segunda-feira, 4 de maio de 2020

Donna Gaines : "Teenage Wasteland : suburbia's dead end kids" (University of Chicago Press; 1998)

Eis um livro que pode ser um companheiro da "segunda parte" de The Decline of Western Civilization, sendo que Gaines tem uma missão maior que é analisar o pacto de suicídio de quatro jovens em Bergenfield (EUA, 1987). Escrita de forma jornalística, Gaines envolve-se na comunidade de jovens marginais dessa cidade e os seus "filmes" com álcool, droga, violência familiar e exclusão social. O livro revela muito bem como o sistema de educação norte-americano é segregador e eugénico, e onde até na tentativa de mudar as regras do jogo, a sociedade gringa não consegue de pensar sempre no "big buck", fazendo de todo o arsenal social uma forma de fazer guita.
Os jovens "burnouts" daquela cidade estão a curtir Metallica, Bon Jovi e Iron Maiden, enormes na altura, e também M.O.D. originais de lá. Metal e o seu "satanteenismo" são as grandes preocupações de pais que não percebem patavina dos códigos juvenis ou da sua condição miserável na sociedade dominada totalmente pelos "adultos" - ver o caso de Mike Diana. Cru na escrita, Gaines que consegui a confiança dos jovens d Bergenfield graças a gosto comum pelos Motörhead (sempre foi a banda mais unificadora de tribos urbanas!) vai a todas, faz um excelente ensaio sobre a popularidade do Hard Rock / Heavy Metal focando na mitologia do quarto LP dos Led Zeppelin, sobre a música como religião numa sociedade hiper-maniqueísta, sobre a necessidade dos jovens terem espaços auto-geridos (há referências à cultura Hardcore), sobre como as "reganomics"  destruíram o tecido social norte-americano ou ainda porque nos anos 80 não se pode falar de subculturas mas subcultos dado o enorme puzzle socio-económico (e racial) que são os EUA e da forma como as culturas se modelam nesses complicados contextos - percebe-se porque os anos 80 foram uma "idade de ouro" para tantos sub-estilos de música: Punk, Hardcore, Thrash, Speed, Death, Crossover,...
A edição original é de 1991 mas esta (re)edição inclui um posfácio que fala dos anos 90 como a vingança dessa juventude espezinhada dos anos 80. Realmente os 90 foram os anos do "alternativo" e da ascensão da cultura DIY vindas da década anterior - zines, bandas como Sonic Youth ou Butthole Surfers, causas políticas - mas Gaines aponta que nada mudou no estatuto dos jovens, se é que não piorou, estatisticamente mostra que aumentou o homicídio juvenil, o suicídio juvenil, a gravidez juvenil, etc... e simbolicamente houve as mortes do branco Kurt Cobain (1967-94) e do negro Tupac Shakur (1971-96), o primeiro suicidou-se (este livro é húmus para explicar Cobain) por apatia caucasiana, o segundo foi assassinado por gangues.