sexta-feira, 31 de outubro de 2014
20 anos, 10 horas
Consolidated : Business of Punishment (London; 1994)
Os Consolidated ao vivo no final dos espectáculos ao vivo faziam um "open mic" para o público intervir. Ouve-se no final do CD, uma faixa com uma compilação dessas intervenções que até são meio arrepiantes. Um gajo reclama quando é que a banda pára com "politics" nas suas músicas, que ainda por cima pregam para os convertidos... Responde uma gaja: "politics" acabam quando uma mulher deixar de apanhar com 24 horas de "bullshit"... 20 anos depois ouvir esta banda Funk Industrial com mensagens de esquerda ainda faz sentido tudo o que se passa na rodela. Façam isso, oiçam...
É fácil ser homem e dizer merdas a diminuir o sexismo (ainda) vigente. Só curtia que cada homem que diz que sexismo não existe, transforma-se numa preta lésbica, assim durante uma semanita ou duas... E depois falávamos!
sexta-feira, 24 de outubro de 2014
Dico : "Breve História do Metal Português" (A Causa das Regras; 2013)
Rosebud... Quando se chega à "Casa dos Quarenta" a malta começa a escrever as suas memórias para preservar algo que lhe é ou foi querido. Será um fenómeno do mundo Pop da actual sociedade hiper-informatizada ou apenas uma Midlife Crisis? Não sei responder a isto até porque também já me meti nestas andanças mas numa destas opções vamos encontrar o âmbito deste livro.
Infelizmente Dico (quem assina assim!?) falha redondamente no que pretendia fazer, o que é uma pena porque se há algo que teve piada no meio português das músicas urbanas foi justamente o Heavy Metal - até mais que o Punk. Só que Dico cospe no prato onde comeu, fazendo moral sobre a "violência e destruição" que acontecia em Cascais durante os concertos no Pavilhão Dramático - era essa destruição que animava aquela vila de betos, dick! Ou condenando o parrícidio cometido por Tojó dos Agonizing Terror em 1999 que deveria ser algo que se devia celebrar como uma tentativa do fim desta nossa sociedade portuguesa paternal e mimada - embora se saiba que o Tojó era um tótó mas no plano simbólico é um marco importante na transição da ruralidade para uma nova urbanidade em Portugal. Como Tiago Guillul bem que me dizia que os metaleiros não tem percepção do seu próprio legado...
Saltando do Panque do Senhor para o Sr. Rob Zombie, este dizia que não havia público de mente mais aberta que o do Metal, uma música até pode ser Drum'n'Bass mas se tiver um Riff de guitarra está tudo bem! O livro de Dico mostra que isso não é verdade, pelo menos com os metaleiros portugueses, que tal como outras tribos urbanas de cá são realmente a personificação do horrível termo tecnocrata "nichos de mercado", fechados num auto-consumo, ignorando o que não está fora do seu círculo social e cultural. Por isso, surpresa do caralho! O Dico não devia saber do passado da música portuguesa e ao descobrir ficou tão fascinado que mais de metade do livro é dedicado a bandas Rock dos anos 60 e 70 psicadélicas, progressivas ou de Hard Rock / proto-Heavy Metal - ou seja, temas que já tem sido abordados noutros documentos escritos ou áudio-visuais mas que aqui são repetidos apenas porque Dico nunca pensou fora da caixa dos Cenobitas do Hellraiser. Ficou pasmado porque José Cid contribuíu para o "Metal" português nos seus tempos de Prog Rock. Mais vale tarde do que nunca? Sim tudo bem, só que não sobrou espaço para o que interessa, o período rico em histórias dos anos 80 para a frente, que ainda não foram contadas.
