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O maior choque é só agora aperceber-me que o Punk sempre teve um fetichismo pelo coleccionismo, algo que pensava que só teria acontecido mais tarde após uma geração aburguesada... mas não, desde do inicio que se falam de edições limitadas, de vinis coloridos e outros exercícios mercantis manhosos que repudio. Não admira que se diga que o Punk salvou a indústria fonográfica da crise, essa mesmo que queriam destruir...
Visualmente mostra duas ou três coisas, uma é sem dúvida o visual das capas dos discos que é empobrecido pelos orçamentos DIY mas que em compensação acabam por ser mais ricas em força gráfica. Basta dois exemplos tão díspares como a capa dos Offs que trazem a violência para este mundo puro e virginal dos vinis ou uma dos The Special A.K.A. a mostrarem a sua audiência 8uma troca de papeis interessante), para se perceber as novas potencialidades de comunicação que as capas trouxeram. No entanto, pela fragilidade destes objectos tão simples é também imediato perceber-se quem queria ser "boys band" do rock mantendo capas de fotografias da banda e quem queria fazer manifesto e agitação com capas com outro tipo de mensagens - e daí os Sex Pistols (inconscientemente) e os Crass (conscientemente) terem sido os mestres do complicado triângulo música-grafismo-politica.
Por fim, é sempre de referir os quatro singles que davam instruções de como era fácil fazer um disco: a estreia dos The Desperate Bicycles (1977) a gravar os dois temas e acabar por dizerem "it was easy, it was cheap - go and do it!", no segundo single tem um dos melhores títulos de sempre, The Medium was Tedium e cantam em Don't Back the Front: "cut it, press it, distribute it / Xerox music's here at last". A seguir temos o single Being boiled (1978) dos Human League a admitirem o custo de 2,50 libras para gravar o disco (o valor da k7 para onde gravaram?) e por fim o icónico (ou deveria ser) Work In Progress 2nd Peel Session (de 1978) dos Scritti Politti com um orçamento mais exacto de como editar um single... Com estes gestos começa todo um novo mundo, se calhar este livro é o "Génesis" da Bíblia Punk, não?
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