terça-feira, 26 de agosto de 2014

Paulo Coimbra Martins : "Guimarães: 50 anos de pop/rock” (Cineclube de Guimarães; 2013)

 Eis um livro com muito bom aspecto sobre Pop/ Rock editado em Portugal, uma coisa rara!!! Depois de ficar embasbacado com o design do álbum (ou "coffee-table" como os cócós chamam-lhe agora este tipo de livros) revela-se uma desilusão. É na realidade um misto de "coisas boas" e "coisas más" que se mete depois numa balança e cai para baixo. Começamos por aonde? Pelas más, claro!

Tal como na BD - que tirando um período institucional entre 1996 e 2002 em que a Bedeteca de Lisboa editou uma série de livros e catálogos sobre a História da BD portuguesa - o Rock também sofre de reconhecimento como uma cultura com valores dignos e próprios. A BD e o Rock já há muito que ultrapassaram o cunho juvenil e popular das suas géneses, e como tal precisam de mais investigação e promoção para reavivar as obras realmente importantes das suas Histórias. Ambas ignoradas pelos centros culturais e institucionais, o conhecimento destas culturas só pode ser feito quase sempre por acervos privados de coleccionadores, excelentes pessoas que guardam tudo o que apanham mas por isso mesmo são incapazes de julgarem as obras para além o seu gosto e memórias afectivas e emocionais. Quando as obras que ultrapassam um certo período da história pessoal do indíviduo, ele acaba por ignorá-las e perde-se a orientação, se que havia desde início...

É o que acontece aqui, topa-se que o livro foi escrito por um "vanguarda" - que não se sabe muito bem o que é tirando que é um "anacronismo" de uma tribo urbana que se criou em Portugal para designar amantes de música Pop/Rock "alternativa" e "Dark". E o problema é que os vanguardas são caucasianos e eurocêntricos, o que estraga tudo! Quando o "vanguarda" Martins escreve sobre a História (resumida e assumida como tal) do Rock e Pop é de ficar admirado que ele refira a bandas medíocres como Little Nemo (uns Joy Division belgas) ou X-Mal Deutschland (umas gajas alemãs góticas), que acredito que ele seja doido por elas ao ponto de lhes dar mais importância do que referir a artistas negros quando sabemos que o Rock é negro até ao tutano. E o Pop também! É obra conseguir ignorar Goree Carter (talvez o primeiro músico do Rock), Chuck Berry, Little Richard - este último até é referido mas apenas porque usava pentados extravagantes quando creio que foram os Eagles of Death Metal que disseram que não havia Carcass se Richards  não se mexesse como uma bicha louca -, o som Motown e da Stax, James Brown e  Lee "Scratch" Perry ou qualquer jamaicano - e digam-me, por favor, uma música Pop dos últimos 30 anos que não use as técnicas de estúdio vindas da Jamaica! Aparecem umas fotografias e referências muito ao de leve a Jimi Hendrix, Massive Attack e Bad Brains e já gozam! Insinuar que o Martins seja racista seria uma estupidez mas pelo livro ficamos a saber que como coleccionador e melómano não tem tendências prá música "Black". Costuma-se dizer que "o gosto não se discute" e ninguém é obrigado a gostar de nenhum dos nomes de artistas negros aqui referidos mas o autor deveria estar aberto a tal quando escreve um artigo de contextualização mundial - para depois poder usar como lupa para a história portuguesa e de microscópio para o concelho de Guimarães. É um erro obtuso - e para mim, sendo africano, é obsceno - não assumir primeiro que a música vêm sempre de África... mas adiante!

A História do Rock português até vai bem mas a dada a altura o autor mete mais um foco estridente nas bandas nacionais góticas, de Metal, EBM e Industrial como se fossem a melhor coisa feita neste canto europeu - é claro que Buraka Som Sistema não faz parte deste universo e é ignorado! Mais exageros de um ponto de vista tendencioso e que tornam o livro duvidoso. É verdade que é necessário que se escreva uma História sobre estes (sub)géneros (e muitos outros) em Portugal mas não me parece que este fosse "o sítio" mais indicado para tal, ou pelo menos desta forma gratuíta.

