quarta-feira, 14 de dezembro de 2016
André Costa : "As aventuras subjetivas de Björk" (ed. autor; 2014)
Não há artista Pop que mais fascine que a Björk - só mesmo os Die Antwoord para competir com ela - dado ao seu estatuto de estrela mundial sem que exponha a bundinha por tudo e por nada como as porcas das Madonnas & Britney Spears. Mais que uma cantora ou música, ela é uma artista mutante e com conteúdo. É natural que apareçam leituras sobre ela, como o caso deste livro brasileiro que faz uma actualização à dissertação de mestrado As aventuras subjetivas de Björk: da emergência de novas subjetividades no universo pop contemporâneo defendida em 2003 na Faculdade de Comunicação da Universidade do Brasil.
Feita uma actualização dos 10 anos de carreira da artista não contemplados pelo trabalho original de André Costa, este deve ter tido gozo em colaborar com a artista visual Adriana Peliano e o projecto gráfico de Maurício Chades para construir um livro manipulável com surpresas inesperadas, fazendo jus à carreira da islandesa. À primeira vista o livro é sem dúvida uma pérola, como se tivesse descido num pedaço de gelo lá da ilha com a bença da Santa B. Uma capa recortada, imagens-postais inseridas entre folhas, vários tipos de papeis e um texto paginado de forma pouco canónica - lê-se primeiro as primeiras páginas, salta-se lá mais para a frente do livro e como um "split-book" continua-se a leitura virando o livro. Sem dúvida a melhor forma de homenagear a sofisticação de Björk.
No entanto, o que temos é mais um texto académico a brincar com o fascínio pelo mundo Pop. Não é o pior texto que já li do género, dá até bastantes referências filosóficas e pensamentos sobre o ambiente da música para quem for curioso mas é aquela escrita que baralha e volta a baralhar em discurso circular para que o leitor comum não se sinta à vontade ou aprenda ideias de forma clara. Constata-se o óbvio, na Academia não há ideias só constatações do óbvio. O livro não é uma biografia da artistas mas uma análise sobre o seu trabalho. Interessante mas péssimo para ler na cama...
As fotografias que ao principio dá-nos estímulo para comprar o livro revelam-se tão monótonas como a tese, sempre imagens de uma boneca cheia de ambiente bling bling infantil e onírico, tornando-se um cliché na terceira foto desvendada. Pior que isso é que imagética imposta recusa a hipótese de ter uma visão análoga de Björk para além de uma bonequinha vintage no País das Maravilhas quando a tese afirma que ela é muito mais do que isso (como bem sabemos): teen punk islandesa emigrada, inocente cosmopolita, princezinha regressada, mulher artista exploratória, mãe colaborativa, divorciada politizada, pedagoga vanguardista, fora todos os avatares que vai criando ou irá criar ainda. Aqui ficamos com a sensação que ela sempre será uma boneca islandesa, pior, um objecto e não uma pessoa. Preguiça intelectual paga-se com preguiça estética.
Por fim, o design do livro é uma boa experiência com "o que um livro pode" para além de ter uma arranjo gráfico super-legível - convenhamos que o texto também não é assim tão grande, o que facilita o design. Faltam mais imagens dos materiais björkianos (capas dos discos, frames dos vídeos, fotos promocionais) para ilustrar melhor o texto, senão temos de estar com o computador aberto para ir acompanhando o que o texto analisa.
Não sendo um seguidor desta artista, sabia que estava a adquirir, um livro giro para ter ideias para futuras edições que venha a fazer. Obrigado, nesse caso.
Para os fãs portugueses assanhados, o livro foi comprado durante o super-porreiro evento Zinefest Pt mas creio que podem pedir à Montra Graphics.
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