quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

Simon Spence : "The Stones Roses - War and Peace" (Penguin; 2013)

Bloody soap opera! É a forma mais simples de resumir este livro. Ou ainda se poderia dizer que esta é a história da melhor banda Pop dos finais dos anos 80 que assinou o pior contrato de sempre - até incentivaram a isso, tão convencidos que eram. Não deixa de ser fascinante a história desta banda e como estava sempre a dar um passo prá frente e dois para trás. Como trabalho jornalístico parece estar bem feito, sem histerias típicas da Britpop e os seus periódicos, levando a narrativa com justiça desta cambada de "lads" estoicos - imagino como será sobre os Happy Mondays que Spence escreveu posteriormente.
De resto é burrice, egos, curte de vida Rock'n'Roll, dinheiro ou dívidas a mais, fracassos e sucessos - aliás, é uma banda que produziu pouco mas tudo o que fez foi sempre para os Tops de vendas, mesmo quando se tratavam de reedições décadas depois, poucas poderão ter este estatuto.
Dois cenas curiosas que este livro mostra, os grandes números da indústria do Pop britânico comparados com os dos EUA são "peanuts" e é incrível a quantidade de palavras gastas por Spence para descrever as roupas dos elementos da banda cena a cena. Uma biografia da Lady Gaga será tão diferente como esta? Talvez não...

terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

Punks perdidos no tempo e no espaço...

Montes de discos nas últimas semanas (cóf cóf) e sem paciência para dizer muito sobre eles. Não que sejam discos maus, se calhar até muito antes pelo contrário, só ando pouco inspirado para escrever sobre música nas últimas semanas (cóf cóf), especialmente depois de ler os livros do Ian F. Svenonius. Tudo parece fítul depois de ler os seus ensaios marxistas sobre o Pop / Rock.

O álbum homónimo dos Lost Sounds - o sexto deles? ou o quarto de originais? - tem uma capa patética e horrorosa mas felizmente o som é fixe. Punk Rock com sintetizadores e muito groove como só os norte-americanos sabem fazer, afinal foram eles a inventar o Rock. Editado pela importante In the Red Records. Obrigado ao boss Daniel Dias pelo disco e mostrar que o rock não morreu! Mas espera lá, este disco é de dois mil... e... quatro!


Mais para trás, o segundo (?) disco dos Logical Nonsense, Soul Pollution de 1995 - reeditado em 1997 pela Alternative Tentacles. É Hardcore, Crossover e Crust ou algo no meio. Som potente. Menos interessante que o álbum seguinte Expand the hive. Chequem estes gajos, é daquelas bandas que ninguém quer saber mas que são chapada na cara. O CD foi adquirido na loja Megastore by Largo que agora tem uma enorme variedade de discos Punk & filhos.




Daí que aproveitei e fui ao passado ouvir coisas que ou me passaram ao lado ou que ouvi de raspão em k7s de amigos nos anos 90. Como por exemplo os Mucky Pup, uns Hardcores metalizados que sempre serão recordados como uns brincalhões. Daquelas bandas meio palhaças. Certo! Quase soa a Anthrax, têm trejeitos - basta ouvir Someday - mas o que impressiona depois de 30 anos de A boy in a man's world (Torrid / Roadrunner; 1989) é o à vontade da banda em que não só arrota as suas postas de pescada mas sobretudo saltitam de sons sem haver uma repetição exaustiva de um género ou sub-género. Neste novo milénio, tudo o que é do espectro de Rock Pesado é uma chachada em loop, como se fazer uma faixa dedicada aos três porquinhos fosse denegrir a imagem de uma banda porque ela tem de ser séria e profissional. Interessante como o mundo mudou para um mundo de covardes com medo das aparências. Longe de ser uma obra-prima, é apenas um disco divertido de se ouvir na esperança de descobrir a Fonte da Juventude.

Outro de 1989 é Metal Devil Cokes (R Radical) dos MDC ou Millions Of Dead Cops ou Millions Of Damn Christians ou Millions Of Dead Children ou Millions Of Deceived Citizens ou Multi Death Corporations ou Mesinha de Cabeceira (not!). Banda punk norte-americana "engajada" politicamente - das primeiras no punk dos EUA? - na defesa dos direitos dos animais, vegetarianismo, causa queer, anti-capitalismo, anti-consumismo,... Lembrava-me de algo desagradável na banda e claro, é a parte "folk" deles. Não deixa de ser surpreendente eles fazerem, especialmente deveria ter sido duro nos concertos cheios de rapazolas suados a vomitarem testosterona apanhar com momentos mais... cantantes e menos "mosheiros". Curioso ainda assim, lembra coisas muito lá para trás.

Por fim, dois bons discos que se destacam no meio desta punkalhada:



Kylesa é mais Sludge que outra coisa - mas Time will fuse it's worth (Prosthetic; 2006) foi mais tarde reeditado pela Alternative Tentacles - com duas baterias. Isto simplifica a banda, porque falta dizer que são estaladão! Um bocado repetitivo e arrastante  (caramba, é Sludge!) mas capazes de ir buscar mais um som ou outro aqui e acolá como a Intro e Outro por exemplo tem tribalismo, pena ser só no inicio e fim do disco, ou um piano num dos temas. Fiquei fã, ei-de de procurar mais discos. Nada mau, confirma que os últimos bons discos foram quase todos gravados em 2006!
Oops! Wrong Stereotype é uma típica colectânea da Alternative Tentacles, com uma capa de Windsor Smith as bandas do momento. Neste caso em 1988 bombava NoMeansNo (que velocidade!), Alice Donut (adoro um disco deles, o que está aqui parece-me fora do que estava habituado mas contam uma história violenta que "only in America"), os industrialitas Beatnigs entre outros e claro o chefe da editora Jello Biafra com um excerto de um "spoken word" seu. De referir, facto que desconhecia, que Biafra começou a fazer "spoken words" porque achava mais emocionante confrontar o público com os seus textos políticos do que ir com uma banda repetir as mesmas lenga-lengas de sempre. Curioso, perigoso e audaz! Agora percebo tudo!

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

P/B



Duas bandas míticas da cena EBM / Industrial. Um disco de merda e outro bom. Os Nitzer Ebb pode ter um dos melhores temas de dança de sempre (Getting Closer, de 1990) mas nem tudo o que fizeram era bom - os Front 242 passavam-lhes à frente - e ainda menos quando é um regresso de envelhecidos. Industrial complex (Major; 2010) é tão óbvio onde querem chegar que nem dá vontade de partir. Pior ainda é o CD extra de remisturas, perfeitamente redundante e anacrónico. A evitar. É terrível quando estas cenas acontecem. Já os Skinny Puppy nunca deixaram isto acontecer, hanDover (Synthetic Symphony / SPV; 2011) obriga a ouvir várias vezes à procura de novas leituras e desnortes sonoros. Sons de máquinas levados à procura de Humanidade e humanos a tentarem ser nano-insectos-robots, em que há lugar para drama teeny-boper, foleirada Dark e dança adulta. É o terceiro álbum quando os membros da banda voltaram a dar as mãos (ó capa tosca! nem parece da banda que é) e nem que passe 40 anos nunca nunca nunca irão desiludir!

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

EVROPSKO NASLEĐE U SAVREMENOM AUTORSKOM STRIPU I ILUSTRACIJI


Fiz uma BD para o Festival Nova na Sérvia, como sempre através do amigo Aleksandar Zograf
É sobre os fascistas do Pingo Doce e a Herança Europeia. 

Foi no ano passado
+ informações da exposição AQUI!

O catálogo chegou todo em papa e bem encharcado - coincidência máxima, as únicas páginas que consegui abrir deste bloco de celulose foi na minha (ena!) e do do Zograf (a sério!), há magia ou quê? Espero por outro exemplar e ficam imagens da cena...








Textos a acompanhar o catálogo

Europe have this perverse idealist image that "we" are better than “Amerikkka”. That we're more educated with a superior humanistic heritage but… just try to draw Tintin without permission and you’ll see what will happen to you. Or doing a reinterpretation of Maus – remember how Flammarion obliged the destruction of the Katz book by Ilan Manouach and 5éme Couche? No, my friends, Europe is rotten to the core with a disgusting corporative culture. This comix is a small slice-of-life, a simple observation of another person working in a big company that it’s shaping his life. 

Marcos Farrajota (1973) works in Lisbon Comics Library and is founder of Mesinha de Cabeceira zine (27 issues), Chili Com Carne association and MMMNNNRRRG label. He’s also a comics author with nine books out, four as complete autobiographical author, other as fiction writer with João Fazenda and Pepedelrey. International bibliography includes comix and articles in zines, newspapers and books like Stereoscomics Special SPX (France), Milk+Wodka (Switzerland), Prego and Pindura (Brazil), White Buffalo Gazette (USA), Free! Magazine and Kuti (Finland), Stripburger (Slovenia), La Guia del Comic (Spain), Inguine Mah!gazine, Komikazen - Cartografia dell'Europa a fumetti, Crack On and Quadradinhos : Sguardi sul Fumetto Portoghese (Italy), Kuš! (Latvia), Metakatz (5éme Couche, Belgium), No Borders (Alt Com), Sekvenser and Bild & Bubbla (Sweden) and Skulptura? (Cultural Center of Pancevo).

O catálogo ensopado:



E ontem recebi os catálogos como deve ser, ufa!

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

Bob Dylan : "Crónicas - volume 1" (Ulisseia; 2005)

Os poucos livros sobre música editados em Portugal são algumas letras de músicos ou as suas biografias. Esta é uma delas da controversa figura de Bob Dylan, que apresenta uma série de "crónicas" ou memórias soltas escritas de forma não-linear, da mesma forma como a sua figura e música também não são lineares de todo. Livro bem escrito e tal, não deixa de me fazer sentir que poderia estar a ler o Mein Kampf ou a biografia de um jogador da bola. Há um "eu" tão grande como o iate dele que se quebrou nos anos 80. Ian Svenonius no The Psychic Soviet (Drag City; 2006) diz que o Dylan foi um traidor na luta de classes quando electrificou a guitarras para tocar Folk e faz sentido, o individualismo gringo intrínseco dele é/foi o que fez dele o maior da sua geração. Não é um gajo que possa cheirar o chulé dos outros. Por mim, não será depois de ler este livro que irei ouvir as suas musiquinhas. E além disso, prefiro o Leonard Cohen...