sábado, 28 de maio de 2016

Bons velhos novos tempos!



(...) 150 estivadores a frente do parlamento, disparando very lights, petardos, a bombar Xutos (a tal música censurada), gritando: "Sócrates escuta, és um filho da puta, vai pá puta que te pariu" de cara tapada e tronco nu, ou só de colete reflector dizendo nas costas "DON'T FUCK WITH THE STIVADORS!" (Junho 2010)

quarta-feira, 18 de maio de 2016

Joder! Es mas bueno que pensava!



Von Magnet : El Sexo Sur-realista (Dancetaria; 1987), El grito (auto-edição; 2007; orig. 1994), Electroflamenco (auto-edição; 2004)

O historiador Friedrich Heer no livro Mundo Medieval: A Europa de 1100 a 1350 diz que nesses tempos e neste continente as pessoas viajavam mais e havia mais intercâmbio de culturas do que no século XX. Ao que parece se houve realmente uma Europa tolerante foi no século XI e XII onde as religiões e nacionalidades não tinham o peso que começou a surgir no final dessa Era até aos dias de hoje, com a criação de pátrias e nações arrumadinhas a jeito e os cismas que vieram daí. Esta evocação de um mundo que era mais mestiço é-me sugerido pelos Von Magnet, grupo de artistas (músicos, visuais, bailarinos, multimedia) com uma cotação mítica e de culto. São nómadas como muitos europeus deveriam ser em 1100, acho que são franceses mas estiveram por Londres até aos anos 90 e depois vadiaram por aí como ciganos cyberpunks que são.

"Vadio" é um termo que lhes fica bem porque o seu "electroflamenco" não se compromete nem com categorias rígidas da música "world" nem da "electrónica". A fusão é total e perfeita, de tal forma que confunde os sentidos e funções das tais categorias originais. Estes discos deles não servem propriamente para dançar apesar do "electro" e do "flamengo", mostrando que a modernização de géneros tradicionais não passa por aberrações populares como os Gotan Project [falo neles por ser o mais mediático, em Portugal] que simplesmente metem umas batidas hip hop por cima do som tradicional e já está.

Aqui há Electrónica mas também há Amor. Se houver baile então ele será novo e diferente dos antigos bailaricos, um novo ritual cosmogónico, o que até faz sentido visto que o colectivo veio das cinzas da cultura Industrial que se ouve em algumas partes dos discos. Em 1987 já há IDM com Pop dramalhão, até uma pitada de Free Jazz, cinematografia, sangue na arena, chamas no bordel, palmas e castalholas a 98 bpm's, tusa e sapateado. Olé!

PS - para quem nunca tomou conta deles, bom é porque é surdo, a Thisco fartou-se de os editar por cá e até está o Phil Von (mentor da coisa) num Antibothis.

sexta-feira, 13 de maio de 2016

CIA info 83.9


Meti-me numa alhada e só 3 anos depois é que consegui resolvê-la... mas está feito! O novo livrinho é lançado no 13 de Maio de 2016 (bem sei, é a data das porcas beatas...) nos Encontros de Cinema de Viana do CasteloEra para se intitular É "a banda sonora da minha vida"! Ha ha ha ha (a sério!) mas não vai dar e mudou para Negative Born KillersÉ para a colecção O Filme da Minha Vida da Associação Ao Norte que lança o repto a autores portugueses de BD para criarem um mini-álbum inspirado num filme que tenha deixado marcas nas suas vidas. 

12 Maio / 14h30 - Auditório Carolino Ramos / Escola Secundária de Monserrate: exibição do filme Assassinos Natos de Oliver Stone (EUA, 1994, 119m)
13 Maio / 15h - Sede da Associação Ao Norte: inauguração da exposição Negative Born Killers, de Marcos Farrajota + lançamento do livro + encontro com o autor. 
A exposição estará patente até dia 8 de Julho.
14 Maio / 00h30 - Republica Caffe Bar (Praça da Erva): festa com o unDJ MMMNNNRRRG a tentar invocar a narrativa sonora criada por Trent Reznor para o Natural Born Killer mas sem as mesmas músicas. Porquê? Porque não tem os mesmos discos nem os diálogos do filme... Nesta divertida sessão haverá música de Nusrat Fateh Ali Khan, Diamanda Galas e Lard, será suficiente?

entretanto fica aqui o texto de apresentação de Pedro Moura para o livro: Music to kill by.

