segunda-feira, 31 de outubro de 2022

Hero Peligro

 


Já dizia o REP que o sinal de envelhecimento é quando os teus heróis começam a morrer. Bem sei que é uma simplificação mas cheira-me que começa aqui o meu fim também. D.H. Peligro faleceu este fim-de-semana. Baterista dos Dead Kennedys, banda da minha vida e do Mesinha de Cabeceira já agora pois logo no número 0 gamei montes de imagens de um disco deles para fazer umas montagens "punkis". 

Durante anos sem acesso aos discos deles - tal como dos Pixies - porque não tinha guita, a música aparecia em k7s gravadas de sabe-se lá quem. Uma vez apareceu uma fotografia deles numa revista brasileira de música e foi tudo um choque: o Jello Biafra estava de costas - por isso ainda demorei mais uns tempos a ver-lhe a fronha -, os gajos eram punks mas não tinham as cristas gigantes coloridas como os ingleses, os guitarristas pareciam uns "nerds" de uma escola de arte e depois havia um gajo negro. Nada melhor do que isto para dar cabo de todos os clichés estéticos, raciais e musicais. Obrigado DK! Quanto a Peligro admito que recusei-me a ir vê-lo no regresso dos Dead Kennedys sem Biafra, pareceu-me esturro e fraude. Na realidade preferi esperar alguns anos para ver o Biafra sem os DK. Desculpa lá qualquer coisinha. 

Rest in Punk!

sexta-feira, 28 de outubro de 2022

#37: Forceps

 ESGOTADO



Este é o número do Mesinha de Cabeceira que comemora de vez os 30 anos de actividade deste fanzine - o número zero saiu em Outubro de 1992!

E é um prazer poder publicar Forceps de R. Paião Oliveira em formato físico - originalmente foi publicado em linha no sítio bandasdesenhadas.com - com a sua estética Arcade 8bit embrenhada em tecno-misticismo patchouli.

Uma BD selvagem mesmo que cada pixel seja trabalhado horas sem fim pelo autor, de forma obsessiva e desgastante, ultrapassando a máquina para criar uma parábola que só os mutantes do futuro irão venerar.

RPO é mais um artista que mostra como a cena da BD portuguesa está viva, com ideias e projecção internacional ao ser publicado na última Kuti , publicação de referência com estadia em Helsínquia.

Foi para isto que o Mesinha foi criado.
Foi para isto que o MdC continua a ser publicado.

Obrigado RPO!

zzzt

36p. a cores, formato "comic-book", ESGOTADO este número (#2 do vol. XVI)... talvez encontrem ainda na Tigre de Papel, Kingpin, Snob, Matéria Prima, ZDB, Utopia, Socorro, Alquimia e Tinta nos Nervos.


FEEDBACK:

Estive a ver o mesinha com a BD do Paião Oliveira e parecia que me estava a ser revelado um grande segredo esotérico... Ele não fará parte da Golden Dawn ou algo assim? Achei fascinante
Nunsky (por email) 

 Folheando (...) instintivamente somos remetidos para a dimensão harmoniosa e infalível dos manuais de instruções de montagem da IKEA, apresentados em linguagem Lego, com cores lisas e tons tranquilizadores. Apesar do aparente esquematismo inicial, vislumbra-se uma leve cadência em lenta progressão, uma bem ensaiada coreografia mecânica e precisa a acontecer diante dos nossos olhos. Em suave dinâmica Minecraft, peça por peça, um procedimento após outro, e eis que surge um mundo novo - camada em cima de camada, cada vez mais complexo, totemizado, inexpugnável e arrogantemente vertical. De repente, algo surge ameaçador no horizonte... objectos voadores, que se dirigem imparáveis contra as duas torres siamesas. O rombo na estrutura é notório, mas a destruição não opera os resultados esperados. Os elementos primordiais reagem e de forma orgânica e simbiótica, com sequências a acontecerem em cadeia, por reprodução ou por simetria, movidos por uma febril força criadora que se expande galopante, acumulando cada vez mais elementos. O novo novo mundo aí está refeito, mais complexo e simultaneamente orgânico, uma emulação dos dispositivos tridimensionais pixelizados, esféricos e novamente perfeitos. Eis uma mulher, o ser feminino - o principio e o fim de tudo, uma esperança que se renova. Afinal, parece que nem tudo estará irremediavelmente perdido...
Erradiador in My Nation Underground