O livro segue com um dicionário de bandas do concelho, em que vale tudo desde grupos de baile a DJs de Drum'n'Bass - como Phast Mike que só gravou um 10" para o zine/editora Garagem. Claro que não li todas as centenas de entradas, espero que tenha havido espaço para projectos Hip Hop ou Kuduro caso elas existiram ou existem por aquelas bandas já que pelos vistos que um DJ de D'n'B tem lugar nas entradas. A maior parte do livro é constituído por cerca de 40 entrevistas a músicos ou agentes musicais locais, e que precisava de um maior trabalho de edição dada a repetição de situações e queixumes comuns. Impossivel de ler todas as entrevistas devido a esse problema de repetição que se apanha rapidamente nas primeiras leituras de senhores respeitáveis (os Kings, das primeiras bandas de Rock do concelho e do país e que só gravaram neste milénio), metaleiros, "indíos" (Blue Orange Juice, lembram-se?) ou figuras pitorescas (o carismático o-metal-deu-cabo-de-mim Bino Chouriça). As entrevistas mais dinâmicas e interessantes são de não-músicos como Marco Martins (instigador cultural e "boss" da Garagem) ou Rosa Guimarães que foi uma das responsáveis pelo Movimento Jovem, evento que nos inícios dos 90 teve impacto nos músicos locais.

Como positivo, é isto mesmo que foi descrito anteriormente: temos uma enorme recolha quer em formato de dicionário quer em entrevista, das bandas e músicos de Guimarães, profissionais ou amadores, com discos gravados ou não... Um trabalho de sapa! Aquele "it's a dirty job but someone has to do it"!!! Se não fosse o "cromo" do Martins a fazer mais ninguém iria fazer e toda esta informação seria para sempre perdida. Neste sentido reforço o que disse no início, se não fossem os coleccionadores, a cultura do Rock não existiria em Portugal porque nenhuma instituição ou académico quer saber dela. Felizmente o livro é um marco para que essa informação não desapareça. Com ou sem discursos articulados, o que é importante é ter os registos dos "velhinhos" do Rock, ou dos novos e jovens, para se perceber como se usufruía a música noutras épocas, como funcionavam os modelos económicos (ou não), a vivência no meio (à partida conservador como se pode esperar de uma cidade minhota), os acontecimentos que marcaram as várias gerações de músicos, ouvintes e artistas. Trata-se de um documento com importância para o concelho para ter esses registos de identidade, e também para investigadores de música portuguesa poderem usar como fonte noutros trabalhos.

O que era perfeito era cada cidade ou concelho de Portugal tivesse um livro assim e não apenas quando há uma Capital da Cultura - o livro foi feito nesse âmbito acompanhado por um documentário. Neste livro fartam-se de chamar a atenção para os poderes locais investirem na música Pop/ Rock, alertando para os bons resultados facilmente comparáveis com a vizinha Braga.

À sua dimensão é uma espécie de tour de force para que Guimarães saia do marasmo quando tudo aponta haver lá tradição e talento. Desejo a maior sorte para tal mas desejaria mais ainda se houvessem niggas lá na cidade!

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Escif : El Vandalismo Ilustrado (Ajuntament de Vila-real / TEST; 2014)