Seja como for Dico também não parece ter capacidade para as contar porque todo o livro é um enumerar de "factóides" como acontece neste tipo de livro feitos por fãs e que pecam ainda mais por se armarem em académicos, cheio de notas chatas que explicam, por exemplo, o significado de "Cortina de Ferro" - pois é, podia ser um programa de uma rádio pirata nos anos 80, né? Ou o que é uma Demo-Tape, fixe, mas não explica qual foi a importância dos Braindead, Thormenthor, Moonspell ou Shrine. Nem se percebe o que significava ser metaleiro nesses tempos em que andar com cabelos longos equivalia a ser gozado ou a levar porrada na rua pelos Skins. Os metaleiros pareciam uns anjinhos e as metaleiras eram autenticas pitas-princesas de ter fantasias eróticas de corar a Guerra dos Tronos. Sim nos anos 80 até meados dos anos 90, os metaleiros eram uma tribo a suar de juventude e elegância, antes de eles passarem a ser programadores informáticos gordos e elas em casa prenhas com folhos do Goth-Metal. Significava que quem pertencia a este mundo do Som Eterno (ao que parece alguns metaleiros chamam isto ao Heavy) fazia um real esforço militante que incluia editar fanzines, lançar demos e outros registos fonográficos, fazer programas de rádio (ainda hoje há sempre um programita depois da meia-noite numa rádio da província ou isso já acabou?), organizar "tape-trading" (trocar k7s e vídeos por listas de correio) e distros. Este fascinante mundo parece já surreal ter existido agora que estamos na web.2., sendo que o livro não mostra quase nenhuma documentação relevante nesse sentido. Também ficou de parte a influência real de fenómenos como o Grindcore, Black Metal ou outros sub-géneros na cena metaleira portuguesa.
Mais citações (sim porque o livro é preguiçoso e metade dele é escrito dessa forma): Nem os Guns nem os Stones deram cabo de mim / foi tal o xinfrim / malditos headphones (Repórter Estrábico). A competição de quem têm o maior pénis é outro sintoma dos coleccionadores / fãs / melómanos que escrevem estes livros e quase sempre chega ao ponto da incongruência, não faltando pelo menos uma fotografia em que o autor aparece algures (aqui é o Dico em pose com a sua banda Dinosaur), bilhetes de concertos míticos, peças de orgulho como um poster autografado de Quorthon (dos Bathory) semi-nu à Conan o Bárbaro de cueca de couro e espada na mão, etc... Tudo bem, há sempre curiosidades gráficas interessantes ou então motivos para nos rirmos. Já o cartaz do (primeiro?) Festival Super Bock / Super Rock que não tem assim tanta banda de Metal que justifique a sua reprodução, não só porque é um evento popular cuja memória ainda não é tão curta, e pior ainda, além que parece que o livro foi patrocionado pela marca de cervejas porque é publicado na última página do livro. Seja como for, é apenas um detalhe porque graficamente o livro é o desastre típico de livros de amadores, vanity press ou não, parece que foi feito em 1986 - tal como os livros de Aristides Duarte, os dois volumes intitulados Memórias do Rock (2006-10), ler resenha crítica no Underworld #20.
Este foi o primeiro esforço para a História do Metal português, alguém o tinha de fazer e Dico teve os "Colhões de Ferro" para tal, parabéns seja como for mas espera-se que um dia apareça "A História Completa".
Infelizmente Dico (quem assina assim!?) falha redondamente no que pretendia fazer, o que é uma pena porque se há algo que teve piada no meio português das músicas urbanas foi justamente o Heavy Metal - até mais que o Punk. Só que Dico cospe no prato onde comeu, fazendo moral sobre a "violência e destruição" que acontecia em Cascais durante os concertos no Pavilhão Dramático - era essa destruição que animava aquela vila de betos, dick! Ou condenando o parrícidio cometido por Tojó dos Agonizing Terror em 1999 que deveria ser algo que se devia celebrar como uma tentativa do fim desta nossa sociedade portuguesa paternal e mimada - embora se saiba que o Tojó era um tótó mas no plano simbólico é um marco importante na transição da ruralidade para uma nova urbanidade em Portugal. Como Tiago Guillul bem que me dizia que os metaleiros não tem percepção do seu próprio legado...
Saltando do Panque do Senhor para o Sr. Rob Zombie, este dizia que não havia público de mente mais aberta que o do Metal, uma música até pode ser Drum'n'Bass mas se tiver um Riff de guitarra está tudo bem! O livro de Dico mostra que isso não é verdade, pelo menos com os metaleiros portugueses, que tal como outras tribos urbanas de cá são realmente a personificação do horrível termo tecnocrata "nichos de mercado", fechados num auto-consumo, ignorando o que não está fora do seu círculo social e cultural. Por isso, surpresa do caralho! O Dico não devia saber do passado da música portuguesa e ao descobrir ficou tão fascinado que mais de metade do livro é dedicado a bandas Rock dos anos 60 e 70 psicadélicas, progressivas ou de Hard Rock / proto-Heavy Metal - ou seja, temas que já tem sido abordados noutros documentos escritos ou áudio-visuais mas que aqui são repetidos apenas porque Dico nunca pensou fora da caixa dos Cenobitas do Hellraiser. Ficou pasmado porque José Cid contribuíu para o "Metal" português nos seus tempos de Prog Rock. Mais vale tarde do que nunca? Sim tudo bem, só que não sobrou espaço para o que interessa, o período rico em histórias dos anos 80 para a frente, que ainda não foram contadas.
