sexta-feira, 16 de outubro de 2020

Funeral Pop

 


Os Pop Dell Arte era uma banda que apreciava deste jovem. Passei meses quanto tinha 20 e tal anos, na primeira metade dos anos 90, a ir todos os meses à Barraca, Lisboa (um esforço suburbano de vir de Cascais prá "grande cidade") para tentar vê-los, sempre cancelados e sem explicações. Depois até surgiu o Sex Symbol (Polygram; 1995) que era fixe, e talvez por terem sido apostados por uma grande editora foram obrigados a irem para a estrada e vi-os, finalmente, no Paredes de Coura no seu último ano antes de se começar a pagar por festivais de Verão. Fiquei satisfeito, percebi que com o Sex Symbol a banda nunca mais seria tão extravagante como antes, com mais letras em inglês e com menos loucura sónica. Tudo bem...

Oiço anos mais tarde o tenebroso So Godnight (Candy Factory; 2002) e cago neles, que safoda que o Contra Mundum (Presente; 2010) tenha saído - agora arrependo-me porque o ouvi no Youtube e achei-o bom. Dez anos depois aparece este Transgresio Global tão merdoso como o EP de 2002. Não dá para não usar palavrões nesta resenha, desculpem. Há três anos, vi-os no Milhões de Festa e antecipava-se a seca deste álbum. Quatro pessoas vestidas de preto, num formato Rock convencional a debitarem músicas sem rasgo. 

Esta banda sempre foi feita por quem lá passou, pela sua soma e não apenas pela figura de João Peste. Basta lembrar os contributos de Rafael Toral e Sei Miguel para sabermos o que foram os hinos memoráveis da banda. Se no começo deste disco, Em Creta, a promessa de algo tão brilhante como a capa do disco nos irá ser oferecido, graças, a um House-Funk mutante, tudo descamba logo a seguir, nem quando se rapina uma letra dos Sparks. Quase nunca mais aparecem híbridos estranhos que sempre foram apanágio da banda e que lhes elevavam ao Panteão do Art Pop. 

O disco prolonga-se em 78 dolorosos minutos, um erro digno de 2000-e-troca -o-passo quando as bandas enchiam chouriços nos 80MB dos CDs, ainda por cima, percebendo que poderiam ter havido dois discos diferentes porque houve duas sessões de gravação, não há razão para o pesado anacronismo. Por falar nisso, se as vocalizações dramáticas e erráticas de Peste nos anos 80 ou 90 eram provocantes, nesta altura do campeonato metem constrangimento apenas, tal como as suas referências literárias e musicais nas letras como se não houvesse mais nada depois de Kahlo, Satre ou Foucault, ou - bocejo - Rotten, Marley, Bolan ou até Mick Harvey - o único gajo vivo da pandilha de heróis de Peste, credo! Estamos na web.2, meu, os putos sabem mais do que os macacos anteriores, não precisam de cartilhas. Claro, que nunca é mau relembrar, para os mais novos e amnésicos, que Portugal teve um facho como Pedro Passos Coelho ainda há poucos anos a governar-nos (que dizer do "Bosta" de hoje e a sua aplicação afasta-covid-big-brother-nazi-state) mas ouvir o tema Anonimous, composto originalmente entre 2013 e 2015 - inédito portanto - em 2020 é como sonhar que um dia o Coelho será chicoteado na praça pública depois da Revolução. Onde está a urgência Punk? Na latrina da sala de ensaios, pelos visto. Revolução essa que os Pop Dell Arte não contribuíram em nada nem que seja pelo simples facto deste disco ter saído pela multinacional Sony com guita da máfia da SPA.

Com décadas de rumor em que Peste iria morrer prá semana, pela sua conhecida toxicodependência, levando sempre a criar alguma ansiedade entre os seus fãs,... bom..., olha, já fui! Por mim, ele morreu aqui. Aliás, mea culpa, se escrevi o que escrevi com a morte do "Barbosa", sei que foi uma boa tentativa vir aos Pop Dell'Arte à procura de um "sonho Pop" mas foi um erro.

quarta-feira, 14 de outubro de 2020

Feito!

Quando os KMFDM lançaram WWIII acho que escrevi algo na Underworld - Entulho Informativo que estes industrialitas eram como os Ramones (ou Mötorhead), ou seja nunca mudam de disco para disco mas sem que isso seja propriamente mau ou uma desilusão. Assim vamos lá ver se tá cá tudo neste seu 15º álbum: batidas EBM, coros singa-a-long prá Revolução, voz dramática masculina, voz feminina tipo Ídolos, guitarradas Hard Rock, sintetizadores em fúria, música com auto-referência, Dub escondido, capa do Brute!, uma malha em alemão, sensação de ser uma b.s.o. para videojogo e é isso, temos o Tohuvabohu (Metropolis; 2007). Ok, há também uma malha em latim, não entra o Pig neste disco e há uma boa versão de Los Niños del Parque dos Liaisons Dangereuses.

segunda-feira, 12 de outubro de 2020

Puxa carroça

 Bhangra Beatz... A Naxos World collection (Naxos World; 2002) é um belo de disco para qualquer festa que se preze, com máscara ou turbante ou como viemos ao mundo. Som indiano que ganhou, nos anos 80 e 90, novo fôlego com a geração de emigrantes em Inglaterra a adaptarem técnicas de Hip Hop e Techno aos sons tradicionais, voltando prá India com essas novas roupagens e influenciando a indústria musical - ligada ao cinema. Eis uma colectânea que mexe com o corpo mas talvez um bocado com o cérebro - ao que parece "Bhangra" quer dizer cânhamo, cóf cóf cóf - como acontece com a faixa Soundz of the Des de Balbir Bittu verdadeira força musical que não deixa ninguém indiferente. Só por esta malha vale por tudo o resto. Mêne, onde se pode por som mas sem apanhar covid em 2020? Queria meter isto à prova!

Já agora, de referir que este CD foi adquirido no Bazar Esquisito, o último verdadeiro sítio do "Porto-Morto."

quarta-feira, 7 de outubro de 2020

Para esquecer...



Admito não ter muitos critérios de gosto (melhor ainda, "de bom-gosto""!) em relação a música africana ou de origem africana, a música popular e Pop em bruto é sempre bem-vinda, no entanto não consegui engolir estes CDs não sei bem porquê. No caso dos Gaita'L Funana e o seu Funaná É Sabi (AfriKana; 1999) é sobretudo a voz feminina que parece-me forçada e que se sobrepõe ao resto, não chega a ser histérico mas acaba por ser irritante. Já Guents dy Rincon (2010) também é a voz o elemento dissuasor, desta vez é masculina e muito carregada, algo se perde com os excessos de esforços. 

Os discos podem ser mauzinhos mas como foram comprados aos sem-abrigo do Largo de S. Domingos sempre serviram para qualquer coisa.