Um livro que promete muito e oferece quase nada. Lembra estruturalmente os volumes da RE/Search mas é uma chatice pegada de tão atabalhoado e repetitivo que é. Para dizer que graficamente é muito feio, especialmente para um livro que trata de música (tão) cheia de açúcar e cores. A grande teoria deste livro é que sempre haverá música caramelizada que se pegam aos dentes de qualquer outra música "séria" e "adulta". Se há Rock'n'Roll haverá uns Monkees, se houver Grunge haverá uma Sara Debell - ou melhor, uns Backstreet Boys. Porquê? Porque nenhuma criança vai curtir barulheiras e temas sórdidos (drogas, depressão e destruição), logo, na indústria fonográfica haverá sempre um grupo de empresários a recrutar produtores musicais de topo e uns putos ranhosos para serem as suas putas. E de preferência - houve uma altura - se a "banda" não tiver cara porque é uma máscara (Banana Splits) ou um desenho animado (The Archies) ainda melhor. Não só se pode nos EUA ter a "banda" a tocar em estados diferentes ao mesmo tempo, como ainda se pode despedir quem se porte mal no conjunto e não há reivindicações artísticas nem divas.
Começado nos anos 50 pelo facto de haver um "baby boom" cheio de massa para gastar em brinquedos e discos, a "Bubblegum" é o Pop criada em fábricas e que teve o seu zénite até aos anos 70, tendo depois transformado em mil e outras coisas tal como toda a música se foi metamorfoseando pelo mundo fora - até o festival da Eurovisão é aqui analisado com um artigo bastante divertido. O caso mais grave será o facto de alguns artistas a partir dos anos 80 tanto namorarem um público adolescente como um "adulto" como o caso de Madonna, embora no livro analise-se algumas das inocentes letras e tiram-se insinuações sexuais delas - se bem que um gajo pode ver pénis e vaginas em tudo o que a Humanidade criou, das tomadas eléctricas à "cu-linária", cof cof. E claro, os escravos do Bubblegum sofrem uma série de patologias sexuais: Garry Glitter e uma dezenas de deles ligados a pedofilia e abusos sexuais, o caso do mega-freak Michael Jackson (Jackson 5) ou Britney Spears Oops, I did it again...
O mais interessante do livro é quando faz relações com este tipo de produções com a "música séria" como o caso do Punk, em que Ramones e Blondie são várias vezes referidos como casos Bubblegum. No primeiro caso, a relação é feita pela simplicidade dos temas, pelas onomatopeias nas letras e também a sua infantibilidade do "eu gosto disto / eu não gosto disto". Não será caso de choque uma vez o Punk é um filho bastardo da cultura Pop, em que sempre pegou nos produtos de mais mau-gosto que a sociedade produziu (BD popular, "soap-operas", série B) para os reciclar ao seu (outro mau) gosto. Ou, uma vez que "punk" não significa uma coisa mas muitas ao mesmo tempo, e no caso dos Blondie, a crítica ao "american way of life" em que Susie And Jeffrey é um dos grandes temas, como poderia ser feito senão com a produção mais pastilha-elástica possível?
Livro semi-inútil tem o bónus de lá se encontrar o Peter Bagge (autor da série de BD Hate, caricatura do Grunge) a defender uma lista de Pop xunga (desculpem, a Bubblegum do final do milénio) que ele e a sua filha ouviam na altura - inclui as Spice Girls que ele defende fortemente. Convenhamos, quem resiste ao balbuciar de Wannabe?
Ou o que dizer das "nossas" Doce? Hum!?
segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018
sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018
quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018
Child porn
Dois Bauhaus em 1984 gravam Pop (Beggars Banquet) depois de uma série de singles. Há também uma versão diferente deste disco para os gringos - e com uma capa completamente infeliz, no que faz pensar se foi pelo pipi da miúda... Os Tone on Tail são os Bauhaus ainda mais Dub e ambientais, armados com sintetizadores e com a voz de Daniel Ash a chegar aos Love & Rockets - projecto que iria unir os três Bauhaus (sem Peter Murphy) depois do fim da banda. É um disco inesperado que tanta anda no Dark Pop do Cabaret como um psicadélico ganzado, pelo meio desvia-se em synth pop para pista de dança muito 80s mas sempre com detalhes de quem sabe o que faz. Só de pensar que em 2017 as pessoas curtem merda pura como os "cigarros depois do pinanço" dá no que pensar em quanto "devoluimos"...
E por falar nisso, nos Devo e se calhar nos Residents, onde os imaginários de troça do Rock parecem interceptar, eis Nash The Slash. Um canadiano multi-instrumentista enfaixado na cabeça como uma múmia que editava os seus próprios discos (o logo da sua editora é uma caveira catita!) mas deve ter tido os seus 15 minutos de fama porque até há uma edição portuguesa do Children of the Night (Cut-Throat / Dindisc; 1980) que encontrei na loja Glam-O-Rama. Espera, e porque não Buckethead como comparação? Sim ambos são virtuosos apesar de Nash nunca usar guitarra mas sim violino e outros instrumentos de cordas. O seu álbum de estreia é fantástico e Dark, lembra muita electrónica que ainda se faz em 2018. Este segundo LP é mais parolo, humorístico, "clean" e "pop" como se topa na versão-gozo de Smoke On The Water - como Dopes On The Water - mas ainda assim é uma peça curiosa. Comprei este disco por causa da capa e contra-capa e para desvendar o mais cedo possível que mistério musical seria este. Há ainda muita coisa para descobrir, é sempre bom perceber que afinal não conhecemos tudo tudinho e que ainda se podem arranjar discos inesperados.
Que dizer de Mater Suspiria Vision / ℑ⊇≥◊≤⊆ℜ e o maxi Zombie Rave / First Flesh (2012)? Banalidades que o "Pop come-se a si mesmo"? Imaginem que nos finais da década passada inventou-se um género de música intitulado de Witch House, música de dança para Zombies, ou melhor para pessoas já muito cansadas da festa - como aquela lua no Vida, universo e tudo o mais (Douglas Adams) onde havia uma festa há 100 anos em que a orquestra já estava cansada e faltava circulação de sangue entre os foliões. Com imaginário posto no Giallo e filmes de horror (que foi transversal a Devendra Banhart como a mil bandas Stoners que se criaram em 2010) os produtores de Witch fizeram uma vampiração do Pop anos 80 ou até Eurodance dos anos 90 em rotações erradas - técnica inventada no Hip Hop pelo DJ Screw - ou melhor em rotações mais lentas com mais uns efeitos aqui e acolá. Screw entre um gole de codeína e uma mix-tape nunca sonhou que a sua técnica viria dar bastardos bracos como o Rape Gaze ou ainda Doomduro... Em breve o DJ Balli e a Chili Com Carne irão explicar tudo com um livro do caraças! Por aqui neste bootleg (?) ou, pelo menos, white label temos temas fornicados de Mike Oldfield, U96 (mein gott!), Animals (será? está mesmo esticado!!!) e Scooter (que merda!)... Como tudo na música, depende das drogas e o século XXI tem sido generosa em sintéticas para pessoal dopado da vida. Mais irónico é que se os temas já estão arrastados, ao serem editados em vinil para 45 rotações, nada impede de alongar ainda mais os temas para 33 rpm. E agora? Post-mortem cha-cha-cha?
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