quarta-feira, 24 de junho de 2015
João Paulo Ferro : "Roll Over : Adeus anos 70" (Documenta; 2013)
Odeio a expressão "oportunidade perdida", seja vindo de um rabeta que nunca faz nada de jeito na vida seja de um intelectual com a sua tese empinada! O que é que as pessoas sabem dos bastidores da produção de um livro ou de um espectáculo para dizerem isso? O que sabem das dificuldades ou objectivos de quem criou uma peça artística ou editorial?
Infelizmente, ao folhear este livro deixei-me levar por essa expressão ressabiada... Outra expressão terrível é "uma imagem vale por mil palavras", como se um médium pudesse substituir outro! E aqui estou eu a olhar para um livro lindo que, paradoxalmente, as imagens dizem pouco, muito pouco... Os prefácios do livro acham que não, que estas fotografias tiradas à boémia de uma certa elite social lisboeta são diferentes aos da geração Instagram / Vice que tudo fotografam e que deixam mais facilmente uma pegada documental. Olhando para estas fotos do livro, subtraindo as roupas e máquinas que são dos finais dos anos 70, o que fica são jovens iguais aos de 2015 - até porque nos últimos anos, os "70s" estão na moda - nas suas poses, risos e excessos. Temos jovens betos em Cascais, Sintra, Caldas da Rainha e Lisboa a falarem, drogando-se, apanhando carraspanas, com poses sensuais, algumas sexualmente ambíguas outras libertárias, a dançarem, a curtirem a vida à noite em espaços públicos ou em casas particulares. Alguns até estão vestidas à rocker que realmente podia ser "vanguarda" em Portugal mas já era anacrónica noutra parte do planeta - é sem dúvida retro em 2015 mas ainda existe malta assim sabe-se lá porquê!
As fotografias mostram actuações ao vivo de bandas como Anar Band, os Xutos & Pontapés no primeiro concerto, Faíscas mas também de outras futuras personalidades como Miguel Sousa Tavares e o Al Berto com ares de putos (que eram). Mas é preciso conhecer estas pessoas publicamente, não há legendas a indicá-las nem explicações de outra hora. Nem precisa e o livro pode ser o que é, uma recolha autónoma de imagens de uma geração pós-PREC e pré-Cavaquistão I. Havendo um défice de informação sobre esses tempos em relação à cultura urbana portuguesa é realmente uma "oportunidade perdida" não haver um livro que tenha textos com a mesma qualidade destas fotografias que contem histórias da altura, histórias com sangue e suor, tão íntimas como a da fotografia do gajo a chutar-se - e que encerra o livro, como se profetizasse a merda toda que viria aí e que iria destruir ou queimar muita gente nos anos 80 e 90.
É impossível publicar um livro destes sem que se deseje um relato pessoal do fotógrafo longe da preguiça que este almejou e cumpriu. Se calhar não foi possível, se calhar o autor não se sente à vontade, se calhar "uma imagem vale por mil palavras" - o caralho que vale!
quarta-feira, 10 de junho de 2015
segunda-feira, 8 de junho de 2015
Arto Paasilinna : Um aprazível suicídio em grupo (Relógio D'Água; 2010)
Uma capa tão horrorosa em 2010 é mais escandalosa que a escrita deste finlandês em 1990 - realmente a Relógio D'Água pode ser uma grande editora mas deveria repensar a imagem gráfica!
O suicídio pelos países nórdicos é uma catástrofe humana e não se deve brincar com isso mas Paasilinna brincou e com bastante estilo... Não é um livro pesado, na realidade está na linha de filmes "celebração da vida" - tipo Kusturika ou "o destino de Emélie" - em que se consegue prever o final - e que será nesse "fim do mundo" que é Sagres, daí a capa manhosa?
Tal como ler os romances gráficos de Jarno Latva-Nikkola ou os filmes de Aki Kaurismäki ou ainda saber de histórias da Finlândia (e eu sei um bom par delas desde 2002) encontramos uma linha comum nisto tudo e percebermos o que será um "Finlandês verdadeiro", e é fácil: são casmurros, deprimidos, moralistas e dados a um sentido de "non-sense" cujo estereótipo seria mais fácil de identificar com o "Sul". Este livro é uma polaróide daquela sociedade apesar da história começar com um militar reformado e um empresário falido a encontrarem-se por coincidência no mesmo estábulo para se suicidarem. Depois de desistirem de acabarem ali com as suas vidas, gozam o verão finlandês (diz-se que ninguém tira um finlandês do seu país nesta estação do ano) e decidem criar uma Sociedade de Suicidas Anónimas com o objectivo de se matarem em colectivo e com dignidade. Situações trágicas e cómicas sucedem-se de forma a viciar o leitor. Torna-se um bocado inconsequente tal como o "nosso" Saramago foi com As intermitências da Morte mas pelo menos Paasilinna é mais divertido, perfeito para as férias.
Ler sobre suicídio na época balnear? Why the fucking not? Na realidade este livro é um verdadeiro "fun fun fun in the Autobahn", um mórbido "road-movie" com excursionistas "kamikazes",... como não ler isto a assar bem de frente aos cancerosos raios solares?
Já agora, como o mercado livreiro em Portugal é uma selva de oportunidades, os livros de Paasilinna já se encontram a 5 euros na Feira do Livro. Valem isso!
O suicídio pelos países nórdicos é uma catástrofe humana e não se deve brincar com isso mas Paasilinna brincou e com bastante estilo... Não é um livro pesado, na realidade está na linha de filmes "celebração da vida" - tipo Kusturika ou "o destino de Emélie" - em que se consegue prever o final - e que será nesse "fim do mundo" que é Sagres, daí a capa manhosa?
Tal como ler os romances gráficos de Jarno Latva-Nikkola ou os filmes de Aki Kaurismäki ou ainda saber de histórias da Finlândia (e eu sei um bom par delas desde 2002) encontramos uma linha comum nisto tudo e percebermos o que será um "Finlandês verdadeiro", e é fácil: são casmurros, deprimidos, moralistas e dados a um sentido de "non-sense" cujo estereótipo seria mais fácil de identificar com o "Sul". Este livro é uma polaróide daquela sociedade apesar da história começar com um militar reformado e um empresário falido a encontrarem-se por coincidência no mesmo estábulo para se suicidarem. Depois de desistirem de acabarem ali com as suas vidas, gozam o verão finlandês (diz-se que ninguém tira um finlandês do seu país nesta estação do ano) e decidem criar uma Sociedade de Suicidas Anónimas com o objectivo de se matarem em colectivo e com dignidade. Situações trágicas e cómicas sucedem-se de forma a viciar o leitor. Torna-se um bocado inconsequente tal como o "nosso" Saramago foi com As intermitências da Morte mas pelo menos Paasilinna é mais divertido, perfeito para as férias.
Ler sobre suicídio na época balnear? Why the fucking not? Na realidade este livro é um verdadeiro "fun fun fun in the Autobahn", um mórbido "road-movie" com excursionistas "kamikazes",... como não ler isto a assar bem de frente aos cancerosos raios solares?
Já agora, como o mercado livreiro em Portugal é uma selva de oportunidades, os livros de Paasilinna já se encontram a 5 euros na Feira do Livro. Valem isso!
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