terça-feira, 31 de dezembro de 2019

Dear 2019

foto: Simão Simões.
Marcos Farrajota curte Freaker Unltd#6 após visita a excelente exposição Sunshowers.
Sem tretas, ao contrário do Pinóquio-Led que está a engrupir a dama num jantar nada romântico na merda da Lx Factory

- Ian F. Svenonius : Censorship now!! (Akashic; 2015)
- Charlotte Salomon : Vida? Ou Teatro? Charlotte Salomon. Berlim, 1917 – Auschwitz, 1943 (Museu Colecção Berardo) + Life? Or Theatre? (Taschen; 2017)
- Halfdan Pisket : Dansker (Presque Lune; 2018)
- Pietro Citati :  Israel e o Islão : As Centelhas de Deus (Cotovia; 2005)
- Ian F. Svenonius : Supernatural Strategies for Making a Rock 'n' Roll Group (Akashic; 2013)
- Zen : The Privilege Of Making The Wrong Choice (Rastilho; 2018 - orig. 1998)
- Olivier Schrauwen: Vies Parallèles (L'an 2 / Act Sud; 2018)
- Jafar Panahi : Dayereh / O Círculo (2000)
- Bill Griffith : Zippy Quarterly #1-18 (Fantagraphics; 1993-98)
- Mark Beyer : Agony (NYRC, 2016 - orig. 1987)
- Ema Gaspar (curadoria) : Sunshowers (5 Jan - 3 Fev; galeria da Ler Devagar)
- Beherit : Electric Doom Synthesis (KVLT; 2017 - orig. 1996)
- Mark Greif : Against Everything (Verso; 2017)
- Seth : Clyde Fans (Drawn & Quarterly)
- Enda Walsh : Ballyturk (Artistas Unidos; 16/04)
- Rafael Álvarez, "El Brujo" : Ésquilo, nascimento e morte da tragédia (Festival de Teatro de Almada)
- Marcel Schmitz e Thierry Van Hasselt : Vivre à / Living in FranDisco (Frémok; 2018)
- Amedeo Bertolo : Anarquistas e orgulhosos de o ser (Barricada de Livros; 2018)
- Ethel Grodzins Romm : The Open Conspiracy: What America’s Angry Generation is Saying (Avon; 1971)

segunda-feira, 30 de dezembro de 2019

Tal como na BD...


Onde quer que um gajo pare, há sempre malta cheia de boas intenções. Olhem na BD portuguesa cheia de tótós a quererem a expandir o medium mas completamente ignorantes da sua história ou do mundo. No Rock idem idem aspas aspas. Em 1997 nem dei por este CD duplo Biografia Pop/ Rock pela Movieplay. Talvez não teria sido tão entusiasta das colectâneas Portuguese Nuggets há mais de 10 anos atrás se soubesse que já havia esta reedição de bandas rocks portuguesas dos anos 60 e 70 - e 80! 
A selecção é quase aleatória, tanto entra "garagice" dos anos 60, como "Progrissice" dos 70 e depois o "Rock Português" dos anos 80 sem nenhum percurso cronológico, tudo embalado em cores flúor de música Rave - porquê? Para apanhar a nova geração da altura? E é dado também um toque de modernidade com um remix Hip Hop no final do segundo CD com o tema dos Pop Five Music Incorporated que abre o primeiro CD. Smart! Assim temos UHF entre slows de amor dos 60, psicadelia dos Psico com uma versão do Bailinho da Madeira (vomitante) e até Skasada (Rock & Várius) e New Wave (Corpo Diplomático) tudo no meio dos Twists e Hully Gullys dos 60. Uma caldeirada à portuguesa!
É quase insuportável ouvir qualquer um dos CDs de tal confusão de temas, cronologias e estilos - não que não aprecie salganhada, muito antes pelo contrário - mas numa colectânea com a importância de prestar serviço público (a História do Rock português) não corre nada bem... E daí, o que interessa mesmo? As letras são lamechas, pueris ou ridículas, afinal de contas estamos no mundo do Pop descartável em que tudo é húmus para servir de repetições insípidas no futuro - basta ouvir esta selecção que "engrandece" a música portuguesa...

terça-feira, 17 de dezembro de 2019

Xenotopia


De tudo de excelente que se pode dizer de Musique de France (Crammed; 2016), álbum de estreia dos Acid Arab, o melhor ainda é o próprio título. Estes dois produtores electrónicos que assinam o trabalho são franceses (um até é luso-descendente), são branquinhos, são europeus e usam músicas orientais com música electrónica de dança ocidental para melhorar ambas. O título não deixa margens para acusações de apropriação cultural pós-colonial.
O fascínio pelo lado arabesco por europeus não é novo, relembro os nossos Çuta Kebab & Party ou o confuso Muslimgauze, ou ainda indo aos pioneiros Byrne & Eno. Da mesma forma que se encontra o inverso como Ahlam ou Maurice Louca... O que vale é que aqui estamos no "state of the art" deste "género", acho que nunca se ouviu de forma tão nítida e bem produzida este híbrido, que faz todo o sentido se misturar.
Em parte percebe-se que há também uma comunidade de músicos do médio-oriente a ajudá-los como Rizan Said (ligado ao Omar Souleyman!) ou Rachid Taha. Entretanto saiu o novo disco deles com mais participações "genuínas" para os que se preocupam tanto com a pureza das coisas...

sábado, 14 de dezembro de 2019

E Justiça para todos...


Cupid in Reverse (Plastic Head; 1990) é o segundo LP dos The Justice League of America e está classificado no Discogs como Gótico e Post-Punk. Qualquer pesquisa que realize sobre estes gajos ou dá, claro, desenhos animados de super-heróis ou o disco à venda em qualquer lado. Eis a 'net em 2019, a minha pesquisa já deve estar viciada ou por ser uma banda obscura q.b., não se pode encontrar nada mais. Também há sempre a probabilidade de a banda ser medíocre e ter tido uma carreira pouco ou nada interessante que alguém se tenha dado ao trabalho de escrever sobre ela. O disco não é mau de todo, pedaços de Rock Industrial, Indie e sim Gótico... assim todo distribuído sem nunca alcançar um momento alto. Assim como a Internet...

terça-feira, 10 de dezembro de 2019

Renda barata e outros cartoons de Stuart Carvalhais n'A Batalha



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livro co-editado pela Chili Com Carne e o jornal de expressão anarquista A Batalha - no âmbito do seu centenário.

Quando o nome de Stuart Carvalhais (1887-1961) é referido pela segunda vez no diário A Batalha, a 22 de Fevereiro de 1921, dificilmente se poderia augurar um futuro radiante para o cartoonista nas publicações periódicas ligadas à Confederação Geral do Trabalho. Nessa data, o jornalista Mário Domingues escrevia as seguintes linhas: “O sr. Stuart de Carvalhais, colega de Jorge Barradas, sujeito como este a ser amanhã vilmente caluniado por aqueles que ora o afagam, não se envergonhou de aceitar apressadamente o cargo de director do ABC a rir, sabendo como foi injustamente tratado o que o antecedeu. O sr. Stuart Carvalhais julga os seus actos como entende, bem sei; procede a seu bel-prazer. É possível que considere correcta a sua acção. Eu, porém, classifico-a simplesmente de traição”. (...) Apenas dois dias depois, Domingues retratar-se-ia deste duro julgamento. Alegadamente, o Barradinhas teria mesmo merecido ser despedido, mas isso não impediu o jornalista de sublinhar que “no lugar do sr. Stuart, não [aceitaria] esse lugar, não porque isso acarretasse para [si] rebaixamento moral, mas porque esse acto poderia fazer crer ao público, desconhecedor dos bastidores da questão, que não tinha sido leal a sua forma de proceder”. 

Por esta altura, o percurso de Stuart estava ainda afastado do periodismo libertário (...) tinha já colaborado proficuamente no Século Cómico, O Zé, Gil Blas, A Lanterna ou na Ilustração Portuguesa. Em 1914, contribui para o monárquico O Papagaio Real, sob a direcção artística de Almada Negreiros. No ano seguinte, regressa ao Século Cómico, onde inicia a série «Aventuras do Quim e Manecas», e em 1920 junta-se a Barradas em O Riso da Vitória. Depois de se tornar director do ABC a rir, colaborará no ABC e no ABCzinho. Até que se chega a 1923, mais precisamente a 30 de Novembro, e logo na primeira página do n.º 1539 de A Batalha pode ler-se: “Inicia hoje a sua colaboração em A Batalha o conhecido caricaturista e nosso prezado amigo Stuart Carvalhais, cujo lápis exímio e irreverente irá dar aos nossos leitores monumentos de incomparável prazer. Stuart Carvalhais, cujo mérito está acima dos nossos elogios, principia a sua colaboração no nosso jornal com uma série de desenhos, plenos de graça, de comentário ao caso da falsificação dos bilhetes de Tesouro, que tanto tem dado que falar”. 

Os diferendos entre Stuart e a redacção do jornal estariam, agora, plenamente sanados, iniciando-se uma colaboração de três anos com a Secção Editorial de A Batalha. Durante este período, não houve periódicos que tenham recebido mais contributos de Stuart do que o diário, o Suplemento Literário e Ilustrado de A Batalha e a Renovação. Significa isto que Stuart se teria convertido à Ideia anarquista? Ou que teria passado por uma fase monárquica, por ter colaborado em O Papagaio Real e na Ideia Nacional, de Homem Cristo Filho? Provavelmente o mais sensato será rejeitar qualquer uma destas conclusões apressadas. Talvez Osvaldo de Sousa não esteja muito longe da verdade quando afirma que “Stuart era um céptico na política, um anarquista na destruição ideológica e um político-desenhador na expressão do sofrimento, miséria e vida do povo”. 

(...) Ao viver de avenças, de uma produção de uma “média de 15 desenhos por semana”, certamente que não se pode afirmar que Stuart foi, pelo menos nesta década de 1920, “um homem livre” (...) Stuart foi um fura-vidas, que provavelmente viu nas publicações de A Batalha uma forma de se sustentar a si e à sua família e também um conjunto de jornais e revistas que seriam a casa natural para receber o seu golpe de vista impressionista sobre a desigualdade, a exploração infantil, o desemprego, a fome, a crise da habitação, a mendicidade, a prostituição e a questão feminina. 

(...) Apesar de a colaboração de Stuart se iniciar no diário A Batalha, no qual publicou 23 cartoons até à edição de 25 de Dezembro de 1925, é no Suplemento Literário e Ilustrado de A Batalha, fundado em Dezembro de 1923, que se podem encontrar mais trabalhos gráficos da sua autoria. Ao todo são 66, entre cartoons e ilustrações. 

(...) Stuart não mais regressaria aos periódicos de A Batalha, que passavam por uma situação interna complexa: além da instauração da ditadura militar (...), a direcção da secção editorial estava sob fogo do jornal O Anarquista, que acusava os colaboradores do Suplemento, do diário e da Renovação de serem jornalistas profissionais, sem ligação ao meio operário. (...) Não será displicente considerar-se que esta também foi uma das razões para que Stuart não mais emprestasse a sua caneta a A Batalha e que aqui terminasse a sua aventura libertária: à sua espera estava agora a redacção do Sempre Fixe, que o acolheu até à sua morte em 1961. 

 As várias monografias acerca da vida e obra de Stuart (...), pecam todas pela quase total omissão da sua passagem pelos periódicos libertários. Se estas falhas são voluntárias ou mero desleixo pouco interessa aqui, mas certo é que as breves e raras menções a esse período se resumem a um punhado de reproduções gráficas, a considerações genéricas sobre o seu “anarquismo de rua”(?), tudo enquanto se aflora en passant que o autor também fez uns bonecos para as publicações libertárias. 

(...) Sirva então este modesto livro para dar melhor conta, a um tempo, da riqueza múltipla do trabalho de Stuart, sem no entanto cair numa ardilosa hagiografia do seu papel autoral, nem reivindicar uma actualidade que cabe apenas a cada leitor avaliar. E, por outro lado, para mostrar como Stuart foi, entre muitos, um importante contribuidor para a feitura da obra colectiva e centenária de A Batalha. - António Baião no prefácio do livro

domingo, 1 de dezembro de 2019

Olive Metal


Os metaleiros são hipócritas como se sabe, andam sempre a arrotar postas de pescada e a perseguir quem é ou não "True" e isto e aquilo mas assim que há uma nova tendência no mercado da música pesada, viram-se logo para ela. Estes Earth Electric nitidamente surfam sobre a onda retro-metaleira criada pelos Ghost e o seu Metal para donas-de-casa. Não haja dúvidas sobre a qualidade instrumental de Vol.1 : Solar (Season of Mist; 2017)! É Hard Rock pesadão com uns sintetizadores ácidos, guitarradas bem rasgadas, uma bateria energética (como aliás, já não ouvia há muitos anos do Camarada Martins) e breaks de quem sabe. Som do caraças! Mas cada vez que oiço aquela vozinha de virgem da Carmen Simões lembro-me que o problema não é chupar os anos 70 mas antes o Gógó Metal dos anos 90. Vade retro! Ah, o disco acaba com um ripanço à Michael Gira porque os metaleiros passaram a ouvir Swans há 15 anos para cá...