(...) un cómic experimental y mudo, que propone, tras una portada de pixel art, la exploración de una estructura fija sobre la que operan unas máquinas, alguna inteligencia ignota, y que se va transformando página a página hasta desbordarse y acabar creando nuevas formas humanoides. El dibujo vectorial y la perspectiva isométrica que domina la mayor parte de las páginas recuerda a videojuegos de 8-bits como Knight Lore (1984) o Solstice (1990), pero sus colores, si bien son planos y limitados, brillan con la pulcritud de las técnicas de impresión más actuales. Se trata de un viaje sensorial, que captura nuestra atención con el ritmo que imponen las viñetas a página completa y el juego que se propone, que invita a fijarnos en los detalles que van cambiando de una imagen a otra. Las simetrías y asimetrías que se van construyendo resultan muy estéticas: es uno de esos fanzines cuya lectura resulta gozosa, porque genera una cierta sensación de orden muy agradable, si bien también sabe subvertirla en unas páginas finales mucho más barrocas, aunque sigan respondiendo a la misma cuadrícula. (...)
 
I like it a lot. I find it very inspiring. I have this obsession with users' manuals and I find there a similar vibe. I love as well the "in process" layout. I want to make something like that where the reader see the pages being built/ transformed page after page. And (probably not intentional but) it's funny to look at the pages' transparency.
Samplerman (via tumblr)


zzzzzzzzzzzzzzzzzzzzttttt


Here's the Mesinha de Cabeceira's issue which celebrates, once and for all, the 30 mother-farting years of radioactivity of this fanzine.

And so, it's a pleasure to be able to publish Forceps by R. Paião Oliveira i.e., in physical format (as it was originally published online, at bandasdesenhadas.com) with its kind-of Arcade 8bite-me-hard aesthetic, steeped in a proper techno-mystic etherealness o'patchouli.

A wildly-ugly comix, and proudly so, even if each atome-pixel is worked thru endless hours by the Great Authority, in an obsessive-compulsive and/ or exhausting manner, by means of a slow making of love-sweet-love with the machinery in order to generate/create a parable that only the mutant-bodies-and-souls of the far-future will venerate.

RPO is yet another artist who shows how the portuguese comics scene is alive i.e., Portugal is a beautiful circus, a core-monster of artists, as happily exemplified in the most recent spawning of Kuti magazine, a landmark publication forever nestled in the cold comforts of Helsinki.

This is what Mesinha de Cabeceira (in English means "Bedside table") was created for, and why it continues to be published.

SOLD OUT, try Fatbottom Books (Barcelona), Floating World (Portland), Quimby's (Chicago) and Le Mont en L'Air (Paris)

sábado, 22 de outubro de 2022

30 anos de MdC

número zero, capa desenhada por Pedro Brito menos as "letras" que foi Marcos Farrajota

Foi neste dia em 1992 que eu e o Pedro Brito, com 19 e 17 anos respectivamente, "lançamos" o fanzine Mesinha de Cabeceira para entrar à pala no Festival de BD da Amadora. Este não era o principal motivo de termos junto umas 20 e tal páginas com montes de colaboradores mas foi uma oportunidade. Se fizéssemos com aquela data na cabeça, conseguiríamos entrar no festival porque podíamos reclamar à entrada que íamos deixar a nossa publicação num stand para os vender. Acho que era assim... Foi em 1992  que o Festival da Amadora passou prá Fábrica da Cultura e prometia - e conseguiu - tornar-se no evento mais importante de BD em Portugal. O maior não quer dizer o melhor, e rapidamente deu para perceber a dada altura que a BD não interessava aquela gente mas sim o evento em si. Num concelho onde não há nada a nível cultural - este "nada" pode significar apenas "mediático" porque se calhar há sempre uma banda Rock numa cave a tocar ou algo do tipo - o que vale é manter a engrenagem a andar sem pensar ou ter cuidado com artistas, Arte e BD.

E saiu o número "zero", estranha lógica de "teste de mercado" que corrigimos assim que pudemos com o duplo 2/3.