Quando estive a primeira vez em Valência, durante a mítica turnê da Chili Com Carne, foi impossível não reparar nas paredes da cidade e encontrar pinturas de Escif. Caramba, aquela cidade está cheia delas e mais importante do que isso, topa-se o trabalho dele pelo seu estilo gráfico e pelo conteúdo.
Há muito que a "street art" passou a ser um engodo. Era uma "arte de rua" caracterizada por ser popular (feita por indivíduos sem pretensões artísticas) e marginal (era e é ilegal "sujar" paredes) e que nesta década passou a ser controlada pelo Estado e por companhias comerciais - as que a patrocinam como a usam para vender produtos. Serve na maior parte das vezes para tapar a vergonha que são os edifícios abandonados pela parvoíce capitalista (especulação imobiliária com conivência do poder local) ou para as cidades darem um ar de modernaças e cosmopolitas aos turistas. Vê-se como por exemplo, Lisboa usa esta "arte" dessas duas formas (como aquela merda inacreditável nas Escadinhas de S. Cristóvão) mas em Ponta Delgada, outro exemplo, só a usa para promover turismo tal como recebe lá um Campeonato de Surf qualquer...
O resultado seja como for é o mesmo de sempre: uma arte popular passa a ser feita por "profissionais" e só eles é que tem autorização para fazerem obras. E essas obras para serem aprovadas pelas instituições que pagam aos artistas (e os materiais) acabam por ser "cleans", politicamente inócuas, bem-comportadas e como quase toda a arte contemporânea vigente é "humorística". Pisca o olho ao público para que este pense que é inteligente quando só diz redundâncias ou promove a nostalgia. Pode ser um sapo gigante, os Descobrimentos (só a parte da Glória, nada daquela cena dos negreiros, ok?), um cravo do 25 de Abril e os mais afoitos até escrevem "a revolução qualquer coisa" para parecer que são agitadores do sistema. Uma bosta completa! Não bastava termos TV gigantes nas estradas, outdoors e tanta outra poluição visual e mental, como ainda temos de levar com estes engraçadinhos!
O caso muda de figura com o Escif, mesmo que eu tenha encontrado um catálogo do seu trabalho - comprei ao autor (era mesmo ele?) no último Tenderete - publicado por uma Câmara Municipal espanhola - de Vila-real... Para já o tipo sabe de pintura ou ilustração. É elegante, usa cores que não são histéricas, e o humor dele na realidade é uma mostra da tristeza em que vivemos que oferece mais revolta do que sorrisos. Se pode parecer um paradoxo defender este artista achando os outros uns vendidos, apesar de tudo, o trabalho de Escif é diferente porque não é "espectacular" por isso não fere o olho e a mente. É quase "decorativo", muitas vezes as suas pinturas adaptam-se ao pano de fundo, não o tenta alterar e impor a sua arte, ou seja, o trabalho é subtil e chama a atenção é pela mensagem e não pelas formas que nos ofendem os sentidos. Faz comentário social e político na rua invés de ser num jornal ou noutro mass-media, na essência trata do capitalismo selvagem que nos tem afectado nos últimos anos, desmontando a injustiça do sistema com uma simplicidade igual aos seus desenhos. Não há muitos "artistas de rua" assim, parece-me...

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Must not!

 

Must : Sado Maso Disco (Epic; 1978)

Se houvesse razão para não curtir Disco este 7" será a razão para tal. O título? 5 estrelas! A foto da capa e da contracapa (a tipa e o tipo a apertarem as mãos como "fim de negócio")? 5 estrelas! A música? Disco sem piada com um tipo a dizer "que gostas pouco gostas", uma tipa a gemer e antes disso uma chicotada! Querem mais? Não... não há mais! Disco a evitar!

XXXungaria



Prong : Power of the damn mixxxer (13th Planet; 2009)

Ainda os Rammstein andavam aprender a tocar instrumentos e já os Prong já tocavam "tanz metal" abrindo terreno para bandas que concentrariam electrónica, Hardcore, Industrial e Metal no mesmo saco ou então que viriam a gerar o Nu-Metal. Prong é Rock com Groove que fica mal num metaleiro ou num punk, azar para eles e para a banda que nunca teve assim um grande reconhecimento. Agora tão metidos com o gajo dos Ministry que consegue as bandas da sua editora a 1) fazer um álbum de remix a seguir ao último álbum oficial (como fazia N.I.N. ou Fear Factory nos anos 90) e 2) ter as capas de discos mais foleiras do mundo. O disco é uma banhada monumental, quem faz as "mixes" nem são grandes cromos da música electrónica mas mais malta conhecida do Rock (Pitchshifter, Anthrax, Dillinger Escape Plan)... é assim meio anacrónico mas funciona, convenhamos, os amaericanos quando é para mexer o cu sabem o que fazem. Os temas são quase todos transformados para Techno simples mas os malhões dos Riffs e voz enquadram-se bem nos beats. Temos festa! Só falta a Coca e as strippers para estarmos lá!

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Bestiário tem segunda edição...


ISTO é uma boa notícia! Em 2012 a Chili Com Carne e a Thisco editaram um novo livro do RUI EDUARDO PAES intitulado Bestiário Ilustríssimo - que inclui ilustrações pela Joana Pires. A "besta-remix" de cima é feito desses desenhos do livro e inspirou para fazer a nova capa da segunda edição! Ah! Serigrafias destas ilustrações estão para mostra e venda no site da CCC!