Rosebud... Quando se chega à "Casa dos Quarenta" a malta começa a escrever as suas memórias para preservar algo que lhe é ou foi querido. Será um fenómeno do mundo Pop da actual sociedade hiper-informatizada ou apenas uma Midlife Crisis? Não sei responder a isto até porque também já me meti nestas andanças mas numa destas opções vamos encontrar o âmbito deste livro.
Infelizmente Dico (quem assina assim!?) falha redondamente no que pretendia fazer, o que é uma pena porque se há algo que teve piada no meio português das músicas urbanas foi justamente o Heavy Metal - até mais que o Punk. Só que Dico cospe no prato onde comeu, fazendo moral sobre a "violência e destruição" que acontecia em Cascais durante os concertos no Pavilhão Dramático - era essa destruição que animava aquela vila de betos, dick! Ou condenando o parrícidio cometido por Tojó dos Agonizing Terror em 1999 que deveria ser algo que se devia celebrar como uma tentativa do fim desta nossa sociedade portuguesa paternal e mimada - embora se saiba que o Tojó era um tótó mas no plano simbólico é um marco importante na transição da ruralidade para uma nova urbanidade em Portugal. Como Tiago Guillul bem que me dizia que os metaleiros não tem percepção do seu próprio legado...
Saltando do Panque do Senhor para o Sr. Rob Zombie, este dizia que não havia público de mente mais aberta que o do Metal, uma música até pode ser Drum'n'Bass mas se tiver um Riff de guitarra está tudo bem! O livro de Dico mostra que isso não é verdade, pelo menos com os metaleiros portugueses, que tal como outras tribos urbanas de cá são realmente a personificação do horrível termo tecnocrata "nichos de mercado", fechados num auto-consumo, ignorando o que não está fora do seu círculo social e cultural. Por isso, surpresa do caralho! O Dico não devia saber do passado da música portuguesa e ao descobrir ficou tão fascinado que mais de metade do livro é dedicado a bandas Rock dos anos 60 e 70 psicadélicas, progressivas ou de Hard Rock / proto-Heavy Metal - ou seja, temas que já tem sido abordados noutros documentos escritos ou áudio-visuais mas que aqui são repetidos apenas porque Dico nunca pensou fora da caixa dos Cenobitas do Hellraiser. Ficou pasmado porque José Cid contribuíu para o "Metal" português nos seus tempos de Prog Rock. Mais vale tarde do que nunca? Sim tudo bem, só que não sobrou espaço para o que interessa, o período rico em histórias dos anos 80 para a frente, que ainda não foram contadas.
Seja como for Dico também não parece ter capacidade para as contar porque todo o livro é um enumerar de "factóides" como acontece neste tipo de livro feitos por fãs e que pecam ainda mais por se armarem em académicos, cheio de notas chatas que explicam, por exemplo, o significado de "Cortina de Ferro" - pois é, podia ser um programa de uma rádio pirata nos anos 80, né? Ou o que é uma Demo-Tape, fixe, mas não explica qual foi a importância dos Braindead, Thormenthor, Moonspell ou Shrine. Nem se percebe o que significava ser metaleiro nesses tempos em que andar com cabelos longos equivalia a ser gozado ou a levar porrada na rua pelos Skins. Os metaleiros pareciam uns anjinhos e as metaleiras eram autenticas pitas-princesas de ter fantasias eróticas de corar a Guerra dos Tronos. Sim nos anos 80 até meados dos anos 90, os metaleiros eram uma tribo a suar de juventude e elegância, antes de eles passarem a ser programadores informáticos gordos e elas em casa prenhas com folhos do Goth-Metal. Significava que quem pertencia a este mundo do Som Eterno (ao que parece alguns metaleiros chamam isto ao Heavy) fazia um real esforço militante que incluia editar fanzines, lançar demos e outros registos fonográficos, fazer programas de rádio (ainda hoje há sempre um programita depois da meia-noite numa rádio da província ou isso já acabou?), organizar "tape-trading" (trocar k7s e vídeos por listas de correio) e distros. Este fascinante mundo parece já surreal ter existido agora que estamos na web.2., sendo que o livro não mostra quase nenhuma documentação relevante nesse sentido. Também ficou de parte a influência real de fenómenos como o Grindcore, Black Metal ou outros sub-géneros na cena metaleira portuguesa.
Mais citações (sim porque o livro é preguiçoso e metade dele é escrito dessa forma): Nem os Guns nem os Stones deram cabo de mim / foi tal o xinfrim / malditos headphones (Repórter Estrábico). A competição de quem têm o maior pénis é outro sintoma dos coleccionadores / fãs / melómanos que escrevem estes livros e quase sempre chega ao ponto da incongruência, não faltando pelo menos uma fotografia em que o autor aparece algures (aqui é o Dico em pose com a sua banda Dinosaur), bilhetes de concertos míticos, peças de orgulho como um poster autografado de Quorthon (dos Bathory) semi-nu à Conan o Bárbaro de cueca de couro e espada na mão, etc... Tudo bem, há sempre curiosidades gráficas interessantes ou então motivos para nos rirmos. Já o cartaz do (primeiro?) Festival Super Bock / Super Rock que não tem assim tanta banda de Metal que justifique a sua reprodução, não só porque é um evento popular cuja memória ainda não é tão curta, e pior ainda, além que parece que o livro foi patrocionado pela marca de cervejas porque é publicado na última página do livro. Seja como for, é apenas um detalhe porque graficamente o livro é o desastre típico de livros de amadores, vanity press ou não, parece que foi feito em 1986 - tal como os livros de Aristides Duarte, os dois volumes intitulados Memórias do Rock (2006-10), ler resenha crítica no Underworld #20.
Este foi o primeiro esforço para a História do Metal português, alguém o tinha de fazer e Dico teve os "Colhões de Ferro" para tal, parabéns seja como for mas espera-se que um dia apareça "A História Completa".
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