sábado, 6 de maio de 2006

I don't wanna grow up in O'Malley's Bar


É o título da nova exposição individual de Pedro Zamith que inaugurou no dia 6 de Maio, na Galeria Pedro Serrenho e que está patente até 31 de Maio, de Terça a Sábado das 11h às 19h.


«Z-MAN and the MASTERS of the UNIVERSE

Não tem sido fácil trabalhar na pintura figurativa graças às modas patéticas da pintura abstracta e da Conceptual Art mas seria impossível continuarem-nos a enganar quando a nossa geração se excitou sexualmente com a Maga Patalógica (conheço um caso), chorou com a morte da Fénix dos X-Men (conheço vários), que canta nostalgicamente aos jantares de aniversário as músicas do Marco ou da Heidi (sem comentários), que perde tempo a reinventar “Marretas” sórdidos para cinema ou HipHop (os “Feebles” de Peter Jackson e os Puppetmastaz, respectivamente). Todos nós queremos “bonecos”!

Bonecos? Ou serão novos artefactos religiosos? Não serão as orelhas do Mickey mais amadas que a cruz cristã? Porque é que o novo “guilty pleassure” são bonecos em volume feitos em PVC e outros plásticos? Porque é que se fala, actualmente, tanto de “criação de personagens”? Porque é que a actual maior banda de Pop/Rock são os virtuais Gorillaz?
No figurativo encontramos o que o ser humano (vulgo, símio voyeur) precisou sempre de ver ao longo da história: a destruição (moral, social, física, individual ou colectiva), a redenção, e antes disso, o pecado – mesmo que não seja o Original, o do folhetim da vida já é suficiente -, a dor, o corpo (o nosso ou o do outro), o medo, a insegurança das grandes cidades (o campo não é muito melhor mas moino-mutantes que somos já nos esquecemos disso), a ameaça da Morte – vendo bem as coisas, um acidente de viação ou um encontro com um serial-killer não são as mesmas provas oferecidas aos mortais pelos Deuses como as trapalhadas de Ulisses na Odisseia? Ou tens Atena ou antenas ou então, surpresa: o teu braço já está dentro da bexiga do John Wayne Gacy! Mas creio que me estou a dispersar…

Nesta exposição, as canções de Tom Waits e (uma) de Nick Cave são, apenas, pretextos para Zamith trabalhar. Naturalmente, que Zamith há muito explora personagens ridículos e fisicamente distorcidos. Figuras congeladas no tempo porque o que Zamith faz são “tradicionais” retratos. No entanto não creio que haja relação possível entre a rouquidão boémia de Waits ou o negrume “gótico americano” de Cave e o estilo gráfico de Zamith. Os seus retratos são de sabor Pop Vintage, imaginário de série B e Z, lixo com glamour porque é pintado a tinta de parede esmalte à base de água. O resultado é bastante idêntico aos tais bonecos acima referidos: formas bem delimitadas, cores planas, quase que básicas, logo a superfície plástica de Zamith nunca poderá suportar o tabagismo de Waits nem o “suor, sangre e lágrimas” de Cave. O que não impede, no entanto, de abordar os universos destes músicos, à procura e encontrando uma versão.
Não é de desprezar estas versões diurnas de Zamith por elas serem versões. Estas imagens são vitrais das nossas igrejas DIY. Tal como o homem medieval que se sentia rebaixado com essas imagens maiores que ele, assim também nós nos rebaixamos às personagens sofredores de Waits e Cave. Mártires sem bula papal, pobres-diabos que Zamith ao materializá-los (mesmo que bidimensional) elevou-os a santos modernos. Já perceberam a piada, claro… Por sermos consumidores de imagens, somos pagãos até à medula. Todos nós sem sabermos já construímos a nossa religião, a nossa igreja e o nosso altar lá em casa. Eu, por exemplo, faço parte da Igreja Gráfica de Sto. Comix e da Ordem dos Grão-mestres Zamithes.

Por fim, não deixaria de referir que o trabalho de Zamith está em consonância com uma nova vaga emergente de “artistas gráficos” que brevemente nesta mesma galeria, terão trabalhos expostos numa mostra comissariada pelo Pedro Zamith. Marquem uma procissão para Junho. A arte conceptual e afins é para robots e informáticos!!!
Amém!

Marcos Farrajota,
Pastor»

in catálogo/desdobrável da exposição.

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