Como é
normal, depois de mais uma edição da Feira Laica, cá venho despejar informação de discos adquiridos neste divertido evento que desta vez esteve no Porto.
Começo pelos LP's e pelo mais fácil de ouvir
Encore Tijuana (Avenue; 1970) de
Antonio Ricci Sound mas também o mais difícil de arranjar informação na 'net. O que posso dizer é que estamos perante mais um disco "easy-listening pseudo-mex" tal como o de
Whipped Cream & Other Delights, são tão parecidos que começam com o mesmo tema:
A taste of honey - e sinceramente creio que também partilham da mesmo modelo da capa -
Dolores Erickson. Infelizmente não consegui arranjar uma imagem da capa mas não é nada de especial, é apenas um plano da cara da modelo que se topa a milhas de distância que é dos anos 60/70. A sinopse do disco revela tudo: «Following on the sucess of our previous Tijuana styled album [será por isso que na rodela o disco também está intitulado
Tijuana III?], we are pleased to issue this futher selection, knowing that it will please many of you with its easy on the ear but very danceable sound» - certo e mais nada a declarar, excepto ainda que para ajudar à confusão, na contra-capa o nome Antonio passa para
Antonino!
São bem fixes as sinopses na contra-capa dos discos, acho que até ajudam a perceber o que se está a comprar - como acontece com os livros - porque se perdeu essa tradição? Sempre escusava de comprar tanta porcaria, imaginem pegar num CD dos Slipknot e poder ler algo do tipo "Branded Nu-Metal band with black humorous lyrics and lots of druming enought to please any kid or older family member".
A seguir, os senhores
Dschinghis Khan, grupo alemão xunga de meter medo a qualquer Power Ranger ou Spice Girl, e sim, só comprei por causa da capa e aspecto asqueroso da banda, em especial o tipo do bigode que parece que saiu de um museu da cera.
E a música? É Disco? Acertaram - um Disco sucesso Eurovisão de 1979 apesar das biografias dos membros do grupo tentarem nos enganar dizendo que os tipos tem currículo algo de Jazz, Rock e Pop. Mais? O som é algo histérico circense-russo tipo o
Rasputin dos Boney M? Sim também acertaram! E ao contrário dos seus conterrâneos até cantavam em alemão e tudo. Porque raios guardo este LP? Meus caros, se vissem as imagens do interior (o grupo a cavalo) ou o enorme poster intacto (intacto!) que é oferecido nunca na vida quererão livrar-se de tal monstro Pop.
Sobre a música não há mais a dizer, fiquemos com as curiosidades do tipo dois dos tipos já morreram, um com SIDA - piada fácil mas... ei! mas depois de ouvir o disco inteiro só dá para escrever isto! Seja como for há
mais malta a divertir-se à pala deles como uma banda de Metal
Black Messiah que fez uma versão destes mongolitas.
Mudando de registo e passando para os CD's:
The Band of Blacky Ranchette é mais um projecto do
Howe Gelb e
Still lookin' good to me (Thrill Jockey; 2003) é o quarto álbum numa carreira que começou em 1985. Alt.Country? Claro, som de cowboy moderno com profissão liberal do tipo um Designer com problemas amorosos numa viagem à terrinha ou de frente ao seu Mac num dia de inverno bem friorento a fazer um catálogo chato para uma empresa de cosmética. Com os suspeitos do costume da grande família Alt.Country como John Convertino, Joe Burns ou Kurt Wagner, ouve-se guitarradas tristonhas, banjos e steel-guitars melancólicas para qualquer alma sensível neste planeta. Mas o que gosto mesmo é de Slayer! Lá vou tentar despachar isto algures - talvez encontrem isto na próxima Laica!
Continuando com a calmaria acústica mas desta vez indo para discos de editoras que estavam representadas na Laica:
Mudar de Bina (Bor Land; 2007) é a estreia de
Norberto Lobo. Um disco instrumental (de guitarra acústica) calmo e agradável de se ouvir. Gravado num espírito lo-fi, ou seja em casa ou na rua, com uns retoques de estúdio / produção imperceptíveis. Os nomes de Carlos Paredes (a quem é dedicado e de quem Lobo faz uma versão,
Mudar de vida) e John Fahey são imediatamente colocados ao dispor de quem quiser ler a nota de imprensa da própria editora deixando poucas dúvidas para quem quiser "pegar" no CD. A capa de João Abel Manta reforça as ideias de paralelismos e de homenagem a Paredes.
É um álbum de todas estações e é multifuncional, bom para estar no sofá a ler um livro com o gato no colo a exigir festinhas, ou para outras coisas que se possam lembrar - e melhor ainda, não irrita porque não é pretensioso nem pindérico (como aquelas chachadas de Munchen e In Her Space que Lobo fez/faz parte). Ainda assim, estarei a ficar kota!?
Por último, a estreia de
Último com
Notebook (Marvellous Tone; 2007) em plena euforia desta editora cheia de sangue na guelra. Mais uma edição linda e mais música electrónica estragada. Investindo em Glitch e Bytes tolos, a música de Último tem alguma funcionalidade de outrora mas entra também em semi-non-sense (os ritmos latinos da faixa
Salsa Cocktail) que o podem levar a ser considerado "experimental" também. Som luminoso funcional versus som negro experimental? Parece ser a fórmula, talvez daí o rótulo "Braindance" que a editora esteja a reclamar? Braindance? Então onde anda o "brain" desta malta que não credita os ilustradores das capas nas suas próprias edições!? Não pode ser de vergonha, então é o quê!?