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E se o
Samizdata Club se apresentou como
um espaço ultracultural de confronto e experimentação artística e social incentivado por um colectivo de editoras discográficas, bd, produtores (...) que decidiram dar resposta a lacunas existentes no panorama artístico nacional através de sinergias e parcerias, de forma a criar uma efectiva rede de disseminação de informação por canais alternativos então tal tem realmente acontecido. Já vai na sua 8ª edição (e a segunda fora de Lisboa) e continua a mostrar que, mais importante do que as vendas nas bancas ou outros motivos materialistas, é o facto que consegue fazer com que pessoas amantes de uma cultura alternativa (expressão que uso para designar uma cultura que fuja do espectáculo pirotécnico dos mass-media) se encontrem num espaço para se conhecerem. Mesmo fora do seu habitual raio de acção - Lisboa e a Caixa Económica Operária - tal tem sucedido, como aliás aconteceu no excelente espaço que é o "estaleiro cultural"
Velha-a-Branca. Há copos, há concertos, há festa e há bancas com produtos culturais. Não há forma de enganar sobre o sucesso deste evento - e o sucesso nunca poderia ser pirotécnico, claro está...
Longe das (suas) bases habituais foram lançados novas edições tão variadas como livros (
Lucrécia de Rafael Dioníso pela Chili Com Carne), zines (
Belo Cadáver da Imprensa Canalha - que fez também o cirúrgico cartaz) e
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discos, nomeadamente
"Blot og Mono Middagshvil" (
Thisco + Fonoteca de Lisboa; 2006) de
Tore H. Boe e
Anla Courtis. Apesar dos seus enormes currículos - especialmente a postura artística do primeiro que criou uma "República Virtual Artística" (vejam o link!) - o disco, um CD-EP de 20 e tal minutos e 16 faixas, parece mais um "CD-sampler de sons" do que uma obra
per se. Constituído por ruídos ambientais, industriais, experimentais, e outros "ais" com cada faixa com pouco mais de 1 minuto, ficamos com a sensação que cada faixa é uma peça criada para ser um fragmento que dificilmente conseguirá associar-se aos outros. Não que isso seja mau mas também não empolga muito neste caso.
[3; Festa de Troca de Discos... deve ser fixe para remisturar algo]
A cena "live" desta vez (e mais uma vez) foi com
Sci fi Industries mas num "versus" com o bracarense
Tatsumaki. Correu bem. Tatsumaki é mais dado a "barulhos electrónicos" o que coincidia bem com os ritmos de Sci Fi. O espectáculo foi no maravilhoso jardim da Velha-a-Branca tal como foi o resto da festa com o meu
un-djing. Desta vez a experiência não foi lá muito interessante ao contrário das outras anteriores em espaços frondosos (como foram as duas tardes na
Estufa Fria durante o Salão Lisboa 2005). Ou era a maquinaria que estava marada por causa das configurações anteriores do "live-act" que foderam completamente o som de
Brujeria e
Godflesh, ou era a ausência de reacções do público - sentado num jardim quando o que tinha era um "set" mais para um espaço fechado e para dançar. Por erros de comunicação com a organização do "estaleiro cultural" nunca pensei que ficaria no jardim... Ainda assim houve um freak que gostou dos Reagges e um grupo de pessoas numa mesa riram-se com as versões foleiras de
Richard Cheese a
Nirvana («this one is for the ladies... Rape me») e
Radiohead.
Inesperado o encontro de um tipo que conhecia o Filipe dos
I.M.M. (Industrial Metal Machine), uma banda de Braga cujo o nome rotula completamente o som. Era um trio com muito power & groove que infelizmente só gravaram meia dúzia de temas espalhados no segundo volume d'
À sombra de Deus (CM de Braga, 1994) e
Change your oil (Garagem; 1996). Foi daqueles tipos que conheci através dos zines e que nunca vi
in loco, apesar de ter trocado zines e CD's por correio durante algum tempo. Acompanhei e divulguei o seu trabalho (underground) após o fim dos I.M.M. - a Chili Com Carne chegou a fazer um vídeo-clip do
Mutate & Survive para SIC Radical com banda sonora da banda. Não sei bem porquê mas perdi o contacto do Filipe nos últimos dois anos e de repente aparece um tipo a dizer que me conhecia por causa dele, dos meus zines e isso tudo... fiquei a saber que tinham um novo projecto - esse tipo também fez parte dos I.M.M. ou percebi mal? o gajo estava com uma jarda e eu para lá caminhava. Trocamos galhardetes e eis o link para os
Slate Machine - que estão virados para o Electro como poderão perceber depois de os ouvir.
Por fim, mais um caso de anormalidade cósmica, finalmente conheci - depois de 10 anos de correspondência zinista bilateral - o António Silva, gestor do "estaleiro". O seu trabalho, dedicação e profissionalismo estão à vista, a julgar pelo que pude desfrutar nesta visita. Obrigado por tudo!
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