sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Zeichnungen Des Patienten O.T.

Texto prá newsletter da Flur no âmbito do lançamento do Breakdance do André Ruivo, no dia 8 de Dezembro.

Esta semana a grande má notícia é justamente esta, dois jornais de notícias vão deixar de existir. Não que tenha muita pena que o Sol e o I desapareçam, não eram lá grande espingarda mas dá no que pensar…

Realmente existe toda esta questão da desmaterialização da cultura, ora porque estamos a ficar habituados a encontrar todos os conteúdos na Web, ora porque por “novo-riquismo” acha-se melhor não ter objectos culturais amontoados nas estantes de casa para estarem todos enfiados num “i-qualquer-coisa” ou no disco rígido do computador. Esta atitude irá trazer mazelas no futuro (se é que já não está a acontecer agora!) porque sem objectos não há referências para a memória, sem memória a ignorância passa a ser o padrão comum. Por isso e antes de mais: viva a Flur e outras “discotecas” que ainda existem para termos nas mãos música… e livros!

Asger Jorn, artista do COBRA e do Situacionismo, escreveu algo curioso em 1962: When one sees the colossal spread of the modern strip cartoon, one wonders why newspapers do not formulate their news in the same way. Como já disse, os dois jornais referidos não eram lá muitos bons mas apostaram em “imagem”, sobretudo o I publicou informação em BD, ilustração e infografia e com isso conquistou algumas gerações perdidas consumidoras de jornais. Em contraponto, olhando para a edição dos 25 anos do Público, alarvemente afirma que os desenhos de Álvaro Siza são “BD e/ou flip-book” porque sim. Na fundação do Público, o seu director Vicente Jorge Silva trouxe muita BD para este periódico, será que foi por isso que ainda gostamos de pensar neste jornal como uma referência?

A verdade é que se os jornais e revistas cada vez vendem menos, parte da culpa é a falta de cultura visual dos seus responsáveis – directores e redacções. Na música já se percebeu que grafismo e discos têm de andar de mãos juntas mesmo que seja para boiar num bandcamp.

Portugal intitula-se um país de poetas mas seria bom mudar isto, seria mais interessante se fosse um país de “poetas gráficos” ou “poetas músicos” já agora.

Entre 2003 e 2010 fiz “tiras humorísticas” sobre discos e concertos. Foi com alguma resistência que consegui metê-las em algumas publicações nacionais – na Finlândia foi muito mais fácil, diga-se, além do que o director da publicação era espanhol! – até que desisti porque… também não sobraram muitas publicações em papel.

Algumas dessas tiras foram reeditadas no meu novo livro, Free Dub Metal Punk Hardcore Afro Techno Hip Hop Noise Electro Jazz Hauntology. Sei que sou um desenhador medíocre e só faço esta auto-publicidade desenvergonhada (desculpem lá!) não porque queira promover-me mas sim porque quero promover é esta ideia de retratar música em BD, e que é o desenho que vai salvar a imprensa portuguesa e o mercado fonográfico e tudo mais. Aliás, já há acólitos que acreditam piamente nesta ideia como é o caso do Tiago da Bernarda, topem lá as criticasfelinas.tumblr.com.

Sim, é isso que queria dizer, olhando prá miséria da imprensa nacional…

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