domingo, 31 de outubro de 2021

Isto vai acabar em lágrimas!





Em meados da década de 80, as editoras discográficas estavam praticamente fechadas ao que de novo se ia fazendo e o que editavam pouco ou nada interessava – o “boom do rock” tinha esgotado a paciência dos ouvintes para a música em português. 

No entanto, uma sala de espectáculos em Lisboa, de nome Rock Rendez Vous, começou lentamente a dar espaço ao que realmente estava a acontecer, à margem do mercado e da crítica. E, consequentemente, apareceram umas (poucas) novas editoras independentes, como a Dansa do Som e a Ama Romanta, que acabariam por lançar alguma da mais interessante música feita nesses anos em Portugal.


No entanto, os meios destas editoras eram parcos e os orçamentos bastante reduzidos (já para não falar do limitado poder de compra dos portugueses) e, por isso, no final dessa década, as várias cenas musicais emergentes – metal, industrial, experimental, electrónica –, passam a gravar e editar as próprias cassetes para se fazerem ouvir. Era o do-it-yourself aplicado à edição dessa nova música, autoproduzida, com total liberdade, sem qualquer tipo de censura, que a partir de agora era passível de ser gravada e facilmente duplicada em casa, desprezando qualquer ideia de direitos de autor, quase sempre embalada em capas originais feitas a partir fotocópias de imagens roubadas, activamente divulgada através de flyers e fanzines e disseminada, sem intermediários, em mão e por correio, numa rede, tornada comunidade, internacional.


Facadas Na Noite, Tragic Figures, Anti-Demos-Cracia, Pé de Porco e a K7 Pirata, foram algumas das editoras que surgiram então e que marcaram esse início da edição independente em cassete, juntamente com a SPH.


Editora de Oeiras, no activo desde 1990, a SPH pôs a circular álbuns e compilações com nomes nacionais – Ode Filípica, Croniamantal – e internacionais – Merzbow, X-Ray Pop, De Fabriek, entre outros – somando um total de cerca de oitenta cassetes de música industrial, noise, avant-garde e até synth-pop, ao longo dos seus quase quatro anos de edições contínuas. No entanto, as oscilações dos interesses e mercados – estava-se na passagem das cassetes e do vinil para o CD – fizeram com que a editora acabasse em 1993. Mas, atento, como sempre, às novas linguagens musicais de circuitos underground, no início do século XXI, Fernando Cerqueira retoma as edições, dessa vez acompanhado por Luís van Seixas, sob o nome de Thisco. Perfazendo agora 20 anos, o presente livro comemora duas décadas de existência e os trinta anos do início da SPH, inventariando as edições e reproduzindo capas de ambas as editoras assim como material promocional e outra memorabilia, devidamente acompanhadas de uma conversa aprofundada com os envolvidos.




à venda na nossa loja em linha e na Matéria Prima, Snob, Tigre de Papel, ZDB, Kingpin Books, Flur e Utopia.


Historial: 

lançado na Festa dos 30 anos da SPH e 20 da Thisco na SMUP,  22 e 23 Outubro 2021 ...


quinta-feira, 21 de outubro de 2021

Aristocracia do Rock


Podem-me gozar à vontade por andar a ler estes livros mas caralho, tenho direito a divertir-me! Não vejo televisão nem tenho rede sociais, como posso ter aquele momento de descarga? Não se fala tanto em "guilty-pleasures"? Não há broncos que só lêem os Senhores dos Anais ou super-Heróis? Ou policiais nórdicos? Eu leio biografias de malta do Rock compradas em segunda mão a preços bem parvos. 

E foi coincidência apanhar estes dois que são os gajos dos bastidores. Tony Visconti é produtor de discos e a Sharon Osborne é uma rufia bem famosa que dispenso apresentá-la. Ele é gringo e foi para a Inglaterra para saber como se gravavam discos tão sofisticados naquela ilha e ela inglesa de gema foi prá Amérikkka para fugir ao pai que era um mafioso do Pop/Rock. Ambos escrevem estas autobiografias - com ajuda de ghostwriters claro está, aliás, pergunto se ambos saberão escrever? - que são fascinantes porque partilham do facto de serem de classes baixas e que sobem aos topos possíveis do mundo do Rock e espetáculo. Ambos são uns toscos ignorantes que apesar de estarem nos centros imperiais de Londres e Los Angeles rodeados por pessoas criativas e com ideias incríveis (especialmente nos anos 70 e 80), para além, de terem dinheiro no bolso (em altos e baixos impressionantes!), nunca se esforçaram por se educarem e serem mais do que umas "bestas" abusadas ou abusadoras. Ambos mostram-se "apolíticos"e o Punk passou-lhes ao lado - man, até o inútil do Tim Burgess refere os Crass no livrinho dele - o que mostra que se não te bateu culturalmente o Punk não passas de um granda tótó.

Ainda assim, em Bowie, Bolan and the Brooklyn Boy (HapperCollins; 2007) de Visconti até percebemos que é um gajo culto ou curioso e que conta histórias simpáticas, não tivesse produzido Mark Bolan / T. Rex e David Bowie. Nada mais assimétrico que estes dois, apesar das vidas paralelas, Bolan foi o típico artista pobreta que assim que fez milhões passou a ser um granda porco ganancioso. Se não tivesse morrido no desastre de automóvel teria acabado reacionário e barrigudo como o Elvis. Bowie como se sabe evoluiu no seu projecto de camaleão Pop sempre com grande estilo e arte, mesmo na hora da sua morte. Ganhei a confirmação que a Inglaterra sempre foi um país de suínos porque o Bolan tinha de pedir ao Visconti que lhe deixasse tomar banho algumas vezes por semana na casa dele porque não o podia fazer com tanta regularidade na casa dos pais - creio que a água sempre foi cara na ilha, daí esta falta de higiene. De resto, ele produziu de tudo de grande neste planeta: Procol Harum, Gentle Giant, Osibisa, Sparks, Thin Lizzy, Rick Wakeman, Hazel O'Connor (ena!), Boomtown Rats (ok, ele trabalhou com "punks" mas era só pela guita), Adam Ant, os merdas dos U2, Nana Mouskouri e até o nazi do Morrisey. Voltou prós EUA entretanto já não me lembro porquê...

Extreme : My autobiography (Time Warner; 2005-06) da Osborne foi a coisa mais divertida que li este Verão porque é um grande degredo. O pai era um xungão que lhe fez a vida negra até morrer miserável e abandonado num centro de dia em perfeita harmonia yin-yang ou o famoso "cá se fazem, cá se pagam". Ela foi para os EUA para ser não só saco-azul dos negócios sujos do pai como para ter a sua independência da sua família de criminosos. Depois, claro meteu-se com o Ozzy Osborne, o bêbado que lhe dava porrada mas que Sharon aguentou estoicamente porque achava que ele uma pessoa muito mais divertida e interessante do que a que conhecemos em público. Amor ao quanto obrigas. Mula como é, aguentou as humilhações do seu parceiro descontrolado, tanto que ela tinha de dar a última palavra para mostrar que sempre teve razão para aguentar a criatura, ou seja, Ozzy recuperado e desintoxicado é outra pessoa e um fofo, dizem e ela confirma como tudo mudou depois de ele deixou de ser alcóolico. No livro fala-se de violência no mundo dos espéculos perpetuado pelo pai de Sharon, grandes fraudes em bandas pelos patos bravos da altura, violência doméstica e familiar, amas-secas que roubavam, luta contra o cancro e claro um "que sa foda o mundo", queremos é curtir e fazer guita por isso a concepção do OzzFest não é para salvar baleias mas para metaleiros gastaram os seus salários no recinto. Não deixa de ser impressionante toda a crueza e crueldade desta malta, com os seus momentos redentores - que sabem a pouco porque são pessoas nitidamente pouco cultas.

Nem sei se o título deste "post" está correcto, não será antes esta malta toda do Rock quando tem sucesso meros "Novos Ricos Rock"? Sim, porque os únicos que sempre foram ricos e fizeram Pop (de alta qualidade) foram os Yello. O resto é ralé que até é melhor nem terem muito guita para não fazerem maus discos quando tem a conta cheia. Famintos e à rasca é que fazem obras-primas, certo?

segunda-feira, 18 de outubro de 2021

PMP (Pior Música Portuguesa)

Porque o Barbosa morreu, perdi a vergonha,
Porque isto nunca acontecerá,
Porque o Gato Mariano é Fake News,
Porque a Música Portuguesa precisa de melhorar-se a si própria,
eis os piores momentos da "Música Moderna Portuguesa" para não cometermos os mesmos erros de A.C.  (Antes do Covid).


1 - KHS / Why / Elo 4 / Peace Maker (Ed. SPA; 1987) 
EP 7" que nem no discogs alguém o meteu à venda nem se encontra a capa na 'net. Também não serei eu a faze-lo. Uma mediocridade tal que mostra a outra face da SPA para além de fechar bares e alimentar músicos medíocres, isto é: não serve para nada.

2- Blind Zero 
Azeite do Norte, do principio até ao fim, estes "parolo geme" (sim foram amplamente gozados no livro de BD Loverboy, o rebelde) são o Antes e Depois da MMP. O Antes: criatividade, espontaneidade, amadorismo. O Depois: copycat, bullshit, money. Apesar do investimento enormes, o plano deu errado, mendigaram uma internacionalização pela pequena espanhola Subterfuge (cá em Portugal era tudo à grande!) e por fim o vocalista até teve de cantar em português numa faixa de Mão Morta.

3- Paus
O que dizer de uma banda quando ela assume-se logo como um Lado B dos Battles? Mas sendo os seus elementos uns betos do sistema, foram abençoados pelo jornal que na redacção até a máquina de café serve merda...

4- Dead Combo : Live At Teatro São Luiz (Blitz; 2014) 
Que Dead Combo faça música placebo é lá com eles, mas ao menos que não abram a boca, por favor! As intervenções com o seu histérico público neste disco mostram que não são apenas burgessos mas também burgueses opressores da classe operária.

5- Vários cantautores católicos da Amor Fúria
Quem?

6- Vários cantautores protestantes da Flor Caveira
Geralmente com nomes rabetas bíblicos...

7- Buraka Som Sistema (depois do primeiro EP)
Assimilados! Ou citando o Farinha Master: "cheirar o cu, cheirar o cu ao Capital"

8- Throes & The Shine
Boa ideia. Preguiça máxima. Mereceram ser roubados pelos Black Taiga!

9- Fast Eddie Nelson
Ah!?

10- Moonspell 
Azeite do Sul. Ao contrário dos Blind Zero - mas nota-se que só no Norte é que se trabalha! - vingaram pelo mundo inteiro numa editora indie de Metal, comendo batatas numa carrinha friorenta. 10 mil fãs não podem estar errados tal como 1000 lemingues a suicidarem-se...

11- Jibóia : Badlav (Lovers & Lollypops, Shit Music For Shit People; 2014)
Jibóia tinha piada no primeiro disco. Jibóia encontrou uma baleia com o estômago cheio de plástico. Jibóia gravou com essa baleia.

12- Lulu Blind (tudo)
A prova viva que Tó Trips seria capaz de vender a sua mãe por 15 minutos de fama...

13- Simbiose
Chato desde sempre, a evitar sobretudo em concertos...

14- Black Bombaim & Peter Brötzmann (Lovers & Lollypops, Shhhpuma; 2016)
O disco mais idiota de sempre mas a revista inglesa The Wire disse bem...

15- Besta
Falhados!

16- A Besta
idem

17- Rita Braga
É a gaja mais persistente na música portuguesa que até Slavoj Žižek a cita conceptualmente: and so on, and so on, and so on...

18- Live Low
Melhor que Resistência, pior que Madredeus. No Porto pronuncia-se "bibeló"

19- Legendary Tiger Man
Legendários eram os Tédios Boys, ou pelo menos, tinham o melhor cu masculino de Coimbra - uma jornalista dixit - e que era o do Tony Fortuna, já agora. 

20- David Fonseca
Azeite do centro, instigador de Nostalgia barata como o vendido do Markl (é assim que se escreve?). Tentou sacar fama com a morte de David Bowie para ficar grande mas nem toda a gente é parva, embora:

21- Discos Príncipe (tudo!)
Não dá para perceber o sucesso, ou talvez dê, os países ex-colonistas perceberam que era mais fácil deixar as colónias serem independentes e manter relações comerciais desvantajosas para as colónias sem recursos...

22- Assacínicos
Inauguraram uma sub-label da Rastilho, a Metamorfose, dedicada a "sons diferentes". Numa revista de música pediram para não ser eu a fazer a resenha crítica do disco homónimo de 2004, o que foi ainda pior nas mãos do outro crítico.

23- Poppers
O melhor que fizeram foi fechar a Metamorfose...

24- Crise Total : Autista
Banda punk que mais gravou o mesmo tema, ou outros por eles fazendo justiça ao título...

25- Putas Bêbadas : Jovem Excelso Happy (Cafetra; 2013)
Alguém fará uma tese de mestrado sobre este disco mas ninguém irá lê-lo...