O principal motivo - vá vamos ao que interessa - era fazer o melhor fanzine do burgo. Eu (de Cascais) e o Pedro (do Barreiro) conhecemo-nos em Lisboa, no Clube Português de BD, que nessa altura já não fazia nada a não ser, ser um espaço de encontro de colecionadores velhos de BD, aos Sábados à tarde num espaço de uma freiras ou lá o que era - o que fazia os velhos da BD esconderem muito bem algumas das suas publicações. Ali, os jovens ficavam à toa, embora o simpático Geraldes Lino tentasse levantar os ânimos. E foi lá que nos conhecemos todos: eu, Pedro, João Fazenda (com 13 anos), Ricardo Blanco, Arlindo e Jorge (d'O Moscardo, o único zine de crítica à BD até hoje!!!), Arlindo Yip Sou, Miguel Falcato (creio) e mais uns quantos - entre eles muito à distância porque perceberam que aquilo não era para eles, o Bruno Borges e o Nuno Neves (do Serrote) que fizeram os excelentes graphzines Crash e Speed Comics, e que muitos anos mais tarde iria reencontrar noutras situações. Mais tarde seria a Tertúlia Shock do Estrompa o local e dia da semana (Quinta-Feiras) de eleição prá malta jovem e rebelde.

O Mesinha era para ser também o nosso espaço de trabalho. Eu não me sentia bem com o desenho e o Pedro com a escrita. Fizemos parceria, eu escrevia e ele desenhava, histórias cheia de sexo violência, efeito dos anos 90. Mais tarde eu comecei a desenhar e o Pedro a escrever as duas histórias. Para além disso percebíamos que o ambiente da BD era morto. Não havia a energia que víamos nas outras Artes, sobretudo na música Punk e Industrial que descobríamos nessa altura todos babados em headbanging violento, sendo o nosso grande ponto de encontro os Ministry. 

Daí que colagem (convenhamos os computadores "ainda estavam a começar"), poesia, desenho e entrevistas a bandas faziam todo o sentido no meio de BDs parvas. Por isso a distribuição passava por lojas de discos como a Torpedo invés de livrarias, ou seja, onde estava a canalha punk e metaleira. 

Também acreditávamos estupidamente na falta de "heróis" (ou anti-heróis) ou séries na BD portuguesa e que a sua criação deveria ser a salvação prá coisa. Erro crasso da juventude embora daqui o grande sobrevivente tenha sido o Loverboy que deu em três (+ um) livros. Já agora, um reparo, depois de fazermos o zine começamos a perceber que havia outros fanzines com atitude e cheios de vida mesmo que fossem de "bêdê" como A Mosca (de onde saiu o Janus!), G.A.S.P. de Diniz Conefrey & cia, ou mesmo o Hips! de Nuno Saraiva e Jorge Mateus, Psicóse Infantil e O Búlgaro

Depois, o natural, cada um para o seu lado. O Pedro fundou a Polvo e saiu de lá aldrabado. Eu criei com os amigos a Chili Com Carne e depois a MMMNNNRRRG - que muitas vezes e até agora editaram vários números do zine. O Mesinha serviu de "estágio profissional" para o saber-fazer da edição. Aliás, outra consequência do MdC foi a colecção Mercantologia onde já recuperei material desde bons velhotes dos anos 70 às melhores autoras do momento (Amanda Baeza e Mariana Pita) já para não falar de BDs de gatos melomanos...

Que dizer mais? Sempre foi uma publicação mutante, até à saída do Pedro sempre assumimos que tinha de mudar de número para número. Com temas em cada número, esquemas editoriais até radicais como censurar um número como se fossemos uns cavacos. Continuei sozinho mantendo um estilo até o quebrar com o número 9 em que dei um maior passo em relação à exploração da BD autobiográfica e que durou ainda alguns números. Depois mais mudanças, no número treze comemora-se 5 anos de existência com o primeiro monográfico, o 88 de Nunsky, autor fora do vulgar que ainda esta semana teve o monstruoso Companheiros da Penumbra editado. O artista Mike Diana proibido de desenhar também teve direito a um monográfico. Antes a Isabel Carvalho que ganhou um concurso onde incluía não só guita mas edição de um livro, neste caso o Allen - por isso, foi foleiro ela dizer anos mais tarde que não fazia mais BD porque nunca tinha ganho dinheiro com esta Arte, aliás, ela foi das poucas que ganhou dinheiro num meio super-precário, mais do que os seus colegas masculinos, cheira-me que para continuar com a "arte contemporânea" tinha de dar este golpezinho.

