terça-feira, 26 de setembro de 2006

Finland non-stop

Com o risco de repetir o que o camarada Marte escreveu no ano passado no Entulho Informativo #15 sobre a música finlandesa eis mais uns apontamentos que contribuem para a sua divulgação neste nosso país virado de costas prá Europa.

Mais uma vez é referido desde início o famoso Tango finlandês, que em 2004 (numa primeira visita ao país) tinha-me passado ao lado. Na visita deste ano consegui comprar uma compilação bastante elucidativa deste transgénico musical, trata-se do primeiro volume de “Finnischer Tango / Tule Tanssimaan” (Trikont; 1998) lançado por uma editora alemã bastante interessante e merecedora de mais investigações para quem tiver curiosidades noutros quadrantes geo-musicais. É um CD digipack acompanhado por um livrinho bilingue (em alemão e inglês) que explica este fenómeno bem como a razão da selecção das 24 faixas da rodela. Selecção essa que engloba um período enorme entre 1915 e 1998, ou seja, entre a primeira gravação de tango finlandês e o ano de lançamento da antologia. Assim temos uma visão abrangente deste estilo musical que engloba o galã da cena que caiu em desgraça (ou o Frank Sinatra da Finlândia ou o Elvis do Tango finlandês… ou se gostarem também desta: a Amália do Tango finlandês) Olavi Virta (1915-1972), o enfant terrible que tantos escândalos artísticos produziu nos anos 60 M.A. Numminen que aqui canta um Tango em alemão (WAS!?) satirizando o parlamento e os jovens estudantes de 68 que para se mostrarem prás garinas fingiam saber ler Karl Marx na língua original (oh-oh-oh), ou ainda Brita Koivunen que misturava Tango com Pop (Twist/Yé-yé) em 1966, num período de decadência do género. Foi aliás, esta mistura de Pop/Rock (música urbana e sofisticada do sul da Finlândia - a capital, Helsínquia fica no sul...) com o Tango (música rural e tradicional, popular sobretudo no Norte) que revivesceu o Tango finlandês até chegar aos dias de hoje como a coisa mais natural naquele país nórdico, ao lado da Sauna & do Ski. Há dezenas de figuras para comentar (poetas que morreram bêbados, artistas populares a mugirem o País das Fadas, bandas rock a amplificarem os instrumentos) mas creio que os três artistas atrás referidos já servem de referência para se perceber a riqueza desta música, e sobretudo para se perceber que este Tango nórdico não é apenas uma brincadeira ou mera bizarria musical sem consequência. [4,5; para ouvir nos dias quentes do Inverno e nos frios do Verão]

Avançando no tempo e na estética Pop temos “Softwood Music / Under slow pillars” (Poko; 1989) o último álbum dos Sielun Veljet que é uma freaknhice… foi pela capa do peruano Pablo Amaringo que peguei no CD e foi por ser em segunda mão e barato que o comprei - a mistura fatal de um coleccionador de música. Pelo que percebi das páginas que consultei – 99% delas nessa língua acessível a 5 milhões de pessoas no mundo - a banda existiu entre 1983 e 1992 e deveria soar aos Red Hot Chili Peppers mas mais xamãnicos (mas menos xamãnicos que o Amaringo de certeza!) como nos diz este link. Para mim isto soa antes aos Crash Test Dummies depois de terem tomado mucho ácido, man. Não querendo ser mauzinho porque o raio do disco não é mau também, é com agrado que vamos encontrar violinos amargos, djambés de THC, guitarra acústica (claro) e também guitarra com um feedback bem esgalhado, letras relevantes do "misticismo de cevada" dos seus criadores cantadas em inglês - creio que terá sido o único álbum cantado em inglês por estes “Irmãos da Alma”. Por fim, diria que até soa aos Akron/Family e ao neo-folk psicadélico que tanto está na moda nos dias de hoje. [3,9; quem sabe um dia vá parar às Trocas de Discos]

E já que há Sinatras da Finlândia então a Bad Vugum (e a sua continuação BV2) é a Ipecac da Finlândia! Podem achar exagerada a comparação mas se considerarmos que este país tem metade da nossa população ou que a Ipecac age a nível global (até tem andado a namorar os nórdicos como o noruegês Kaada ou os islandeses Ghostigital) então é mesmo impressionante assistir ao facto que esta editora - a mais importante "indie" da Finlândia - lança a melhor música do seu país, capaz de competir com a melhor música do mundo por aí a fora. Dos divertidos Aavikko a Läjä Äijälä (o criador do Hardcore finlandês) até aos Rockers pós-modernos Cleaning Women, o único defeito a apontar à BV2 (e se insistir numa comparação directa à Ipecac) será do design, que apesar de não ser mau não é tão ambicioso como a música dos projectos editados. Das minhas recentes adquisições "bad-vugumescas" eis:

Chainsmoker tem "Stations" (2003) como o segundo álbum (desconheço o primeiro) e tocam uma electrónica orgánica com cheiros de Rock, Jazz, House, Funk, Dub a trilhar os caminhos já trilhados pelos Sofa Surfers ou os New Order - ou até dos Stone Roses na última música, Leave Tunis now - mas não chega a ser "um mero sucedâneo". [4; porreiro para passar num bar]

Kontackto (DJ de uns tais Kaucas) com "Kasperi Laine & Kummitusorkesteri" (2004) é a outra face da "electrónica orgánica" dos Chainsmoker, ou seja, carrega mais nas facetas Jazz e Dub e afasta o pézinho de dança para ambientes negros, quase psicadélicos e fantasmagóricos (kummitu significa fantasma), estando mais próximo de um TripHop-Glitch que liberta sons fragmentados ao longo das composições. Também lembra os sufocos dos Sofa Surfers sem envergonhar. [4; idem]

Os Phuzy estreiam-se com "Sightseeing" (2003), um mini-CD só de 17m e 5 músicas mas nervoso e energético. Desde do início os Soul Coughing serão a referência desta banda - pela voz e pelos ritmos quebrados - e essa marca ficará presa nos próximos temas mesmo quando eles exploram para outras coordenadas como Reggae e Ska, sempre fundidas com uma boa dose de "ruído branco". Também poderemos encontrar outras equivalências à banda como por exemplo, Urban Dance Squad, Primitive Reason ou Pitchshifter. Bom som! [4; para festinhas serve bem]

Os Ronskibiitti é a primeira aposta em HipHop pela BV2, o que nos deixa logo de "pé-atrás" - que monstro sairá daqui? Mas "Eipä Kestä" (2006) como bem indica é Hip Hop em finlandês, o que não seria um problema se o Rap não fosse em finlandês. Por isso não percebo nada do que dizem - a não ser que soa a italiano (!) e que poderá ser uma cena divertida. Que rimem com as longas palavras finlandesas como «Jossullonjotainsanottavaa» que para nós é nos igual. A produção (instrumental) não é má mas também não é muito original. Na realidade o que se percebe deste disco é que o HipHop/Rap é, actualmente, a grande arma da música moderna contra a Globalização porque, doa a quem doer, a língua materna é recuperada para o circo Pop. A França é prova viva disso há muitos anos. Portugal, Espanha, Cuba, Angola são mais exemplos e agora também podem por o Suomi na lista... [3,5?; Trocää dii Diisqui]

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