Seja como for Dico também não parece ter capacidade para as contar porque todo o livro é um enumerar de "factóides" como acontece neste tipo de livro feitos por fãs e que pecam ainda mais por se armarem em académicos, cheio de notas chatas que explicam, por exemplo, o significado de "Cortina de Ferro" - pois é, podia ser um programa de uma rádio pirata nos anos 80, né? Ou o que é uma Demo-Tape, fixe, mas não explica qual foi a importância dos Braindead, Thormenthor, Moonspell ou Shrine. Nem se percebe o que significava ser metaleiro nesses tempos em que andar com cabelos longos equivalia a ser gozado ou a levar porrada na rua pelos Skins. Os metaleiros pareciam uns anjinhos e as metaleiras eram autenticas pitas-princesas de ter fantasias eróticas de corar a Guerra dos Tronos. Sim nos anos 80 até meados dos anos 90, os metaleiros eram uma tribo a suar de juventude e elegância, antes de eles passarem a ser programadores informáticos gordos e elas em casa prenhas com folhos do Goth-Metal. Significava que quem pertencia a este mundo do Som Eterno (ao que parece alguns metaleiros chamam isto ao Heavy) fazia um real esforço militante que incluia editar fanzines, lançar demos e outros registos fonográficos, fazer programas de rádio (ainda hoje há sempre um programita depois da meia-noite numa rádio da província ou isso já acabou?), organizar "tape-trading" (trocar k7s e vídeos por listas de correio) e distros. Este fascinante mundo parece já surreal ter existido agora que estamos na web.2., sendo que o livro não mostra quase nenhuma documentação relevante nesse sentido. Também ficou de parte a influência real de fenómenos como o Grindcore, Black Metal ou outros sub-géneros na cena metaleira portuguesa.
Mais citações (sim porque o livro é preguiçoso e metade dele é escrito dessa forma): Nem os Guns nem os Stones deram cabo de mim / foi tal o xinfrim / malditos headphones (Repórter Estrábico). A competição de quem têm o maior pénis é outro sintoma dos coleccionadores / fãs / melómanos que escrevem estes livros e quase sempre chega ao ponto da incongruência, não faltando pelo menos uma fotografia em que o autor aparece algures (aqui é o Dico em pose com a sua banda Dinosaur), bilhetes de concertos míticos, peças de orgulho como um poster autografado de Quorthon (dos Bathory) semi-nu à Conan o Bárbaro de cueca de couro e espada na mão, etc... Tudo bem, há sempre curiosidades gráficas interessantes ou então motivos para nos rirmos. Já o cartaz do (primeiro?) Festival Super Bock / Super Rock que não tem assim tanta banda de Metal que justifique a sua reprodução, não só porque é um evento popular cuja memória ainda não é tão curta, e pior ainda, além que parece que o livro foi patrocionado pela marca de cervejas porque é publicado na última página do livro. Seja como for, é apenas um detalhe porque graficamente o livro é o desastre típico de livros de amadores, vanity press ou não, parece que foi feito em 1986 - tal como os livros de Aristides Duarte, os dois volumes intitulados Memórias do Rock (2006-10), ler resenha crítica no Underworld #20.
Este foi o primeiro esforço para a História do Metal português, alguém o tinha de fazer e Dico teve os "Colhões de Ferro" para tal, parabéns seja como for mas espera-se que um dia apareça "A História Completa".
quinta-feira, 23 de outubro de 2014
Azeite do Médio-Oriente
Dois CDs de música dos desertos... balelas! São mais urbanos do que sei-lá-o quê...