Em que medida é que é possível re-ouver um filme? Se o idiomatismo peculiar de José Duarte pode ser recuperado em novas ocasiões, a velha cassete que Marcos Farrajota tem no carro é o mecanismo que permite, apenas através da banda sonora do filme Natural Born Killers (real. Oliver Stone, 1994), revisitar o filme, sem ter de passar sequer pela trilha visual real. A banda sonora, como é explicada no livro, é feita das mais díspares canções, montadas numa frenética colagem pelo músico e produtor Trent Reznor, com troços dos diálogos e sons do próprio filme, criando assim uma textura caótica que permite essa revisitação, ou reminiscência, se bem que não seja cumprida da forma mais normalizada. Não há aqui nenhuma adaptação.

O road movie transforma-se assim numa oportunidade para o autor, no interior da sua própria e menor road trip, tecer comentários sobre a música que compõe a banda sonora do filme. Repórter em banda desenhada, e com uma atenção particular para com um mundo da música que as mais das vezes anda arreigado dos meios de comunicação social, quase exclusivamente focados num tom jubilatório da cultura de massas mais empedernida e/ou suportada por grandes interesses mediático-capitalistas, Marcos Farrajota acaba por criar pequenos mapas alternativos da cultura no nosso burgo. Esta é então uma oportunidade para criar um discurso totalmente livre de forma ou de organização programática para nos devolver os próprios processos do pensamento, da memória e do trabalho a que se entrega.

O autor, de facto, também partilha connosco de forma explícita os obstáculos que atravessa no burilar da sua história quer a nível dos instrumentos expressivos quer nos da memória. As confissões (do erro sobre o rosto de um actor, da utilização de um CD novo), o semi-arrependimento a meio do percurso, enfim, a “alhada” em que se mete, não é mais do que o grande sinal de que estamos num território que não pretende de forma alguma assumir-se como definitivo. Há em todo esse percurso que abraça a deselegância de forma directa um posicionamento claro na estética pós-punk, em que é a expressão a rainha. Formalmente, a presença dos traços materiais do papel usado para desenhar, as colagens de material das cassetes, fotos, e a própria composição – entre o regrada e bem-comportada e a concatenação ou empilhamento de materiais -, são apenas confirmações disso.

Com a distância que as décadas permitem, podemos olhar para Natural Born Killers em enquadramentos mais alargados. Se numa primeira instância conseguimos perceber onde estão as assinaturas de Oliver Stone, olhando para o filme como uma reflexão sobre a América e certas das suas obsessões menos saudáveis, ou os estranhos paradoxos da civilização ocidental, também é possível compreender quais são os sinais que se mantiveram de Quentin Tarantino (que escrevera a primeira versão do argumento): uma certa glorificação da violência e a manipulação das emoções em torno delas, através de diálogos banais nos momentos mais dramáticos, numa sólida história de amor invencível no meio das maiores tempestades morais em torno. Até certo ponto, o filme tem aspectos algo datados, como a estrutura pluri-material dos média visitados, e que a banda sonora escolhida como objecto de análise de Farrajota tão bem espelha. É provável que este último verbo talvez não seja apropriado já que tudo se estilhaça…

Mas esse frenesim é expectável, em que géneros e estilos aparentemente contraditórios, não-reconciliáveis, se encontram no mesmo palco (no mesmo guarda-luvas)… De novo, o signo da colagem está aí presente. E esta não deseja de forma alguma providenciar com uma lisura que explicasse tudo ou resumisse e subsumisse as coisas a uma “razão de ser”. Bem pelo contrário, quer mesmo que as contradições sejam visíveis, e a falta de suavidade sentida ao longo da leitura. Mortífero ou em final feliz, Farrajota terá chegado ao seu destino.


FEEDBACK:

li o livro. o texto do Pedro Moura é uma merda. funciona(ria) bem como review/post, mas não presta para prefácio (ou lá o que é) do livro. a incluir um texto, deveria ser algo a rasgar a sério e não algo previsível e auto-explicativo, com pérolas do género: posicionamento claro na estética pós-punk, em que é a expressão a rainha; idiomatismo peculiar de José Duarte recuperado...!!! Foda-se, quem se lembra de escrever isto para uma cena do Farrajota??! O que tinha valido a pena, era ter aproveitado as páginas iniciais (e já agora, também a página da sinopse curricular) - e ter dado mais amplitude ao livro/ filme. Ficávamos todos a ganhar. A.Silva (via e-mail)
Já me fartei de rir a ler o teu livro. Desde cenas em que eu podia visualizar com perfeição que se passava no filme, a momentos de "a merda desta música, não me lembro do que se passa aqui" muito fixe ;) A.Rechena (via e-mail)