Meti-me numa alhada e só 3 anos depois é que consegui resolvê-la... mas está feito! O novo livrinho é lançado no 13 de Maio de 2016 (bem sei, é a data das porcas beatas...) nos Encontros de Cinema de Viana do Castelo. Era para se intitular É "a banda sonora da minha vida"! Ha ha ha ha (a sério!) mas não vai dar e mudou para Negative Born Killers! É para a colecção O Filme da Minha Vida da Associação Ao Norte que lança o repto a autores portugueses de BD para criarem um mini-álbum inspirado num filme que tenha deixado marcas nas suas vidas.
12 Maio / 14h30 - Auditório Carolino Ramos / Escola Secundária de Monserrate: exibição do filme Assassinos Natos de Oliver Stone (EUA, 1994, 119m)
13 Maio / 15h - Sede da Associação Ao Norte: inauguração da exposição Negative Born Killers, de Marcos Farrajota + lançamento do livro + encontro com o autor.
A exposição estará patente até dia 8 de Julho.
14 Maio / 00h30 - Republica Caffe Bar (Praça da Erva): festa com o unDJ MMMNNNRRRG a tentar invocar a narrativa sonora criada por Trent Reznor para o Natural Born Killer mas sem as mesmas músicas. Porquê? Porque não tem os mesmos discos nem os diálogos do filme... Nesta divertida sessão haverá música de Nusrat Fateh Ali Khan, Diamanda Galas e Lard, será suficiente?
entretanto fica aqui o texto de apresentação de Pedro Moura para o livro: Music to kill by.
Em que medida é
que é possível re-ouver um filme? Se
o idiomatismo peculiar de José Duarte pode ser recuperado em novas ocasiões, a
velha cassete que Marcos Farrajota tem no carro é o mecanismo que permite,
apenas através da banda sonora do filme Natural
Born Killers (real. Oliver Stone, 1994), revisitar o filme, sem ter de
passar sequer pela trilha visual real. A banda sonora, como é explicada no livro, é feita das mais díspares canções, montadas numa frenética colagem pelo
músico e produtor Trent Reznor, com troços dos diálogos e sons do próprio
filme, criando assim uma textura caótica que permite essa revisitação, ou
reminiscência, se bem que não seja cumprida da forma mais normalizada. Não há aqui nenhuma adaptação.
O road movie transforma-se assim numa
oportunidade para o autor, no interior da sua própria e menor road trip, tecer comentários sobre a
música que compõe a banda sonora do filme. Repórter em banda desenhada, e com
uma atenção particular para com um mundo da música que as mais das vezes anda
arreigado dos meios de comunicação social, quase exclusivamente focados num tom
jubilatório da cultura de massas mais empedernida e/ou suportada por grandes
interesses mediático-capitalistas, Marcos Farrajota acaba por criar pequenos
mapas alternativos da cultura no nosso burgo. Esta é então uma oportunidade
para criar um discurso totalmente livre de forma ou de organização programática
para nos devolver os próprios processos do pensamento, da memória e do trabalho
a que se entrega.
O autor, de
facto, também partilha connosco de forma explícita os obstáculos que atravessa
no burilar da sua história quer a nível dos instrumentos expressivos quer nos
da memória. As confissões (do erro sobre o rosto de um actor, da utilização de
um CD novo), o semi-arrependimento a meio do percurso, enfim, a “alhada” em que
se mete, não é mais do que o grande sinal de que estamos num território que não
pretende de forma alguma assumir-se como definitivo. Há em todo esse percurso
que abraça a deselegância de forma directa um posicionamento claro na estética
pós-punk, em que é a expressão a rainha. Formalmente, a presença dos traços
materiais do papel usado para desenhar, as colagens de material das cassetes, fotos,
e a própria composição – entre o regrada e bem-comportada e a concatenação ou
empilhamento de materiais -, são apenas confirmações disso.
Com a distância
que as décadas permitem, podemos olhar para Natural Born Killers em enquadramentos mais alargados. Se numa primeira instância conseguimos perceber onde estão as assinaturas de Oliver Stone, olhando para o
filme como uma reflexão sobre a América e certas das suas obsessões menos
saudáveis, ou os estranhos paradoxos da civilização ocidental, também é
possível compreender quais são os sinais que se mantiveram de Quentin Tarantino
(que escrevera a primeira versão do argumento): uma certa glorificação da
violência e a manipulação das emoções em torno delas, através de diálogos
banais nos momentos mais dramáticos, numa sólida história de amor invencível no
meio das maiores tempestades morais em torno. Até certo ponto, o filme tem
aspectos algo datados, como a estrutura pluri-material dos média visitados, e que
a banda sonora escolhida como objecto de análise de Farrajota tão bem espelha. É
provável que este último verbo talvez não seja apropriado já que tudo se
estilhaça…
Mas esse frenesim é expectável, em que géneros e estilos aparentemente
contraditórios, não-reconciliáveis, se encontram no mesmo palco (no mesmo
guarda-luvas)… De novo, o signo da colagem está aí presente. E esta não deseja
de forma alguma providenciar com uma lisura que explicasse tudo ou resumisse e
subsumisse as coisas a uma “razão de ser”. Bem pelo contrário, quer mesmo que
as contradições sejam visíveis, e a falta de suavidade sentida ao longo da
leitura. Mortífero ou em final feliz, Farrajota terá chegado ao seu destino.
FEEDBACK:
li o livro. o texto do Pedro Moura é uma merda. funciona(ria) bem como review/post, mas não presta para prefácio (ou lá o que é) do livro. a incluir um texto, deveria ser algo a rasgar a sério e não algo previsível e auto-explicativo, com pérolas do género: posicionamento claro na estética pós-punk, em que é a expressão a rainha; idiomatismo peculiar de José Duarte recuperado...!!! Foda-se, quem se lembra de escrever isto para uma cena do Farrajota??! O que tinha valido a pena, era ter aproveitado as páginas iniciais (e já agora, também a página da sinopse curricular) - e ter dado mais amplitude ao livro/ filme. Ficávamos todos a ganhar. A.Silva (via e-mail)
Já me fartei de rir a ler o teu livro. Desde cenas em que eu podia visualizar com perfeição que se passava no filme, a momentos de "a merda desta música, não me lembro do que se passa aqui" muito fixe ;) A.Rechena (via e-mail)
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