terça-feira, 26 de agosto de 2008

Pais & Filhos

Não há banda Rock mais importante dos últimos 25 anos como Los Melvinos... é capaz de ser exagerada a afirmação e assim só de repente, lembro-me logo dos Sonic Youth, Big Black e Butthole Surfers para fazer concorrência. E eles ainda valem a pena? Não será Nude with boots (Ipecac / Sabotage; 2008) só mais um álbum? Fiel leitor, tem toda a razão e é certo que temos aqui Die Melvinen em estabilidade de formação - não me lembro se a banda conseguiu alguma vez gravar mais do que um disco com os mesmos membros - com a incorporação definitiva dos Big Business, filhos espirituais de Les Melvines desde 2006 com um baixo e (mais uma) bateria.
Quando ouvi este novo álbum de Melvinsimäa foi ao chegar a casa às tantas da noite. Coloquei na aparelhagem com o volume baixo por causa dos vizinhos, conclui que o álbum não fosse lá muito bom. Engano puro! Foi só subir o volume no dia seguinte, para engolir as palavras. Não vamos esquecer, eles criaram o Drone-Metal e o Grunge ao apropriaram-se dos Led Zep e avançando onde estes tinham parado com o seu Hard Rock "artístico" - é bom escrever Hard Rock sem vergonha, sabendo que não falamos de spandex e permanentes apesar da extravagante permanente do King Buzzo! Este "nu de botas" é mais psicadelismo & bizarria roqueira marchando de botas pesadas a espezinharem chihuahuas (a raça canina mais nojenta deste planeta) que não atingirá o Rock de Arena (glória total dos anos 80) por isso também não será um álbum que dará nas vistas. (In)Felizmente será mais um registo para os fãs ou para os neófitos que ainda desconfiam da qualidade da banda. Por mim, podem começar por aqui ou no Stag (1996) ou no Hostile Ambient Takeover... Melvins é Melvins!

Os Beehoover são um duo germânico que tenho a sorte de acompanhar a sua carreira desde o início até este segundo álbum Heavy Zooo (Exile on Mainstream / Sabotage; 2008) que até é uma bombita! Não só tem uma capa curiosa q.b como um som é uma explosão de Rock Pesado bastante devedor aos Melvins, aos Kyuss e aos Queens of Stone Age - os coros em Spirit & Crown parece mesmo sacado do Song for the deaf dos QOTSA - mas surpreende porque não fazem música "parada" ou repetitiva. Talvez por ser uma dupla, logo deve haver uma maior cumplicidade entre os seus elementos, que o som de Beehoover joga com várias mudanças de ritmo e de Riffs de guitarra - que aliás, é uma guitarra-baixo, tornando o som da banda em algo peculiar, ou seja, entre a fina linha do viciante-genial e o ranhoso-amador, não se percebendo bem se estamos ouvir uma banda de garagem carismática ou uma banda "Pro" mas desleixada. Pelo meio há interlúdios ambientais para entrar rockalhada logo a seguir (fórmula Melviana assumida). Ao vivo dizem que são do melhor que há, desconfio que sim... Ei! Promotores portugueses da treta: são alemães e são apenas dois gajos, deve ser barato trazê-los a Portugal! Go!

Para um país como o nosso em que os jornalistas vivem do payola britânico sem que esse investimento (ou corrupção, como acharem melhor) compense, dada a realidade do mercado discográfico nacional, até que é fixe saber que existe um Boris cult em Portugal. Melhor isto do que apanhar que rapazes larilas a cantarem como se ainda estivéssemos nos anos 80. Os japoneses até já cá tocaram, sem surpreender, para promover o Smile (Southern Lord / Sabotage; 2008), um disco que tem duas versões, uma japonesa e uma norte-americana com diferenças de alinhamento de temas, Design e som. Já me disseram que a versão japonesa é melhor mas sinceramente acredito que deve ser daquelas conversas de café opinativas non-stop e inconclusivas... Na última música não intitulada mas que o media player acusa como You were holding an umbrella (ou em japonês 君は傘をさしていた) ia jurar que eles cantam «Fo-dá-sé»... pois, my feelings exactly!
Desde Pink (2005) que a banda tem sido badalada não sei bem porquê - afinal, o payola britânico também serviu para estes nipónicos que usam paralelos de vários estilos musicais (Drone, Doom, Hard Rock, Stoner, Psicadélico) sem se imiscuírem totalmente embora o que os lançou para a fama foi a sua aura mais Pop e roqueira, do Pink, que parece Nirvana cantado em japonês - o que deixa sempre um indelicado gosto kitsch à coisa.
Neste álbum, o Pink é a base mas o trio lá vai ao J-Pop, Rock trashado, psicadelismo barato, algum Rock Noise, Drone-Metal de forma que se consegue ouvir o álbum sem ficar muito chateado. Não podemos esquecer que o nome de Boris foi sacado a uma música dos Melvins e seria de mau tom trair os "progenitores" e realmente deste disco há duas coisas boas, raras nos dias de hoje em qualquer disco de Rock (e Pop): há um ambiente geral para o disco - não é plástico como 99% da produção contemporânea - e o som deles ao ser gravado analogicamente tem uma sujidade (ergo humanidade?) que apesar de ser ténue salvam-lhos do anonimato e da comparação fácil.

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