terça-feira, 14 de junho de 2022

Joe Boyd : "White Bicycles : Making Music in the 1960s" (Serpents's Tail; 2006)

 As capas claro que enganam, sobretudo com "brouhahas" histéricos como o do Brian Eno neste caso - meu, vai produzir mais um disco dos U2 (vulgo, "vai à merda"). Ainda mais quando o subtítulo também é aldrabão. Não se vai ler muito como se fazia música nos anos 60 - o do Visconti é mais detalhado sobre cenas de produção e gravação - mas antes umas memórias esparsas de gajo ligado aos clássicos do Rock. 
Tal como Visconti, Boyd é gringo e foi para Londres, enojado com a cultura norte-americana e a sua falta de respeito por ela própria. Boyd até refere que as comunidades negras tiveram desdém pelo Blues a dada altura. Tal como Visconti, também ele adorava jazz, blues e rock e foi para a Europa à procura desse respeito tido pelos europeus e também por inovação que não a via nos EUA. Fez parte da "Swinging London", co-programando as noites do clube UFO, com John "Hoppy" do jornal contra-cultural IT / International Times) e produzindo músicos como Nick Drake, Incredible String Band, Pink Floyd ou os Fairport Convention, es especializando-se como um "folkie". Não é muito consistente como (auto)biógrafo mas é curioso o suficiente para ser lido, com episódios engraçados e alguns marcantes, ora sobre a tour de música negra norte-americana na Europa ou sobre a "electrificação" de Dylan no New Port Festival de 1965 - Boyd afirma que é aqui que nasce o Rock. Ou ainda o curto relato na África do Sul, em pleno regime nojento do Apartheid, em que falou com homens esfarrapados na Associação de Actores e Músicos (Negros) a perguntarem pela última peça de Harold Pinter.
O livro acaba por ter algo de "boomer" mas até acerta em alguns pontos quando fala como a economia neo-liberal de Tatcher e Reagan destruiu "o tempo". Nos anos 60 havia tempo, afirma, "o sei lá quantos" podia não ter um tusto nos bolsos mas conseguia uma casa no centro da cidade, com biscates safava-se e ainda tinha tempo para curtir e descobrir as coisas da altura. Com a aceleração da economia, tudo isto se perdeu. Outra curiosidade que afirma é que a Cocaína foi fatal para a música, que só assim se justifica como artistas que eram bons nos 60 só gravaram bosta nos anos 70 e 80 - com o estado de cagão que um gajo fica ao consumir a branca, é natural que pense que o disco que gravou seja a melhor coisa no mundo... Talvez por estas duas últimas conclusões é que o Eno ache que este livro foi o melhor livro sobre música que leu na altura. Ou isso ou andava a snifar coca com os Cosplay, não, os Coldplay,... whatever...

Sem comentários: