quarta-feira, 25 de março de 2020

Audimat #10 (Samuel Aubert; Dez'18)

Pela cor salmão-salmonela da capa não confundam este monte de merda com a Audimat até porque estamos em caminhos completamente opostos. Logo a começar pelo formatinho e design económico que lembra os almanaques Reader's Digest ou "westerns pulp fiction shit" que ainda sobreviveram em Portugal até aos anos 80. O "brand new you're retro" (Tricky) assenta como uma luva mas não me queixo.
É uma revista francesa sobre música - redigida em francês, sorry - que é um mimo para quem recentemente deixou cair a assinatura da The Wire por já não conseguir absorver tanta informação todos os meses. Os artigos dirigem-se muito para o passado com a missão de desmistificar a cultura Pop/Rock, tão dada a lendas e desinformação, como podem ver pela capa: House francês, psicadelismo, a cultura de música de dança em Nova Iorque, Techno minimal,... Se calhar sentimos mais confortáveis a ler sobre o passado ou é apenas um sentimento de estagnação e nostalgia  que sentimos até aos dias de hoje - e quando escrevo "dias de hoje" meto como baliza este novo mundo do Corona Vírus, que sem dúvida trará um abalo na cultura e arte.
Audimat reflecte o tempo parado desta década que acabou sem que isso prejudique a sua qualidade de escrita e interesse de conteúdos, muito pelo contrário, os artigos são bastante bons. E bónus, desculpem a ironia, até há um artigo prá "frentex" sobre "field recordings" e como eles podem ser instrumentos de combate ao Capitaloceno,  ideologicamente por registrar sons de mundos naturais que desaparecem e intervindo ecologicamente como o exemplo de David Dunn que conseguiu impedir uma praga de insectos de destruírem uma floresta usando som invés de poluentes pesticidas.
Já fiz assinatura, ou pensavam que ia ficar em casa a ler os suplementos culturais dos jornais portugueses? Fuck you!!!

quarta-feira, 18 de março de 2020

Bela Purga


Ah! Não se ouve os "boys" do rendimento mínimo a estoirarem o guito em bujas, não há discussões boçais e infinitas da bola, nem os turistas de merda,... vivemos um verdadeiro paraíso "ballardiano" e é uma óptima altura para cultivar o espírito e esmiuçar o que o Steve Albini queria dizer com o facto da História do Rock estar mal contada, que nada é como se diz, que se salta dos Beatles para os Sex Pistols e desses para os Nirvana - já agora, depois destes há alguma outra banda para seguir? Gulp!
Para os que estão em casa com 'net, espero que fechem as redes sociais que nada terão para contar a não ser vídeos de cães (gatos estão fora de moda, ao que parece) e de palhaços do Pop nacional a tentarem capitalizar o isolamento. Procurem os esquecidos, vencidos e dissidentes da História já que tem tempo para tal. Complicado? Uma dica, entre mil outras possíveis, oiçam por exemplo, a colectânea Sounds And Shigaku Limited Present: Beautiful Happiness (1989) com esta bela capa de Brian Bolland - desenhador inglês de BD - organizado por um jornal de música (Sounds) e uma importadora de música (Shigaku), ambos fascinados pela energia do Rock vindo dos EUA, sendo este LP uma espécie de "sample" do melhor Rock que se fazia nos "States" na altura - e Canadá por causa dos Shadowy Men on a Shadowy Planet que no panfleto do disco afirmam que fizeram a banda sonora para o documentário Comic Book Confidential (1988), um dos primeiros documentários sobre BD, bastante eclético que até os "bedófilos" gostam, saquem!
"Eclético" serve também para definir este LP, girando pelo Hardcore (e pós e futuro Grunge), Noise Rock, Indie / Lo Fi, Surf e até uma engraçada versão ragtime de Holiday in Cambodia (dos Dead Kennedys) por D.J. Lebowitz. Haverão poucas bandas aqui memoráveis - Halo of Flies, Naked Raygun, Life Skull, Iowa Beef Experience (porque um membro fará parte dos Tape-Beatles), Disappointments (porque tocaram com o GG Allin) e Drunk with Guns - apesar de serem boas mas essa não é a questão. A questão é enriquecer uma linha temporal musical, perceber como os sons evoluíram ao longo destas décadas para que NUNCA mais, NUNCA mais, NUNCA mais, sermos enganados por bandas como Blind Zero ou Paus - bandas burguesas, fraudulentas, vendidas e inúteis que poderiam ter trazido o vírus mortal do norte de Itália, sei lá, são gajos para irem a uma feira de calçado já que ninguém os quer numa "feira de música"...

Gracias Daniel Dias pela prenda de "Natalixo".