quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Ainda 'tá vivo, branquela!?



Bezegol: "Rude bwoy stand" (Matarroa; 2007)
Freddy Locks: "Bring up the feeling" (Gumalaka / Matarroa; 2007?)

Agora que a Jamaica já faz definitivamente no mapa musical de Portugal - demorou algumas décadas para saber que daquela ilha não era só Peter Tosh e o Bob Marley - começou a rapinagem dos vários estilos de música que aquele país criou nos últimos 40 anos e que influenciaram toda a produção musical no mundo. Começaram a aparecer bandinhas de Reggae para animar os bares de surfistas da costa vicentina, compostas por putos deslavados e sem pica, e ignorando o trabalho mais inspirado dos Kussondulola que conseguiram fazer a ponte musical robusta entre Jamaica, Angola e Portugal, começaram a gravar, alguns com pontos mais abaixo (os últimos dos referidos Kussondulola, Mercado Negro e a maioria dos "novatos"...) e alguns pontitos mais acima (como o último de Prince Wadada).
O álbum de estreia do Freddy Locks é o mimetismo perfeito de qualquer disco de Roots Reggae, é uma «jóia na produção de Reggae em Portugal», um "wallpaper" sonoro que tanto pode estar a ser tocado na aparelhagem de uma esplanada no melhor dia de Verão como na aparelhagem de casa à procura de "positive vibes". Tão perfeita que é esta música a imitar os modelos que podia ter sido feito na origem jamaicana... como podia ter sido feito na Rússia ou na Suiça ou onde vocês quiserem. A única referência portuguesa será a participação de um Rap em português emitido pelo MC Tranquilo (um padreco moralista chato como qualquer beato). O disco é tão bom qualquer outro bom disco de Reggae, é tão saudável como futuramente será entrar nos cafés sem o fumo dos cigarros. O problema será para aqueles que querem fumar! Ah! Sendo esta edição feita com o apoio da Matarroa e do talentoso Chemega, e fazem a "big shit" de capa e embalagem que é!? A ganza nos brancos bate mal, pelos vistos...
Ao contrário de Freddy, Bezegol é menos positivo e mais eclético - sim, é um sítio para fumadores de seja o que for! Do Dancehall ao HipHop, do Ragga à Soul, Bezegol mostra que tem garras, aliás como DJ de MatoZoo mostrava que "samplagem" de sons estranhos e originais era com ele. No álbum de estreia consegue nos surpreender com samples de filmes brasileiros (os diálogos são cortar à faca), um excerto inesperado dos Ramones à abrir, uma guitarra portuguesa (não "samplada"!), sons do 25 de Abril, ... ainda assim a esquizofrenia não é completa, o que é uma pena talvez porque o investimento de Bezegol passa muito para uma (sua) voz grave de "ganza-man" que canta num inglês não muito convicente. O esforço de imitar um modelo parece desnecessário e parece que Bezegol não tem confiança no seu talento - como acontece com quase todos os artistas portugueses. Apesar de Bezegol não saber que não pode fazer uma voz negra, e porque as listas já andam por aí, aqui vai o hype: este é pelo menos o melhor disco da Matarroa de 2007. Peace!

PS - memória para os que não tem e para relembrar aos "pulas" que querem ser "niggers" deveriam arrumar as botas porque vão estar sempre atrasados. A semana passada consegui uma raridade: Black Ja Tchga (Mesapro; 1997) dos cabo-verdianos Black Side - que já tinha feito uma resenha no extinto zine My Precious Things (14 números, FC Kómix; 1996-2000). Residentes na Holanda misturavam tudo o que era "black sound": Reggae, HipHop, Ragga, Pop africano, Dub,... Fusão embrulhada em crioulo du power, brotha! Aprendi pula com esta Obra-Prima!

E bom... o que se pode dizer disto!? Pai Grande (Sons d'África; 200_) que tem como sub-título Dog Murras apadrinha estrelas do Kuduro... é uma colectêna de Kuduro que achei que poderia colocar por aqui também, não sei bem porquê - porque é música Power du Black Pá! Claro, para provar que a cena "Black" é non-stop e cheia de pica. Como se sabe a tecnologia está em favor dos "pobres" - se eles conseguirem ter acesso, claro está - e é assim que à medida que a tecnologia chega às favelas, terceiro mundo e afins, novas pespectivas musicais populares surgem como o Baile Funk, Reggaton, Kuduro... Este disco é uma colectânea apadrinhada por um super-star (um xungão!) que é o Dog Murras - só o nome merce ser super-star. Já se sabe o que se pode ouvir aqui: tambor-techno, letra sexual parva para curtir em festa, o que for necessário para o branco ainda com tiques de colonialista com medo do futuro - Aprendi pula!

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