria de cultura visual) a dizer "ó David, não se pode ter fotografias a ocupar o livro todo? E se colocasse o título do livro em cabeçalho de todas as páginas? eih? Tá bonito não 'tá? E prateado? Pode-se imprimir em prateado?" Deus nos livre de sermos assim homenageados! É de enfiar o capucho!

Mediocre também é Josephine Baker em Portugal (Casa Sasseti; 2011) também do mesmo autor dos outros dois livros acima referidos. Baker (1906-75) é um ícone do século passado e que passou por Portugal várias vezes entre 1933 e 1960, ora como jet set, ora como artista como ainda como espia para os franceses. A artista nasceu nos EUA mas foi em França que se fez aceite enquanto cidadã negra com o sucesso e "escandale" do mundo do espectáculos, por isso quando a França foi nazificada, além de se ter recusado a tocar durante o regime de Vichy, ao que parece andava a recolher informações nos Casinos portugueses, informações essas que escrevia e colocava no soutien para enviar à malta do De Gaulle - a mim parece-me pouco provável isto, acho que os Senhores da Guerra têm é pancas sexuais maradas e se calhar pediam à "Josefina" esta missão era antes para ter fantasias olfativas-sexuais... Tarado, eu!?

Também se relata outras questões de Baker ter tentado adoptar uma criança portuguesa para a sua Tribo do Arco-Íris, a família de Baker de dez crianças de toda as "raças e religiões", incluíndo por exemplo um coreano, um finlandês, um israelita,... A Madonna e outras "stars" americanas não inventaram nada de novo. O livro é "light" embora seja mal enjorcado com o seu formato estreito. O DVD incluído reúne as gravações sobre as suas passagens em Portugal mas não as actuações da música em 1960 - talvez os "copyrights" fossem altos mas poupando um bocado no papel (formato e qualidade) talvez até se conseguia isso, não? No final, é um simpático documento sobre esta relação portuguesa com a "Vénus Negra" que nunca chegou a fazer "shows" tão provocantes como nas  Folies Bergère - não por pudor do nosso terrível catolicismo e Estado Novo mas apenas porque esta grande mulher já estava noutra quando veio cá actuar, o que mostra que Portugal sempre acerta ao lado...

Gracias à Biblioteca de S. Domingos de Rana pelos livros - em especial, claro, pelo primeiro livro que é mesmo uma bela surpresa.

terça-feira, 20 de maio de 2014

LusoSerbiAmerica


E apareceu-me hoje no correio o mítico fanzine norte-americano White Buffalo Gazette com uma BD minha e do sérvio Aleksandar Zograf (autor do Mundos em Segunda Mão) que foi feita em 2003 e publicada originalmente no Talento Local apenas em 2010...  

Thanks Buzz & Aleksandar!

sexta-feira, 9 de maio de 2014

quinta-feira, 8 de maio de 2014