terça-feira, 25 de outubro de 2005

Falar para o Boneco!

Entrevista por e-mail para revista Underworld / Entulho Informativo #17 (Out'05)

Não é fácil entrevistar um fantoche. Especialmente quando se faz parte de um grupo como os Puppetmastaz. Criados em 1999 são conhecidos pelos espectáculos mais engraçados dos últimos tempos. Tem um segundo álbum a sair este ano pela editora independente Louisville. Falar com o coelho Snuggles é pior que fazer uma entrevista ao Rui Reininho se tivesse todo cocado. Afinal o que pode dizer um coelho de plástico que faz parte de uma banda de Hip Hop? DJ GoldenShower tentou a sua sorte e... deu-se mal!

DGSS – Olá!
Snuggles - Oi, meu!
Se o Peter Jackson não fosse um realizador de filmes mas antes um produtor de música suponho que os Gorillaz seriam o seu “King Kong” (a sair) e os Puppetmastaz seriam os “Feebles”. Concordas com esta comparação?
Ah, nós havemos de “King-quistar Kongs”, conquistar King Kong só pelo swing das nossas línguas... Mas chega de “Kong-quistar Kings” [reis]: os Puppetmastaz são os senhores do Bling... Num dia bom consigo identificar-me com os Feebles mas é mais com os Marretas... respondi à questão?
Vocês afirmam que não tem humanos na banda MAS sendo fantoches só podem existir se um humano brincar com vocês! É assim tão séria o anonimato dos “humanos” dos Puppetmastaz? E já agora são fãs dos Residents?
Residência? Presidência? Humanos? Próxima questão! E sim, os Residents são a cena!
Como é que os Puppetmastaz se conheceram?
Vai ver todas as entrevistas que demos no passado. Desculpa mas 'tou farto de responder a essa pergunta, mas basicamente... «first we take Manhattan and then we took Berlin!»
Ouvi dizer que os vossos humanos pertenciam a bandas Hardcore...
Isso era nos velhos tempos, agora são todos rebeldes de plástico mas ouvi dizer que os irmãos Prosetti fazem música para filmes porno Hardcore italianos, já ouviste falar nisso?
Não, não... pois... e se encontrassem o 50 Cent o que faziam ao pobre diabo?
Dávamos os parabéns pelo primeiro disco e depois pedíamos-lhe um Euro inteiro!
O vosso último disco soa mais a Electro-Funk, vocês foram às raízes do Hip-Hop?
Não sei, meu, fomos?
Porquê uma nova editora?
«New money, new label, new tables turned!» [citando o Wizard na primeira música do novo álbum] mas não temos nada contra as virgens [piada à editora Virgin, o primeiro álbum foi lançado pela New Noise subsidiária da Labels por sua vez da Virgin e por fim da EMI].
Apesar de teres uma voz sexy e suave como o Snoop Doggy Dog és feio comó caraças! És feito de quê? PVC? Fibra de vidro? Polipropileno expandido?
Pura alma de borracha [referência a “Rubber soul”, o mítico álbum dos Beatles] e uma cenoura bem volumosa... de 24 carates quero dizer [trocadilho entre “carrot” e “carat”].
E tens sucesso com as fêmeas como o Snoop?
Sou famoso no meio das fêmeas como o sapo Snugg!
Vocês acreditam mesmo que os humanos querem vos tramar? Os Puppetmastaz têm alguma “agenda política” como os Public Enemy? Usando a terminologia deles o vosso Rap é a “CNN dos Marretas”? Ou será antes a “Aljazeera dos Marretas”?
Chega de paranóia: nós gostamos da vida! Evita a CNN como nós fazemos. Penso que nós somos um bocado inimigo para algum público.
Se odeiam tantos os humanos porquê que os vossos discos fazem-nos dançar tanto? É um paradoxo, senhor coelho!
Eu não odeio humanos e fico feliz que o pessoal saltite com a nossa música.
Quando voltam a Portugal? Curtiram estar cá o ano passado?
Siiiiiiiiiiiiiiiim! No entanto não sei quando voltaremos. Porque não marcas tu as passagens de avião?
Foda-se!

E assim foi a entrevista. Cena tramada! Nem dá para encher meia página da revista… o melhor é escrever qualquer coisa mais para não ser despedido por causa de um coelho! Então para quem nunca está atento o primeiro álbum destes «Marretas do Hip Hop» foi editado em 2003 – podem ler uma resenha sobre o disco no Underworld anterior na secção Entulho de Marte. O novo álbum é lançado pela Louisville, uma editora de Berlim, cidade onde os músicos por detrás dos fantoches vivem – os fantoches dizem que apesar de se terem encontrado em Berlim vinham de sítios tão longe como o Japão e o caraças mas depois desta entrevista um tipo deixa de confiar nesta bonecada. E não marca só um regresso às edições fonográficas mas sim um GRANDE regresso! Basicamente estarmos perante o famoso “difícil segundo álbum” que costumam atormentar as bandas… realmente o que um grupo de gajos que se escondem por detrás de um biombo e uns bonecos poderiam fazer de novo? E melhor ainda, a ideia de ser uma banda de fantoches continuaria a ter piada agora que deixou de ser novidade? A resposta até é simples, se “Eminemes e 50 Centes” (apesar de humanos são também uns fantoches do “show-biz”) podem lançar álbuns atrás de álbuns sem um pingo de interesse então porque raios não podem os Puppetmastaz? Só que no caso de Creature Shock Rádio não é só mais um álbum sem nada para oferecer ao mundo, na realidade é impressionante como um gajo não pode ficar indiferente às suas 16 malhas que tanto passam pelo Electro-Funk primordial do Hip Hop dos Africa Bambaataa, pelo Dancehall jamaicano que tanto está na moda (a última tema tem a voz convidada da escocesa MC Soom T), por “singalongs” deliciosamente infantis que bem poderiam estar nos programas do Jim Henson (o criador dos Marretas!), pelo Hip-Hop Gansta que poderia deixar o Dr. Dre muito preocupado, ou pelo R’n’B caricatural lamechas.
Épico poderia definir também os temas que tratam de assuntos tão interessantes como partir garrafas, fingir que já são tantas da matina às 10 da noite porque chegamos à festa muito antes dela começar, ensaio sobre um gajo sentir-se mal, sobre cuspir na rua… enfim uma miríade de coisas mundanas. A qualidade das gravações é poderosa – só assim é que funcionaria claro está – e animará qualquer festa em casa ou na discoteca ou nas festas mentais dos headphones. A toupeira Mr. Maloke, o sapo Frogga, o coelho Snuggles, o lagarto Wizard, o porco Panic e o resto da equipa estão de parabéns.
Visitem o sítio www.puppetmataz.com para estarem atentos às novidades desta bicharada. Lá podem ver alguns vídeos e ouvir algumas músicas. Por cá esperamos um empresário português com a genitalia humana no lugar para distribuir este disco. Puppetmastaz über alles!

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