Em 2002 o André Lemos é quem comemora os dez anos com um graphzine em serigrafia, abrindo caminho para muita réplica mais tarde. Vinte anos em 2012 é solidificado num dos objectos editoriais mais fixes em Portugal, o número 23 (coincidência deste número cabalístico que o Pedro sempre me avisou!) com montes de malta. Regressei à autobiografia em alguns números a seguir. O Nunsky também. 

Até que no ano passado decidi recuperar o Mesinha no seu sistema mais básico enquanto "true zine", ou seja, fotocópia (agora é a lazer tudo), 100 exemplares e com malta (+ ou -) nova a bombar loucura gráfico-narrativa. Tem sido fantástico ver e publicar "sangue novo" como o André Ferreira, Alexandra Saldanha (louca louca louca), Marco Gomes, Matilde Basto, Luis Barreto, 40 Ladrões e brevemente o R. Paião Oliveira. Mais virão espero...

Numa cena que só não foi reacionária e anacrónica nos anos noventa até 2005 - com a Lx Comics, Quadrado, Salão do Porto, Ai-Ai e Bedeteca de Lisboa - sinto algum orgulho em poder mostrar trabalhos que fogem à "bedófilia" e ao zombismo-papa-merda tal como em 1992 em que olhava à minha volta e havia tudo para fazer e tudo para destruir. O problema é que antes a "Merdibérica" era apenas incompetente, nos dias de hoje os "bedófilos" são mais espertinhos e mais hipócritas, sabem vender os seus subprodutos de forma mais convincente. A qualidade da crítica piorou e a desinformação aumentou, por mais estranho que isso possa parecer no mundo da 'net. Se calhar a próxima vida do Mesinha devia ser mais Fanzine e menos Zine, quem sabe?


Capa do próximo MdC (#37) por R. Paião Oliveira


PS - 30 anos merecia uma festa mas o Universo é cruel, para me punir da entrada à pala da Porcalhota, trinta anos depois, estando lá este ano no stand a Chili Com Carne a oferecer um pouco de civilização ao seu público, eis-me agarrado aos horários deles e sem capacidades para organizar uma festa com bandas e o catano. Desculpem meus amigos, olha mas podem organizar uma se quiserem hoje à noite, não se esqueçam de me convidar, hein!?

PPS - Seria estranho não agradecer a alguém com 30 anos em cima. Ficam aqui alguns nomes: Pedro Brito, Arlindo Horta, Miguel Falcato, Nunsky, Pedro Nora, Joaquim Pedro, João Maio Pinto, Pepedelrey, Joana Pires, Marco Gomes, Matilde Basto e todos os autores que participaram nestes 37 números do MdC. Da parte "mercantilista": Ruru Comix, Kus!, O Panda Gordo, A Batalha, Ediciones Valientes e Yuzin.

quarta-feira, 19 de outubro de 2022

Paixões privadas





Paixões privadas com Marcos Farrajota que é Funcionário-Responsável na Bedeteca de Lisboa, Co-Criador da Associação Cultural «Chili com Carne», Autor de Banda desenhada e Produtor de ‘Fanzines’. Credo, que apresentação...

quinta-feira, 13 de outubro de 2022

A queda do ídolo

 


Pá, não é só o gajo do Público que faz plágio a outros, não pá! Eu também sou plagiado! O gajo do fanzine de Metal undergound Fall of the Idol sacou-me a minha tira CAIAM (Centro Anarquista Internacional de Artes Modestas) publicada n'A Batalha em que falo do zine e pumba, assim mesmo sem aviso!

De resto o novo número do FOTI continua sick sick sick, com colagens à barda e bandas tão desconhecidas que até mete nojo.

Já lá vão umas dezenas de anos que não sou publicado num zine de Metal! YES! Obrigado João!