As compilações Desert Roses (e outras que aparecem por aí a dizer "isto é música árabe") ora são o puro Orientalismo - segundo a Teoria de Edward Said da forma como o "Ocidente" vê os "orientais" - ou é mandar à favas a todos que esperam essa mesma pureza fantasiada. Esta colectânea é um misto das duas atitudes ao ponto de se encontrar aqui Reggaeton (Tres Mundos), um insuportável italiano fatelo (Piero Esteriore) a usar arabescos ("apropriação cultural" dirão os PCs da vida), metal de videojogo (Baghdad Heavy Metal) ou Reggae (Gnawa Diffusion) em alegre sintonia com a Aldeia Global - se calhar num volume anterior até lá 'tá o Candy Shop do 50 Cent! Este é o quinto volume editado pela CIA (Copeland International Arts) e é de 2007. A maioria das músicas são do Líbano mas há aqui também sons do Egipto e da Argélia, por exemplo, sem que essas fronteiras sonoras sejam identificadas algures no objecto editorial. Obviamente que é mais um disco de capitalização do exótico para se ouvir num bar giro - só não sei bem é aonde... O que vale é que os CDs estão baratos, no meio dos espinhos colhe-se umas rosas, nem que seja porque a "média" desta música do "Oriente" turístico sempre é melhor que a merda do Pop Ocidental...
La Légende Du Raï, vol. 1 (The Intense Music; 2003) é uma colectânea manhosa que se calhar deve ser vendida nas autoroutes francesas, tanto que outros volumes da "colecção" inclui outras antologias "best of" de Chales Aznavour, "stars des sixties", Edith Piaf e outras situações que não consigo identificar nem me interessa... O Raï é um estilo de Pop da Argélia, muitas vezes perseguido pelo Estado e senhores da moral mas que devido à sua popularidade não conseguem abafar. Não creio que falem de política directamente mas já sabemos que os ditadores do mundo não curtem nada sensualidade do amor. Não percebendo as letras fica uma impressão de uma música popular - em que os sintetizadores trouxeram uma universalidade seja no mundo árabe, Cabo Verde, Portugal ou Balcãs, vai-se lá explicar, ou então a família humana tem menos diferenças que os nacionalistas nos impingem! - entre vozes sofridas (de amor? luxúria?), algum trolóló funky (amor conquistado?), alguma intoxicação sonora (?), vozes masculinas, vozes femininas, vozes de crianças (?), alguns stars (com centenas de k7s editadas como o Khaled, quem? Bom, o gajo até aparece duas vezes neste CD, por isso, respeitinho!) e outros nada conhecidos (cóf cóf cóf). Um argelino poderá ficar tão fascinado com um disco de Pimba que apanhasse numa gasolineira na A22. Embora o Raï tenha mais pathos e instrumentais mais bonitos.
Sem comentários:
Enviar um comentário