Não vale a pena ficar assustado com este livro pelos desenhos horrorosos do Vítor Rua, pelo "copyright" da SPA na ficha técnica ou da fotografia de Jorge Lima Barreto a segurar um gato (siamês) - Cliché Fotográfico de Todo o Escritor na Badana do Livro Nº1.
Publicado em 1997 apresenta-se quase como um livro de aforismos, em que Barreto recolheu uma série de frases / textos sobre música e os mass media. Quase poderia ser apontado como um livro preguiçoso mas nesse caso devemos perguntar ao acusador se seria capaz de ler e organizar toda a informação de autores como Adorno, William S. Burroughs, Jacques Lacan, etc... e editá-la como Barreto fez numa tentativa pós-moderna de escrita, admitida logo na Introdução.
A leitura deste volume é excitante para qualquer melómano ou qualquer pessoa que se interesse por música para além daquilo que papa como mínimo denominador comum da rádio, TV e FNACs. São apontamentos que exigem reflexão de parágrafo a parágrafo porque questionam a tempo inteiro como, aonde e porquê que ouvimos música - e já agora, qual a música é que ouvimos.
Sendo de 1997 há claro uma ou duas situações que não consegue prever como a desmaterialização da música do formato "disco" e a inflação dos concertos. Afimar-se algures no livro que os concertos deixarão de existir ou de ter representatividade face à imposição do formato "disco" pelas indústrias fonográficas. É divertido reparar que foi o contrário que aconteceu entretanto com o advento da Internet. Os discos como formato físico desapareceram em Ipods e computadores que são buracos negros de música (música fútil que não necessita de imagem, créditos, informações de qualquer espécie) e os concertos afirmaram-se como o negócio mais importante da indústria - com a Madonna, em 2007, a negociar o seu contrato milionário não com uma editora (como acontecia no passado) mas com uma produtora de concertos.
O livro acerta noutros pontos, não se preocupem, e dá comida para o cérebro tal como uma assinatura anual da The Wire, só não é tão bonito como a excelente revista britânica.
Talvez por isso que tenha tido um triste fim, como aliás todos os poucos que importam publicados em Portugal, ou seja, a sua editora faliu há 2 anos e com isso o seu acesso de origem - têm piada sugerir que o aspecto manhoso do livro tenha levado a editora à falência, não têm? O meu exemplar encontrei no "anarca-alfarrabista" Utopia (no Porto), entretanto já me cruzei com outros exemplares por aí e na 'net. Aproveitem se o encontrarem...
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