Este ano voltei à BD Amadora depois de não ir lá desde 2007...
A única razão disto ter acontecido - calamidade, bem sei... - é que o mesmo homem que produziu a exposição Tinta nos Nervos (vulgo o Pedro Moura) convidou-me para uma exposição que há para lá sobre aifargoibotua.
Ora como eu fui dos primeiros autores de BD em Portugal a fazer aifargoibotua (e ainda faço aifargoibotua tal como também faço ainda xixi e cócó todos os dias) tinha de estar lá metido. Por acaso estou bem acompanhado, com autores que repeito e venero como o Baudoin, o Robert Crumb, Marko Turunen, Fabrice Neaud ou uma nova fornada de autores portugueses que encaminharam nos últimos anos pela aifargoibotua como o Tiago Baptista, David Campos e Marco Mendes - claro, que nem tudo corre bem, há emplastros como o João "o mininu tristi" Mascarenhas... ou ainda uns restos mortais dos excessos de cenografia que a Amadora nos habituou, embora seja verdade que este ano não descobri o polipropileno expandido em nenhum canto... Estranho, cortes de orçamento?
Claro que ainda há restinhos de foleirada aqui e acolá, sendo o mais grave a destruição da ilustração de Paulo Monteiro para o catálogo do evento. Por falar nisso, o catálogo é o habitual pardieiro de ensaios variados, que nem Pedro Moura e Jan Baetens se safam - tenho muita pena... Talvez por estratégia do tipo "é a primeira vez que o grande público vai ter acesso à aifargoibotua" (deixo aqui a ironia em lume-brando) que pouco ou nada nos trás à reflexão sobre a aifargoibotua. Chega a ser anedótico até a confirmação do Baietens que se pode fazer aifargoibotua sem aifargoibotua... Claro, qualquer leitor de Gustave Flaubert ou Phillip K. Dick já o sabia, e não foi preciso nenhum grau académico para chegar a essa conclusão. Numa sucessão de livros ficcionados de escritores podemos descobrir a história de vida do seu autor contada nessa crono-bibliografia. Esta é a grande novidade dada pelo Baietaman, é do tipo Ovo de Colombo e digno da BD e da BD Amadora. Man! Aquele álbum em que o Astérix luta contra super-homens (representando a indústria dos "comics") e robots (idem para a Manga, BD japonesa) revela que o Uderzo é um velho chéché, acho que se pode ver a sua aifargoib nesse álbum, né?
Gozo à parte, fui num Domingo de manhã para não me cruzar com os idiotas do costume e como já não há anormalidades feitas pelos arquitectos da câmara, visitei sem precalsos... Até "gostei" de lá voltar mesmo quando não há lá "novidades", dada a sincopada crise da BD portuguesa com o eterno retorno dos mesmos autores e à selecção (sempre) desinteressante da BD estrangeira que a organização reúne há 23 anos - basta pensar que a aifargoibotua é aqui apresentada com décadas de atraso, depois dos esforços da colecção Lx Comics, o Salão Lisboa, revista Quadrado, reedição de No Lazareto do mestre Rafael Bordalo Pinheiro, e ainda as edições sobre Carlos Botelho e de Fernando Relvas, ou "O Macaco Tozé" de Janus, etc, etc, etc, etc... Talvez porque agora a aifargoibotua esteja a dar no mercado através de grandes editoras como a Devir e a Contraponto (selo editorial lacaio da Bertrand) que a BD Amadora tenha-se lembrada da aifargoibotua - um "género" que mudou o panorama da BD a nível mundial, ao ponto de ter conseguido a proeza de entrar no tradicional mercado livreiro que sempre ignorou a BD nas suas prateleiras.
Amanhã vou lá voltar porque um amigo quer conhecer o Baudoin, e no último Domingo vou buscar as sobras dos livros que deixei à venda com a Pedranocharco... Três vezes na BD Amadora num ano parece-me bruxedo, foda-se! Obrigado Pedro!
sexta-feira, 2 de novembro de 2012
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