O primeiro é um CD-R que comprei na Feira Medieval em Lamego (não me perguntem o que estava lá a fazer, ok?) e que o bacano da tenda queria 7 euros por ele quando se topava que a caixa era aquela de CD-single, a capa era uma impressão manhosa, impossível de saber o nome dos artistas e claro que via-se que era um CD-R com uma estampa manhosa para parecer oficial. O que percebi mais tarde é que mazika.com é um portal livre de música árabe - seja lá o que isso quer dizer... Saiu a sorte grande apesar de tudo! Ah, e a negociação ficou pelos quatro euros que justificam as 18 faixas de Pop de arabescos, algumas com House tão falsificado como a rodela auditiva,... uma festa mesmo!!! Provavelmente deve ser tudo do Líbano mas não tenho a certeza. Mais certo é que isto deve ser o Pimba árabe mas soa bem e não sei o que eles cantam. Mas só assim é que se consegue curtir Pop, não? Nos anos 80 não percebia o inglês que os artistas Pop cantavam e era bem mais feliz do que mais tarde quando entendi as pobrezas líricas que cantarolavam. Mais estranho é ver os vídeos no youtube, tal como os clips Bollywood nos restaurantes indianos, em que pouco a pouco o corpo feminino também é explorado como no Ocidente, os gajos parecem uns broncos como qualquer norte-americano, as bundas saltitam, etc...O mundo inteiro transforma-se numa MTV gigante!
O segundo CD é um digipack (uau!) de música turca fazendo versões de monstros do Pop/Rock Ocidental: Sting, R.E.M., Madonna, Michael Jackson, Black Eyed Peas e ainda clássicos como It's Raining Men e Can't Take My Eyes Off You... Ouvir na rua o Smoke in the Water (dos Deep Purple claro) nesta versão é qualquer coisa! Foi o que me aconteceu em Badajoz em Setembro, na Noite Branca / Noite dos Fanzines. Fui a correr ao DJ de serviço perguntar o que era, resposta: Dolapdere Big Gang... Comprando o disco no discogs esperava uma bomba mas infelizmente a banda não tem génio a fazer as versões pois respeita ad nauseam as vocalizações dos temas originais, com a desvantagem que elas não tem a graça de Stipe ou Jackson, se quisermos ficar só pelos Michaels. São quase uma hora de "Ídolos" com uma orquestra de ritmos e texturas turcas que dão uma cor exótica a temas insuportáveis Pop - os bons momentos são quando os temas são bons de origem como o referido Deep Purple ou os Depeche Mode ou o Billie Jean. Ao menos que cantassem em turco estas músicas tal como Rachid Taha fez com os Clash! Sempre teria mais vida! Local Strangers (Yakartop; 2006) chega a ser tão plástico como a capa sugere com a sua bailarina desenhada a estilo Manga. Tal como foram feitos muitos edíficios à pressa no Algarve também esta Aldeia Global prefere o betão invés de materiais tradicionais.
PS
Pimba mesmo deve ser isto e que é ainda melhor que o Pop sofisticado dos CDs. Azeite do bom!
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MdC Tv,
O meu coração é árabe
segunda-feira, 20 de outubro de 2014
Dead Pombo : uma banda de merecido tributo aos Dead Combo!
Como eles dizem algures: Finalmente lançamos um projecto que nos ficou engasgado desde 2005 quando participamos na compilação Portuguese Nightmare, um tributo aos Misfits, e ouvimos a excelente versão de Dead Combo para o não menos excelente tema Angelfuck. Achamos na altura que esta dupla ‘tuga é que merecia ser homenageada e depois de muitos atrasos devido aos compromissos com os nossos outros projectos mais comerciais, finalmente Dead Pombo levanta voo!
Eis o primeiro tema, uma rapsódia que reúne os temas Tejo Walking (2004), Um Homem Atravessa Lisboa (Na Sua Querida Bicicleta) (2007) e Blues da tanga (2011), que mostram como os Dead Combo conseguiram afirmar-se como uma força criativa nos últimos 10 anos. Esta é a nossa forma de homenagear um dos projectos nacionais mais interessantes de sempre. - Dead Pombo (Pica & Zézinho), Almada 2014. Gravado nos Estudios Outsourcing, Oeiras. Agradecimentos ao Walt Thisney pela produção.
sábado, 11 de outubro de 2014
Es positivo lo excesivo
Yello : You gotta say yes to another excess (Vertigo; 1983)
Segui o conselho do Macaco Silva e lá arranjei o terceiro álbum desta banda suiça cheia-de-pasta, o tal último com o Carlos Peron que irá dedicar-se a "darkismos" e "industrialices" enquanto que Dieter e Boris entrarão em grande no Pop (ou deverei dizer synth-pop?) e na Fama.
