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O livro de que aqui escrevo foi oferecido no último concerto de Rice em Sintra - coisa estranha mas de salutar: ir ver um concerto e receber um livro! - em que temos alguns ensaios de Rice e um de M. Janeiro. Ambos textos estão publicados no original e com uma tradução (de inglês para português no caso de Rice, e vice-versa para Janeiro).
Rice tem viajado pelo mundo e descodificado alguns mitos - vejam thevesselofgod.com - como são os casos apresentados no livro, dividido em três capítulos. Revela como a Igreja Católica explorou o paganismo e toda uma cultura anterior à dela, e como aliás, acentuou a exclusão das divindades femininas no seu folclore - situação que já vinha do judaísmo. E é a partir dessa perda, que surge o mito do Santo Graal, a procura do Sangue Real de um "par divino" (Jesus e Maria Madalena). A escrita de Rice é cativante com as comparações entre a história cristã e a mitologia pagã, ou como as estórias da História se repetem em espirais tele-novelescas sem que nos darmos conta. E talvez seja aqui que este "esoterism 101" tenha de positivo - por revelar o esquecimento perpetuado pela História dos vencedores, ou seja a da Igreja Católica e do Capitalismo.
Já o Porto do Graal trata de enaltecer Portugal como uma nova pátria espiritual a ser criada (e governada?) pela Ordem Militar dos Cavaleiros do Templo de Salomão. Ao que parece, havia todo o interesse que D. Afonso Henriques criasse uma nova pátria europeia para que a Ordem fundasse o seu porto de virtudes. Curiosa tese que tem tudo a ganhar pela investigação científica mas que põe tudo a perder com uma conclusão tola do autor, que quase parece um fan boy babão de Portugal, espécie de extrema-direita pseudo-iluminada sem sentido de humor - do qual faz parte 90% do público de Rice e cia.