sábado, 5 de fevereiro de 2022

Sekáááááá

 

É fodido comprar um CD com Skinheads na capa. Aposto que até que eram uns putos fofinhos como eram os metaleiros nos anos 90. Vira-se a capa e eis os cinco negros da banda a substituir os branquelas. A música não destes putos ranhosos o que daria resultados desastrosos de certeza... ufa! 

Basicamente a capa dos Symarip era só marketing para público-alvo, quem ia comprar o disco seriam estes putos skin, pois a banda era a grande cena na altura na Inglaterra, tornando Skinhead Moonstomp (Trojan; 1970) num clássico do Ska / Reggae. 

Este tipo de música tem um encanto especial pela sua naiveté, com sons fixes a fantasiar um Caribe  perdido, letras puxando ao romance patriarcal bem-definido ora festejando o ridículo quando se está cheio de cerveja numa festa em que não faz mal fazer figuras parvas ou danças colectivas. Com o Ska a ser espezinhado actualmente pela pseudo-intelligentsia por causa da sua ruralidade e com estes dois anos passados de confinamentos, acho que é razão para defender esta música bem fixe, capaz de levantar a moral. Com a vantagem que se pode dançar com a patroa enquanto o bicho-covid não passa de moda. E por falar nisso, tenta-se ignorar também os Skins - sim, sei que estes não eram racistas, isso vai acontecer nos 80s - e que foi uma moda juvenil inglesa infelizmente importada para países que deviam ter mais juízo. É preciso saber crescer.

O que não é fácil. 49 anos depois eis um registo de Roy Ellis, o vocalista dos Symarip com uns espanholitos (claro, quem mais curte Ska neste planeta a não ser os nossos vizinhos pândegos!?), com os Transilvanians para o disco Almighty Ska (Liquidator; 2019). Parece que nada mudou em quase 50 anos, na realidade é o que se pretende neste tipo de projectos, ninguém quer ouvir estes sons com novas roupagens e mutações - nutre-se a nostalgia, já assim o era nos anos 90. Creio, que será um disco que funcionará como epitáfio para o Senhor Ellis, uma celebração de um género de música, com uma voz mais madura e um som mais limpo. Porreiro para o pequeno-almoço ou para o fim de tarde de copinho de vinho na mão. Skins, nem vê-los... ufa!

Quanto ao Two Tone, nome de uma editora de curta mas importante duração com o mesmo nome do "género" que inventou ao investir em bandas Ska compostas por punks brancos e emigrantes ou uma segunda geração de emigrantes negros afro-caribenhos - por momentos houve esperança na Humanidade. Apesar de ser uma edição rasca, Ska! (Proper; 1999) junta como "best of" duas bandas The Beat e The Selecter dessa editora / género e que mostra bem que houve uma metamorfose no ska inglês. Em muitos casos este torna-se politizado (sendo a grande porca Thatcher o maior alvo de críticas) mas sobretudo o som deixa de ser "puro jamaicano" para incorporar Rock e Pop daquela altura - finais dos anos 70 e princípios dos 80. Sobretudo Selecter expande-se em vários caminhos que até deixam dúvidas se ainda estamos perante  Ska / Reggae. Claro que o melhor tema de sempre desta onda será o Ghost Town dos The Specials, verdadeira música de terror para quem vive a urbe decadente. Claro que devido à melancolia do tema já não se pode chamar de Ska, hahahahaha


Nos anos 90 e nos EUA houve um "revival" de Ska. Entre aspas porque não sei se na terra de gringos houve alguma vez Ska original. Welcome to Skannecticut (Elevator; 1997) é uma colectânea de 15 bandas do estado de Connecticut, onde se afirma que na altura tinham uma grande cena de Ska. Go figure... O Ska nos EUA ou noutros países deixou para trás o jamaicano e britânico e torna-se o espaço de recreio para tocar música apenas divertida ao ponto de fazer trocadalhos com o nome do estilo, como o título deste CD ou ainda dos seus participantes J.C. Superska - ou os saudosos Skamioneta do Lixo, de "SKArcavelos", sorry sorry, não resisti! O fenómeno está acompanhado com o do novo swing (Squirrel Nut Zipers) e exótica (Combustible Edison), ou seja, reações à sujidade Grunge da altura. 
A coisa é tão grande que até quando se fazem aqueles discos de discos de tributo, geralmente com uma dezena de bandas bem diferentes, em 1997 para o tributo de Duran Duran a maior parte das bandas são de Ska e derivados: punk-Ska ou Skacore. Este CD do Skannecticut é uma polaroid desses tempos, com o som tradicional em regime de banda de baile até ao estilo acelerado por punks engraçadinhos com pica (piça!) - na onda dos Voodoo Glow Skulls. Um disco porreiro, pá, deixem de ser arrogantes e deprimidos, ponham um pouco de trombones nas vossas vidinhas.

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