Graças ao José Feitor - então ao editor do fanzine Merda Frita Mensal - fiquei a saber do seu lançamento... enfim, putos!
Aqui está a mensagem: Fruto de sinergia marada entre decanos (Imprensa Canalha) e jovens militantes do mau gosto (Matilde Feitor e meliantes da Merda Frita), anuncia-se evento apocalíptico no dia 15 de Março, a partir das 18h30, nos novos aposentos da Oficina do Cego (Estrada de Chelas 101, Lisboa - Espaços da Gráfica Municipal).
Serão apresentados ao público incauto as seguintes pérolas:
Fosso #3 (José Feitor, Imprensa Canalha)
Merda Frita #3 (Merda Frita Lda)
Fora de Campo #2, Night Time, My Time, Contos do Mar (Bancarr0ta, Matilde Feitor)
Haverá ainda exposição de originais de José Feitor para o Fosso e impressão serigráfica dos postais que acompanham a edição.
Comes e bebes assegurados pela Oficina, conversa a expensas dos ilustres autores e seus convidados.
TEXTO que escrevi:
Então, um gajo para fazer uma colonoscopia tem de 48 horas antes parar de comer merda, 24h come uma torradinha e depois é só líquidos. Horas antes toma laxantes e bebe 4 litros de água ou quejandos, e quatro horas antes fica de jejum - o melhor é ver um Anime de merda para passar o tempo. Depois despe-se, mete aquelas batas onde mostra o cu, metem-lhe coisas para medir coração e respiração, e a última cena que vemos é propofol - uma gosma branca que o Michael Jackson era agarrado e lhe provocou a morte por overdose - pelo tubo a dentro e sweet dreams!! Da primeira vez que tomei isso foi para uma endoscopia e sai de lá radiante a perguntar a todas as enfermeiras o que me tinham dado - a sério, de todas as drogas tomadas, esta foi a melhor do mundo que me bateu. Juro que poderia viver na lalaland dos sonhos para sempre. Fiz até uma BD sobre a experiência para o fanzine Preto no branco #6 (Nov'16). Desta vez, ou deram-me pouca ou a segunda vez já não bate tanto, sei lá! Acho que estava a ter uma grande discussão sobre feminismo na soneira até voltar à triste realidade da barafunda da clínica de S. Cristóvão. Lembrei-me desta última viagem de propofol como o mais aproximado de ouvir o CD 公衆便所 (殺害塩化ビニール; 2008) dos TooZy's (ツージーズ), música feita por um punk velho, de bandas punks velhas japonesas, com uma "miúda" que ou a engatou ou que a enganou, ou pode ser apenas uma sobrinha pacholas dele, sei lá, é melhor não escrever mais nada sobre a formação da "banda".
A música é uma javardice pegada feita com caixas de ritmos, guitarras clichés cheias de feedback mas suportável para qualquer um que oiça som decente. Ela berra umas parvoíces de vez em quando mas nada de muito perturbante, sei lá diz umas cenas para parecer que é pita do secundário, supostamente um fetiche de muitos. Não percebendo um caralho do que dizem, não se pode dizer muito mais nada disto, terá humor? Que tipo? Xixi Cócó? Enapá 2000? Ou se calhar são uns fetichista marados quaisquer e até podem ser os Big Stick do Japão mas nunca saberei...
Agora o artwork do CD é o que rende mesmo o disco! Imagens do apocalipse em Pop Heta-Uma, não faltando crianças, fetos, animais e sereias cagonas, tudo ao molho em modo destruição e morte. Há fotografias da "banda" com um boneco PVC (acho) de um escorpião branco com pinças de ouro no meio delas! E uma BD na rodela do CD! Tudo "creepy" e mau(bom)gosto sem explicação, ou pelo menos para quem não percebe nada de japonês. Um artwork que repele e atrai, adoro! A autoria é do próprio Toozy Q (Shinya Tsujimura) que tem mais jeitinho pra desenhar o desastre humano que musicá-lo!
Para os mais incautos, o Heta-Uma é um movimento de BD japonesa ligado à revista de BD Garo (1964-2002), e é o que se pode rotular de Punk na BD, tal como poderão pensar o equivalente no "Ocidente" ao associarem os nomes de Gary Panter e Savage Pencil. É traduzível como "mau mas bom", ou seja, os desenhos parecem mal paridos mas é porque o artista quer, não por ineficiência ou má formação. O artista mais conhecido será King Terry, havendo mais desta primeira geração como o Yoshikazu Ebisu, que tem visto a sua obra a ser descoberta e reeditada em inglês pela Breakdown Press - já saíram duas colectâneas, The Pits of Hell e I wish I was stupid.
Em Portugal o atraso é o de sempre e só nos finais de 2023 é que finalmente foi publicado uma obra digna deste estilo, a saber: Tóquio Zombie de Yusaku Hanajuma, artista de segunda vaga de Heta-Uma. A edição foi da Sendai, editora que tem publicado BD japonesa diferente dos habituais Mangas para putos, e a Associação Chili Com Carne, se me permitem a auto-promoção.
Mas atraso mesmo? Sim mas há sempre a Hetamoé, uma artista weeaboo com interesse por todas as coisas fofinhas, girly e DIY. É membro fundadora do selo de zines Clube do Inferno e MASSACRE e participou em dezenas de projectos editoriais indies pelo mundo fora. O seu estilo é um "não-estilo", ou seja, apropriando, modificando ou usando maquinaria, Hetamoé usa matéria da cultura Pop japonesa para ditar a sua própria agenda artística, literária e política numa regurgitação mutante - com classe, esta senhora vomita com classe!!! E fofura, que é o que "moe" quer dizer! Para fechar aqui o círculo, foi ela que me ofereceu este CD que já não consigo ouvir mais! Preciso de propofol, por favor!!!!


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