Tudo isto por causa de compra do disco de Carlos Santos / Chico Paraíso: Êchigá hora zá! (Já chegou a hora!) / Bom dia primo (Gilberto Gil Umbelina; 1990) que foi me impossível encontrar qualquer tipo de informação: capa nem vê-la (tive de tirar esta manhosa fotografia do meu telemóvel), editora zero e dos músicos nickes! No máximo consegui saber que o editor é Gilberto Gil Umbelina, «um dos cantores mais populares de São Tomé e Príncipe, radicado há 30 anos na Europa, que já realizou diversos concertos em Portugal» e que o «cantor (...) anunciou (...) a sua candidatura às eleições regionais na ilha do Príncipe (...)». O disco mete dois músicos de S. Tomé e Príncipe a gravarem temas para um LP - não é um split-LP porque os músicos têm músicas em ambos lados: cada lado tem 4 faixas, num Chico grava a primeira e a quarta e Carlos grava a segunda e a terça, do outro lado é ao contrário... Creio que cantam algumas canções em fôrro (uma língua) e são músicas de «charme e de intervenção» sobre a degradação arquitectónica e ecológica das ilhas, num típico rodopiar de dança contagiante para quem gosta de "roça-roça" das quentes noites do extinto B.Leza. De certa forma, o disco é um standard de música africana popular moderna do século XX, nem é bom nem é mau, roça-se!
Nada que se compare com os Osibisa e o seu quarto álbum Happy Children (Warner; 1973) que tirando a lengalenga do tema homónimo que abre o disco é uma descarga de Afrobeat e Highlife, géneros que têm sido redescobertos pelas antologias Ghana Soundz (aliás, os membros da banda eram do Gana mas residentes em Londres) e já agora com o filme O último Rei da Escócia - embora o filme seja sobre o Uganda tinha como banda sonora algumas faixas do Ghana Soundz. É um disco de sons em colisão "black vs white" que se distancia dos sons africanos embalsamados do colonialismo cinzento português. Aqui há brutalidade anglo-saxónica – ou será só pela idade dos elementos da banda? - transformada em energia Funk, precursões ricas de instrumentos (atumpan, fontomfrom, atsigo, ketekle, sinos gatingo e xilofone), virtuosismo jazzístico mostrando mais uma vez que foi na década de 70 que se inventou toda a música que ainda hoje ouvimos. Chamada de atenção prá capa e contra-capa é do melhor que há, apesar do scan sacado na 'net não lhe fazer justiça... é psicadélica q.b. com elementos de imaginário do continente africano como por exemplo um elefante com orelhas transformadas em asas de borboletas bastante coloridas, aliás, foi pelo facto de ter percebido da existência desta banda e pela capa que raptei o disco da loja Prog PT (ali prós lados do Carmo), pagando o respectivo resgate, claro.
Por fim, uma cena dos diabos, ou melhor, do Voodoo: Spirits of Life : Haitian Vodou (Souljazz / Sabotage; 2005), um registo com um selo de qualidade chamado Souljazz, a editora londrina que têm recuperado tudo o que é som "black vintage": funk, dub, ska, reggae, hip hop, dancehall, etc... Desta vez adensaram-se nas raízes do som negro captando com excelência para a rodela de CD a música das sessões de voodoo. Acompanhado por um livrinho de 28 páginas a cores com fotografias e um texto explicativo sobre o Voodoo, numa das melhores embalagens da Souljazz (considerando que todas elas são de qualidade) e com uma capa misteriosa e poderosa - claro que este deve ser o post mais amaldiçoado de sempre a julgar pelas imagens que editei, enfim...
Quanto à música, bem... ehm, batucada non-stop (novamente a captação de som está excelente), vozes masculinas de ordem e coros femininos, sem propriamente impressionar qualquer ouvinte amador de música étnica - um especialista dirá que é muito diferente por isto ou por aquilo. Delírio com esta música será possível mas não será só com o CD e uma boa aparelhagem, deve ser aconselhável beber uma garrafita de Rum e fumar uns cigarros ou outras substâncias psico-activas, e fingir que não estamos em Portukkkal.
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