Comparando aos dois primeiros álbuns, este falta-lhe qualquer coisa, um gancho qualquer, orelhudo para o Top + ou bizarro para apanhar um melómano. Great Mission talvez seja o melhor tema, passado numa selva a transbordar de exotismo "kitsch". O resto soa a algo mais ou menos normal, para o que eles já tinham feito, explorando sobretudo a linha do swing electrónico e entrando até em samplagens irritantes de gajas a gemer ou a dizerem I Love You. Ainda assim, não sei se concordo com o Macaco Silva que este é o último álbum de jeito dos Yello - tanto que gosto do Flag, por exemplo - mas é bem capaz de ser verdade é que daqui prá frente, passaram a construir as suas cidades musicais nos territórios conquistados, sem visão de ir à procura de novos continentes. Ainda assim, dada a qualidade destes senhores, o pior que isto significa é que ainda tenho muitos álbuns para me aventurar com muito prazer...
Espera lá... aventura? Não, se calhar queria dizer antes como um turista acompanhado por um guia, não?
CIA info 81.2
Chegou-me o livro de BD para o qual o Camarada Zograf convidou-me!
É uma antologia de BD, no âmabito da Bienal de Arte de Pancevo, cujo tema é "Escultura". E como tal só podia dedicar-me a descrever o prazer que dá ver aquelas peças de Arte em Santo Tirso, terra que é conhecida por ser o maior museu ao ar livre de escultura contemporânea, em especial o barracão de Pedro Cabrita Reis...
Lançado em Setembro, neste livro encontra-se outro português, o Tiago Baptista, e ainda a malta do Tonto, o Gianluca Constantini (que inclui uma imagem da sua visita a Lisboa), o Alberto Corradi (comissário da exposição portuguesa em Treviso), autores norte-americanos e, claro, autores sérvios!
sexta-feira, 10 de outubro de 2014
Raízes do Kriminal
Halloween : Projecto Mary Witch (Sonoterapia; 2006)
Este é o primeiro álbum de Halloween, a melhor coisa que aconteceu em Portugal neste milénio... É um disco mais pesado e primário do que o segundo álbum (de 2011 e tão aclamado aqui neste blogue como noutros media). A misantropia e sexismo estão no pico, a decadência urbana é mais descascada, e os instrumentais são simples, há alguns clichés do Hip Hop 'tuga (ou do Hip Hop em geral) mas já temos aqui o Halloween que todos adoram: letras para quem ignora a realidade dos pobres e dos negros em Portugal, rimas arrastadas pela voz ganzada, retratos de marginais e criminosos do guetho. É o CD que cria uma figura ímpar no panorama de música portuguesa.
Entretanto descobri que o Allen é Testemunha de Jeová, facto chocante apesar de acreditar em liberdade religiosa. Por outro lado não surpreende, quem leva uma vida criminosa mais tarde ou mais cedo "arrepende-se" e viram-se para a cena dos otários (religião) - o que não faltam são casos de muita malta radical que acaba numa Igreja qualquer... Não sei se faz parte de uma "desinformação" para gozar com as pessoas mas este caso até poderá ter piada porque se o gajo levar balázios de um rival, Halloween vai bater as botas porque não pode aceitar sangue de outros! Será das mortes de estrela nacional Pop mais iconográfica desde o António Variações! Cool!
Prefácio em QUADRADINHOS
Escrevi o prefácio para este catálogo / antologia de BD portuguesa ligada ao Festival de BD de Treviso. O livro é bilingue (italiano / inglês) e participa autores que já passaram pelo Mesinha de Cabeceira como Jorge Coelho ou José Smith Vargas, coisa bem eclética como podem bem perceber. Mais que eclética é institucional com a vantagem de estar bem feitinha!
Fica aqui um excerto do meu texto: (...) Quando se tenta fazer o retrato de um país através das suas actividades criativas nunca se é consensual. Se um país possuir uma indústria esta será mais fácil de identificar pelos seus modos de produção (como acontece com a BD dos EUA, Japão ou a franco-belga) mas quando chegamos à produção de autor, esta nunca poderá ser colocada num grupo fechado porque de cada autor espera-se um trabalho individual, personalizado e visionário. Pelo meio há ainda toda uma enorme palete de tons porque aos autores podem ser pedidas encomendas comerciais ou institucionais ou porque conseguem furar dentro da “máquina”, algumas vezes impondo as suas regras sem comprometerem o seu estilo pessoal, outras vezes não...
