domingo, 9 de janeiro de 2022

As minhas ancas são árabes




O álbum de estreia dos Fun-Da-Mental começa suave. Alto! O primeiro CD tem como "intro" a gravação de um neo-nazi a cuspir ódio racial e político ao telefone, na "intro" do segundo CD há um político (?) a ser entrevistado que até defensor dos direitos dos animais e vegetariano que não tem nenhuma empatia pelo facto de vender armas e consequente trazer sofrimento às pessoas do "terceiro mundo" - ele responde que não, traçando um pensamento Ocidental que o resto da população do mundo é sub-humana. 

Se Seize the time (Nation; 1994) mexe para uma pista de dança, tal como um ano antes os Trans-Global Underground já tinham dado o mote (ou hype - já havia outras cenas antes) com a fusão da "world music" (ó termo desgraçado!) e a electrónica de dança, Fun-Da-Mental é a outra face da mesma moeda. Essa face é fodida, cheia de Rap contestatário - apelidos de "Public Enemy asiáticos" tal era a imaginação da imprensa dos anos 90 - e mensagens políticas para os emigrantes ou jovens de segunda geração da Inglaterra. As batidas Hip Hop ou Techno com Bollywood e arabescos contagiam o corpinho enquanto a alminha enche-se de consciência social, assim para gente simpática e com intenções de paz & amor.

A pintura fica estragada com o Erotic Terrorism (Nation; 1998) - verdadeiro segundo disco da banda? Uma vez que With Intent To Pervert The Cause Of Injustice! é uma versão instrumental melhorada / aumentada do Seize... O interior do livro não deixa dúvidas que isto já não é uma peça "chic-freak" para "normies" pois está cheia de fotografias de cadáveres com a Declaração Universal dos Direitos Humanos impressa por cima deste holocausto global. Começa com um drum'n'bass devedor aos Asian Dub Foudation - aliás todas estas bandas aqui referidas estão na mesma casa fonográfica - segue por um Hip Hop mortal a lembrar Consolidated. A terceira faixa é destruição industrial pura que poderia ser dos Ministry do tempo do ΚΕΦΑΛΗΞΘ. Inesperado e raivoso.

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