quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Banda sonora para Lisboa (neo-nazi mix)



The Ananda Shankar Experience and State of Bengal : Walking On (Realworld / Sony; 1999)

Tenho ouvido tanta gente a chamar de "monhé" ao Presidente António Costa, que por mais que ache que ele esteja a ser um pulha ao destruir as BLX e a Bedeteca de Lisboa (por ex.), ainda assim isso mete-me confusão e nojo que se queira humilhar alguém com tons racistas quando se pode chamar tanta tanta tanta tanta coisa como "grandacabrão" ou "borrego de merda". Caramba, por mais glamour que possa haver no calão norte-americano, o português pode ser mais diabólico!
Não sei porque escrevi o parágrafo anterior e o que isto tem haver com este CD comprado na Vandoma por 3 euros. De alguma forma esta música soa há algo ligado a esta nova falsidade de Lisboa (ruas pintadas de cor-de-rosa?) não viesse o álbum das produções da Real World, editora fundada por Peter Gabriel nos anos 90, dedicada à "world music", termo tonto que rejeitavam mas que ainda assim lhe davam um certo sentido plástico (acrílico?), limpinho e atinado na maior parte da música que editaram ou que editam.
Ananda Shakar (1942-1999) morreu logo a seguir à gravação deste disco que o juntou ao produtor State of Bengal (e aos seus recursos na música) num misto de música indiana com batidas electrónicas, sobretudo Hip Hop. Se há algo que o Hip Hop consegue fazer é juntar todo o tipo de música, seja ela Noise (ver o caso de Dälek) ou pirosismo World para bar de betos (Gotan Project, por ex.), por isso a união entre os dois artistas funciona. Não só dois mundos que se fundem aqui, a começar porque Shankar desde os 60 já era um embaixador da aproximação das músicas orientais e ocidentais - vale a pena ouvir a sua versão de Light My Fire dos Doors - mas também porque junta dois tempos, um do mundo antigo com um moderno e electrónico. No final, a misturada dá um "Funk com caril", e isto não é uma ofensa, muito antes pelo contrário, mas também é verdade que há um lado que soa a falso, fabricado, sem densidade e demasiado ocidentalizado. Há no disco uma vontade de encher o espaço todo com som, algumas batidas são a mais ou algumas baterias são desinteressantes, enfim, como Lisboa em 2014... É isso, que quer criar cosmopolitismos à força para turistas, espezinhando o cosmopolitismo que já existia mas que era feita à porta fechada e de forma orgánica. Não que este disco seja tão mau como isso mas Lisboa também não é tão boa como a querem vender...

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