terça-feira, 17 de julho de 2007
World Wide Music
v/a: "Hugh Masekela presents the Chisa years 1965-1975 (rare and unreleased)" (BBE; 2005)
Elena Horodniceanu: "Codrule, Maria Ta"" (Thisco + CM Almada; 2007)
v/a: "Borat: Cultural learnings of America for make benefit glorious nation of Kazakhstan" (Warner; 2006)
v/a: "Choubi, Choubi! Folk & Pop sounds from Iraq" (Sublime Frequencies; 2005)
O termo da World Music é como todos sabem que serve para colocar discos fora da prateleira do Rock / Pop - prateleira essa dominada durante décadas pela indústria fonográfica anglo-saxónica. De certa forma o termo é uma forma de colonializar o resto do mundo comandado pelos EUA e os cães ingleses. Ao aplicar um termo como "a música (do resto) do mundo" estamos a subjugar-nos à cultura pax romana em que não perdemos pitada dos artistas da metrópole Britney Spears ou Eminem ou Metallica que visitam de vez enquando as colónias.
Antes de haver o termo já era o Caos para as editoras norte-americanas... E apesar de uma editora como a Chisa ter namorado durante os anos 60 e 70, contratos de distribuição com as grandes editoras Buddah ou Motown, esta última não sabia o que fazer com a primeira no plano comercial, apesar de se viverem tempos de contestação negra nos EUA e em África ou apesar de artistas como o Stevie Wonder serem declaradamente fãs da música editada pela Chisa. A verdade é que tirando um sucesso inicial os colonos não estavam prontos para uma "música afro-americana" (ou seja o tradicional africano com cópulas com o Blues, Soul, Funk, Jazz, Ska) e o catálogo da Chisa, onde Masekela dirigiu, produziu e tocou em várias formações e bandas, parece ter sido esquecido e pode ser alvo de reedição e recuperação como é o caso desta colectânea de raridades e inéditos em volta de Ojah, Letta Mbulu, Baranta, The Zulus e Johanesbourg Street Band. Só o primeiro projecto é mais assumido como Afro-Beat sendo os outros mais ligados a um "popular urbano africano" vulgarizado com um folclore artificial desde os anos 80 (em que a colaboração de Masekela com Paul Simon terá a sua dose de culpa) mas aqui ainda está puro e se ao princípio podemos torcer o nariz e até achar algumas faixas "histéricas" com a segunda audição, ficamos a achar o som mucho cool. [3,8; fica bem ao lado do Ghana e Antibalas]
Seguindo para Leste, próxima paragem, a Roménia com o disco de Elena dificil-escrever-sem-olhar-para-a-capa-do-disco - também conhecida por Cucu... disco misterioso no meio do catálogo da Thisco... ainda mais misterioso que o execrável In Tempus. De electrónico Codule, Maria Ta" não tem nada!!! E de Dark também não - e digo isto porque parece que a Thisco tem tendências para o Dark-qualquer-coisa. Mas é assim mesmo, Codule (...) é um disco de música tradicional romena de uma "Diva Étnica" acompanhada por uma excelente orquestra e orquestração, Orquestra Rádio Difusão Chiginau (da Moldávia) e Anatol Golomoz e Nujnoi respectivamente. A festa dos Balcãs é facilmente reconhecivel em 13 faixas do disco mas apesar de tudo mais calma e com cheiros do Oriente. Em duas faixas parece que estamos a ouvir Fado, deve ser aqui que os nossos povos se tocam. Disco agradável de se ouvir mesmo depois de ter assistido a uma vergonhoso lançamento do disco no S. Luiz, em que a Cucu cantou por cima da música deste CD - isso mesmo, cantando até por cima da sua própria voz gravada... [3,5; Que se lixe os romenos, este também vai prá troca!]
Aprofundando o ex-império do mal, lá para o Cavaquistão ou parecido, temos a banda sonora do polémico filme humorístico de Sasha Baron Cohen que "humilhou" a gloriosa nação do Kasaquistão - que na realidade humilhou os EUA mas era mais fácil vender a indignação do Kasaquistão do que o mongolismo norte-americano. O disco é uma réplica do típico objecto discográfico xunga / pimba, ou seja, design foleiro, degradés e efeitos photoshops de quem pegou no programa pela primeira vez, uma capa que podia vir de qualquer ponto do planeta em que música popular colidisse com o expositor de CD's num café da província ou na gasolineira da auto-estrada. Desconfio até que as faixas estão trocadas ou os créditos no Media Player, síntoma de quem quer brincar ao Pimba até às últimas consequências, ao ponto até de editar música que vem de toda zona balcãnica menos do Kasaquistão (que fica a uns belos milhares de quilometros): Kocani Orkestar e Esma Redzepova são da Macedónia; Fanfare Ciocarlia, Stefan de la Barbulesti e Mahala Rai Banda (da Roménia); e Goran Bregovic (da Bósnia). Estranha manipulação e perversão da Aldeia Global intercalada com sketches do Borat e músicas preparadas pelo comediante. Divertido mas não excessivo... [3,1; emprestado e devolvido!]
Por fim, graças à Great Lesbian Lady fiquei a conhecer a música do Iraque para além da editora Subminal Frenquencies, de que já me tinham falado... Uma editora ímpar em captar som & imagem do mundo. Neste caso estas gravações são todas antes do fim do regime do saudoso Saddam Hussein, havendo até uma raridade vinda dos anos 70, Ja'afar Hassan, ligado aos movimentos socialistas. O impressionate desta música - e ao que parece, a que distingue do resto da música do médio-oriente - é a precursão de metralha que arrasa as músicas. A faixa 6 ilustra um homem a parir um camelo mas tirando isso é música do melhor que ouvi nos últimos tempos, dá quase para tudo: para relaxar (chill out para chic-freaks), para dançar e ainda a imaginar um batalhão de homens a cairem ao chão metralhados ou ainda o homem a parir o camelo... Excelente! Fica aqui a "track-track-list" para ver se conseguem sacar em algum lado já que o CD está esgotado.
1. They Taught Me - Ja'afar Hassan
2. Segue Bezikh - Unidentified
3. Oh Mother, The Handsome Man Tortures Me - Unidentified
4. Yumma, Al Hilou (Mother, Here's My Beauty) - Unidentified
5. Ahl Al Aqi (Oh, People Of Reason) - Unidentified
6. Hecha - Unidentified
7. Choubi Choubi - Unidentified
8. Ya Binaya Goumi (Oh Girl, Stand Up) - Bawin
9. Front My Hope - Ja'afar Hassan
10. Ala Honak (Take It Easy) - Sajada Al Ubaid
11. Mawal / Choubi - Unidentified
12. (Unknown) - Mohammed Al Madloul
13. Ashhad Biannak Hilou (I Admit You Are Beautiful) - Sadun Jabir
14. Walla (By God) - Salah Abd Alghafour
15. Palestinian - Ja'afar Hassan
16. (Unknown) - Souad Abdullah
[4,5; repeat!]
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