quarta-feira, 20 de julho de 2011

David Soares (a), Jorge Coelho, João Maio Pinto [et al.] (d) : É de noite que faço as perguntas (Saída de Emergência; 2011)

Eis um livro que sofreu atrasos como se pode constatar pelo tema que é sobre os 100 anos da República e que deveria ter saído o ano passado no Festival de BD da Amadora. Devido a complicações editoriais só agora é lançado pela Saída de Emergência, uma editora especializada em Ficção Científica e Fantástico e que tem matado muita sede a muita gente que gosta destes géneros literários, para além de ter publicado os fabulosos romances e contos de David Soares.
Trata-se de uma encomenda institucional para as Comemorações dos 100 anos da República mas em que a "qualidade" da "dita senhora" é questionada por David Soares, que escreve todo o livro para cinco ilustradores diferentes - como o novato André Coelho e o veterano Richard Câmara. Invés de comemorar de forma canina, o livro é sóbrio ao explorar as virtudes e os defeitos da Primeira República. O texto tem pertinência e inteligência mas como produto final acaba por fazer perder a força do argumento de Soares.
Aliás isto não é um "livro", peço desculpa, é um "álbum de bd", de tamanho parvo e colorido imposto pelo anacrónico Festival da Amadora. Os desenhadores, todos eles de talento reconhecido, talvez não se sintam à vontade com este formato e sente-se uma rigidez qualquer que irá afectar também a narrativa. Ainda assim, se este for o futuro da bd portuguesa na vertente "histórica-por-encomenda" (porque a bd é sempre vista como uma boa maneira de explicar História portuguesa para putos e iletrados) estamos muito bem servidos. Soares sabe pegar na matéria-prima histórica sem a abordar de forma patriótica, ou pior de forma "factual-pedagógica". Como bom escritor de romance histórico que é soube dar a volta para que a estória deste álbum fosse interessante de se ler.
Eis um álbum que está nos antípodas das produções do Antigo Regime (que ainda hoje pupulam por aí devido à ignorância das autarquias e outras instituições públicas) e que está ao lado de trabalhos como História de Lisboa (de A.H. Oliveira Marques e Filipe Abranches) ou Salazar : Agora, na hora da sua morte (João Paulo Cotrim e Miguel Rocha). É bom assistir ao facto de ser uma editora sem ser de bd a pegar neste álbum. É uma esperança que assim este álbum tenha mais facilidades de ser divulgado e distribuido num mercado livreiro que não quer saber da bd para nada. Apesar das letras manhosas do título que conseguem destruir a capa fizeram um bom trabalho de produção gráfica. Uma experiência a repetir?
Por fim, de salientar o trabalho de Daniel da Silva, que entretanto também ilustrou o novo romance de Soares, Batalha (Saída de Emergência; 2011), um desenhor em estreia no campo da bd apesar de já ter um trabalho de ilustração há muito tempo - inclusive foi publicado no Mutate & Survive.

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