Sr. Alfaiate: "A vida na ponta dos dedos" (
Loop; 2006)
Buraka Som Sistema: "From Buraka to the World EP" (
Enchufada; 2006)
O primeiro é um álbum de "scratch", coisa rara em Portugal... e quando sabemos que quem está por detrás dele é o
Nelassassin (DJ dos
Micro,
Bulllet entre outras colaborações e filiações) com as colaborações de
Ollie Teeba (dos
Herbaliser),
DJ Damented,
Kika Santos, Mellow D, SP, Verbal e
DJ Riot mais curiosos ficamos. Há na rodela Hip Hop (claro) instrumental de qualidade mas encontraremos "agradáveis" (diz a editora) momentos Soul e R'n'B (agradáveis? para quem?) e funcionalidade Drum'n'Bass na última faixa, bastante atrasada no tempo, só para inglês ver. Com a função de ser cosmopolita até ao tutano, ouve-se bem dada à excelente produção do disco mas como quase tudo que vêm da Loop (que fez, no ano passado, 5 anos de actividade nas áreas do Hip Hop e outros géneros) há um trago ao artificialismo, uma perseguição dos modelos comerciais anglo-saxónicos óbvios numa tentativa de compromisso entre uma música de autor / alternativa com sucesso comercial - basta ver as banhadas que são
Vicious 5 ou
Fuse... Por isso, seguimos uma viagem mediana - a título de gosto pessoal, os
fashion victims dirão que é um grande álbum - em que os melhores momentos passam pelas faixas que participa
Kalaf (sempre em
very-cool-style) e
Sam the Kid com
Bob the Rage Sense em guerra aberta ao que é e não é Hip Hop - tema sempre desagradável e masturbatório mas aqui com alguma garra e pujança por vir da boca de Sam.
[3,7; Quando há uma Festa de Troca de Discos, caramba!?]
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O segundo é o EP de estreia daquele foi o fenómeno da música portuguesa em 2006 - e que só ouvi na totalidade agora em 2007. Considero este CD-EP um dos discos mais importantes em Portugal dos últimos 10 anos. Ainda em tempos, na revista cinzenta
Entulho Informativo a propósito de "Ngonguenhação" (Matarroa; 2004) do
Conjunto Ngonguenha, escrevia que em Portugal temos vergonha de usar a matéria-prima da música africana (conclusão, aliás, nada nova porque vinha da leitura das
escríticas pop de Miguel Esteves Cardoso), quando somos nós dos países com mais potencial para tal dada a nossa estreita relação histórica-colonialista com África e outros continentes. Mas não, aqui é a saudade e a morcegada que servem de personalidade nacional para a música e cujos exponentes máximos são os
Madredeus e os
Moonspell. Enfim... 2006 é o ano de ruptura graças ao
boom estival dos Buraka Som Sistema e talvez venha a ser o ano em que Portugal passará a deixar de ser um país salazarento-de-merda e mapear-se-á na música do globo com um som completamente fresco [mas segundo a edição de hoje do
Y, os franceses já se estão a adiantar com festas e a lançar discos de Kuduro - de origem angolana].
Sinceramente gostaria que os BSS venham a ser tão ou mais importantes como foi o House manhoso dos
Underground Sound of Lisbon nos anos 90. Música de Dança Inteligente Crioula (IDM-PALOP?), Kuduro Progressivo (como lhe chamam), F-Dubstep (F de Fuck ou de Funk), Grime de Lata, qualquer designação servirá para este futuro "new two-tone" de uma sociedade que se quer progressista e cosmopolita, europeia e outras tretas. Dá-lhe Buraka! Vai ao World, vai!
[4,5; precisadizer+?]
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Entretanto para quem sofre de melomania, com ou sem critério, e procurar saber o que é o Kuduro, o sítio
Wikipedia já é uma fonte de pesquisa levando já para páginas de artistas como o
Dog Murras (o que me diverti a visitar a página
murraspower.com) ou poderá encontrar algumas compilações manhosas como
"Kuduro - Sempre a subir" da editora-pimba-k7-pirata Ovação (de que ano? não se sabe...) com
Zeca, Semal, Frank Lioni, Virgilio Fire (hehehehe),
Big Beto (que compila as faixas e no final faz um mix de todos os temas neste CD),
DJ Fantasma (com este nome podia ser um DJ Gó-Gó!),
Milay Xavier e
MLX com
Kwanhama. Diversão total garantida por muito pouco dinheiro... «É elaaaa! É elaaaaaaaa!» Que photochupada di capa, hein!?
[3; é prá vergonha!]
Grandes temas desta nova vaga de Kuduro-pt também pode ser encontrado nos discos "
Poesia Urbana" e no disco dos
Nigga Poison.