Se há "masters" em entretenimento eles vivem quase todos nos EUA. Por mais repúdio que aquele continente-nação nos possa dar, infelizmente temos de engolir o facto que é lá que há argumentistas que nos fazem passar um bom bocado! É o caso desta bd, pré-publicada em formato "comic-book" (5 números em 2009) e mais tarde compilada em livro. Escrevo dele apenas porque participa o Camarada Coelho, com o qual já fiz algumas bds em conjunto e já participou no MdC.
Começamos pelos desenho ou melhor desenhos porque participam três ilustradores diferentes para episódios diferentes da "série". Zarcone cuida de uma bd de três hipsters suburbanos desesperados para sairem para Nova Iorque, cidade onde "as coisas acontecem". Forbes e Coelho cuidam da estória principal, o primeiro mais focado numa agência de modelos que serve de cobertura para uma agência de assassinas (ideia que lembra Glamorama de Breat Easton Ellis) em colisão com amadores de pornografia bizarra - dois putos que fodem tudo e um pivot que se veste de coala! Na realidade nem se percebe muito bem - sobretudo quando as personagens começam a colidir os seus percursos - porque Coelho ficou com aquele segmento ou Forbes com outro. Na realidade isto têm haver com razões pragmáticas de produção, pois até nos EUA a crise no sector da bd há muito que criou situações de "precariedade laboral". Ao que parece em formato "comic" a remuneração, mesmo na grande Image, é pouca (ou nenhuma?), e tal como tenho entretanto apresentado por aí, os modelos de produção podem passar por esta divisão de episódios desenhados por autores diferentes invés de toda a bd ser desenhada apenas um desenhador sobrecarregado e carenciado. Divide-se o mal pelas aldeias! Claro que o produto final poderá ter algum efeito nocivo. Acho o estilo de Forbes plástico, "photoshopado", totalmente artificial e relevador de um desenhador medíocre. E que realmente entra em colisão com as partes de Coelho, desenhador que consegue um compromisso entre o "realista" e "caricatural" (como Will Eisner idealizou para a bd), para além de como autor de bd, sabe elaborar páginas bem compostas de dinamismo / movimento / acção / velocidade - características típicas dos "comics" norte-americanos. Quanto a Zarcone, ainda a apalpar terreno entre Paul Poppe ou Adrian Tomine, não choca.
Ignorando as difrenças estílisticas do desenho, vamos ao que interessa: uma estória desvairada em ritmo de encontros e desencontros, enganos e coincidências que se vão formando num mundo obcecado por sexo desviante e aventura transmitida em banda larga. A parte de Zarcone é o contrário, nada se passa nos subúrbios excepto modorra. No final existe uma discoteca / festa, a "Forgetless" que servirá de cenário comum para os quatro vectores-personagens. Meio-estória-de-crime, meio-crítica-de-costumes, apesar de toda a fantasia urbana de modelos-assassinas-a-soldo é bastante convincente e divertido. E é isto que nós queremos de um "comic-book"...
Gracias Coelho pelo livro! E parabéns atrasados!
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