Uma Biografia (2017) é uma colecção de memórias de família, de intimidades, toxicidades e da sua carreira musical. É engraçado que Rita Lee sendo uma mulher "sem qualidades" - não é de uma beleza espampanante, não tem uma voz magistral nem é virtuosa como músico - consegue ser isso tudo e melhor que todas as criaturas que vão aos programas de talentos para serem mastigadas pelo putedo da indústria fonográfica e afins. O que Rita nos ensina é que quando se tem algo para dizer e imaginação, estas podem ter mais força que os corpos perfeitos da máquina do sistema. E mesmo quando se vive em estado de repressão, afinal Rita viveu durante a Ditadura Militar, tendo sido censurada e até foi presa durante a gravidez do seu primeiro filho. Cheia de esquemas e histórias cómicas e trágicas, eis uma leitura para o Verão que se aproxima, até porque a música dela, a solo, pós-Mutantes, é quase toda ela Pop levezinha e descartável, como tudo nesta altura.
A sua sinceridade é inspiradora, seja para as boas ou más decisões, é sempre divertida mesmo quando vai ao fundo. Esta escrita será repetida no Outra autobiografia (2023) que regista o final de vida de Lee numa luta contra o Cancro. No meio de medicamentos e terapias mil, dores e a percepção que a Morte se aproxima, Rita é a última a rir.
De resto, as edições incluem as fotografias memorabilia de praxe (fotos da família, animais, concertos, celebridades, acidentes, etc...) sendo as mais impressionantes as do último livro, claro, uma Rita desgastada pela doença e pela velhice mas também com desejos psicadélicos.
Uma figura extraordinária que se soube reinventar até ao fim. Fofa!
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