Os Pop Dell Arte era uma banda que apreciava deste jovem. Passei meses quanto tinha 20 e tal anos, na primeira metade dos anos 90, a ir todos os meses à Barraca, Lisboa (um esforço suburbano de vir de Cascais prá "grande cidade") para tentar vê-los, sempre cancelados e sem explicações. Depois até surgiu o Sex Symbol (Polygram; 1995) que era fixe, e talvez por terem sido apostados por uma grande editora foram obrigados a irem para a estrada e vi-os, finalmente, no Paredes de Coura no seu último ano antes de se começar a pagar por festivais de Verão. Fiquei satisfeito, percebi que com o Sex Symbol a banda nunca mais seria tão extravagante como antes, com mais letras em inglês e com menos loucura sónica. Tudo bem...
Oiço anos mais tarde o tenebroso So Godnight (Candy Factory; 2002) e cago neles, que safoda que o Contra Mundum (Presente; 2010) tenha saído - agora arrependo-me porque o ouvi no Youtube e achei-o bom. Dez anos depois aparece este Transgresio Global tão merdoso como o EP de 2002. Não dá para não usar palavrões nesta resenha, desculpem. Há três anos, vi-os no Milhões de Festa e antecipava-se a seca deste álbum. Quatro pessoas vestidas de preto, num formato Rock convencional a debitarem músicas sem rasgo.
Esta banda sempre foi feita por quem lá passou, pela sua soma e não apenas pela figura de João Peste. Basta lembrar os contributos de Rafael Toral e Sei Miguel para sabermos o que foram os hinos memoráveis da banda. Se no começo deste disco, Em Creta, a promessa de algo tão brilhante como a capa do disco nos irá ser oferecido, graças, a um House-Funk mutante, tudo descamba logo a seguir, nem quando se rapina uma letra dos Sparks. Quase nunca mais aparecem híbridos estranhos que sempre foram apanágio da banda e que lhes elevavam ao Panteão do Art Pop.
O disco prolonga-se em 78 dolorosos minutos, um erro digno de 2000-e-troca -o-passo quando as bandas enchiam chouriços nos 80MB dos CDs, ainda por cima, percebendo que poderiam ter havido dois discos diferentes porque houve duas sessões de gravação, não há razão para o pesado anacronismo. Por falar nisso, se as vocalizações dramáticas e erráticas de Peste nos anos 80 ou 90 eram provocantes, nesta altura do campeonato metem constrangimento apenas, tal como as suas referências literárias e musicais nas letras como se não houvesse mais nada depois de Kahlo, Satre ou Foucault, ou - bocejo - Rotten, Marley, Bolan ou até Mick Harvey - o único gajo vivo da pandilha de heróis de Peste, credo! Estamos na web.2, meu, os putos sabem mais do que os macacos anteriores, não precisam de cartilhas. Claro, que nunca é mau relembrar, para os mais novos e amnésicos, que Portugal teve um facho como Pedro Passos Coelho ainda há poucos anos a governar-nos (que dizer do "Bosta" de hoje e a sua aplicação afasta-covid-big-brother-nazi-state) mas ouvir o tema Anonimous, composto originalmente entre 2013 e 2015 - inédito portanto - em 2020 é como sonhar que um dia o Coelho será chicoteado na praça pública depois da Revolução. Onde está a urgência Punk? Na latrina da sala de ensaios, pelos visto. Revolução essa que os Pop Dell Arte não contribuíram em nada nem que seja pelo simples facto deste disco ter saído pela multinacional Sony com guita da máfia da SPA.
Com décadas de rumor em que Peste iria morrer prá semana, pela sua conhecida toxicodependência, levando sempre a criar alguma ansiedade entre os seus fãs,... bom..., olha, já fui! Por mim, ele morreu aqui. Aliás, mea culpa, se escrevi o que escrevi com a morte do "Barbosa", sei que foi uma boa tentativa vir aos Pop Dell'Arte à procura de um "sonho Pop" mas foi um erro.