A BD portuguesa é na essência feita de BD de autor que começa explosivamente com Rafael Bordalo Pinheiro (1846-1905) e vai sempre sendo interrompida ou recuperada com as atribulações históricas do país – como exemplos: o Estado Novo e o crítico Carlos Botelho (1899-1982), a Revolução de 25 de Abril e o grupo experimental da revista Visão (1975/76). Na realidade só houve um momento industrial e foi durante o tempo do isolamento do país pelo fascismo, que criou um proteccionismo e permitiu algumas décadas de profissionalismo na área da BD. Encontramos nestes tempos “de ouro” (como os coleccionadores da nostalgia chamam) vários desenhadores virtuosos ao nível de outros internacionais. O problema era que as revistas de BD, todas elas infanto-juvenis, ou eram controladas directamente pelo Estado ou indirectamente através da Censura e por isso as temáticas não saiam das balizas da História (hipócrita) de Portugal, do nacionalismo tosco e claro de bons costumes familiares, higiénicos e físicos.
Não admira que, alguns autores se tenham fartado e tenham imigrado, como fez Jaime Cortez (1926-1987) para o Brasil – inaugurando lá uma escola de BD e até a primeira exposição de BD no mundo!; ou Eduardo Teixeira Coelho (1919-2005) para Espanha, Inglaterra, França até se fixar em Itália (onde ganhou o Prémio de Melhor Desenhador Estrangeiro em Lucca 1973); ou ainda Carlos Roque (1936-2006) para a Bélgica, entre as décadas de 40 e 60 que são marcadas por grandes vagas de imigração de portugueses, sobretudo para a reconstrução da Europa pós-Guerra, à procura de melhores condições de vida. Portugal não só era um país atrasado culturalmente como era economicamente – o Governo de Salazar acabou com as fábricas para não ter massas proletárias, que trazem sempre reivindicações sociais, acreditam nesta lógica!? Sair deste pesadelo fascista não foi fácil nem o que veio depois com uma sociedade mal preparada para quase tudo como por exemplo fazer comércio com BD. Daí que ainda hoje há exemplos de autores à procura dos grandes mercados da BD porque em Portugal “não há nada” como Jorge Coelho (1977) e Rudolfo (1991) que felizmente podem trabalhar nos seus estúdios ou em casa e não tiveram de imigrar prá “gringolândia”. (...)
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quarta-feira, 8 de outubro de 2014
Ideias negras
Hangover Heartattack : A tribute to Poison Idea (Farewell + Network of Friends + Ataque Sonoro; 2003)
20 bandas de vários pontos do planeta (sobretudo da Alemanha, EUA, Austrália e Brasil) fazem um tributo aos Poison Idea, uma das principais bandas do Crossover dos anos 80 (ao lado de D.R.I, C.O.C. e The Accüsed), ou seja, falamos de velocidade e sujidade punk / hardcore com o rigor matemático do Metal. Os Poison são conhecidos de andarem na estrada mesmo que percam dedos dos pés por infecção gangrenosa entre mil e uma aventuras de excessos de drogas, álcool e rock'n'roll whitetrash, e por isso não é à toa que merecem todo o respeito de bandas famosas como Pantera ou Napalm Death. Infelizmente não são estas que se encontram no CD mas outras dentro do espectro Hardcore e que não me parece que tenham acrescentado muito aos originais, tirando os Paintbox que meteram alguns samplers e loucura japonoca, os Mata-Ratos que traduziram a letra para português (tal como fizeram mais tarde na compilação de Misfits pela Raging Planet) ou os The Hellcandidates a puxarem para o Hard'n'Heavy (redudância) foleiro... Se calhar o disco ouve-se melhor do que se fosse um disco dos próprios Poison Idea - imagino que seja mais penoso ouvir o mesmo registo da mesma banda do que o mesmo registo por várias bandas, especialmente quando não se é fã do Hardcore como é o meu caso.
Seja como for cabe tudo em 48 minutos, podia ser pior, neste CD com tratamento de luxo: um digipack com um livro de 100 páginas, encrustado à embalagem, que inclue entrevistas à banda e um diário de uma turné. Só é pena estar cheio de erros ortográficos e afins. Pelos vistos três editoras não foram suficientes para se fazer revisão de texto.
Betos!
Finalmente recebi o número da Pangrama em que explico que "Os betos venceram..." (na cultura portuguesa), misturada com outra já publicada na Suécia e um pósfácio... Enfim, uma fragmentação que até parece arte contemporênea, que bem!
Demoraram dois anos a lançar este número e quatro meses a enviar-me exemplares!
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