Ocaso Épico: "Muito obrigado" (Dansa do Som; 1988)
Em 200_ de certeza que uma editora estrangeira vai fazer uma colectânea de bandas Rock portuguesas dos anos 80. Longe de mim nostalgias parvas e mercantis mas acho que um disco que a música urbana portuguesa nesse período foi algo de bastante original, visto até a uma escala global. Ou porque eram filhos-dos-papás ou porque eram apenas intelectuais/artistas, a verdade é que as bandas dessa década foram o expoente da criatividade musical neste país cinzento - não estou a afirmar que nos dias de hoje não hajam boas bandas, ou que não tenham havido nos anos 90, mas infelizmente o que se vê hoje são estagiários para a fama (por falta dela é que são "alternativas") ou profissionais estéreis: Xutos, Blind Zero, Fonzie, David Fonseca (para quem tanto canta sobre os 80 devia fazer um TPC mais trabalhado), etc...
Num país atrasado, pobre e pouco informado é de estranhar que tenham aparecido tantos "aliens" como Mão Morta, Pop Dell Arte, Émas foice, Enapá 2000, Santa Maria Gasolina em teu Ventre, Mler Ife Dada, Repórter Estrábico, (os primeiros tempos de) GNR, K4 Quadrado Azul, Lucretia Divina, etc... quase todas estas bandas unidas entre elas pelo pós-modernismo, ou seja a capacidade de pegar em mil géneros de músicas e misturá-las criando novas formas de ouvir. Se da lista acima alguns nomes forem mais fáceis de identificar com uma estética Rock, ainda assim é de relembrar um álbum como Corações Felpudos dos Mão Morta que corta com a tradição Rock, ou sendo o humor e a pastiche uma característica do pós-modernismo porque não meter nesse saco os Enapá 2000 e os Émas foice? E já agora, nesta colectânea imaginada podia-se continuar a viagem até ao novo milénio com projectos como Primitive Reason e Blasted Mechanism (primeiros álbuns de ambos), The Astonishing Urbana Fall e até Kubik e Stealing Orchestra - acabava a colectânea com o segundo álbum de Stealing!
Bem, isto tudo porque apanhei o vinil dos Ocaso Épico numa loja de discos em vinilo - nas Escadinhas do Duque, não me lembro o nome da loja mas é algo tipo "Discolecção" ou um nome tão horrível como isso. Este é o maior registo oficial de bizarria Pop liderada pelo já falecido Farinha Master (Carlos Cordeiro), depois deste disco (que só há vinilo) ainda foi editada uma k7/maquete: Desperdícios (1989) que pode ser descarregada aqui. "Álbum-alien" em que encontramos música tradicional portuguesa com tratamento trangénico e arraçado de Pop/Rock, música oriental e alguma ambiental (concreta ou experimental?), em óbvia esquizofrenia sonora. O lado A é mais agressivo porque é mais "apunkalhado" e as letras são mais directas, mundanas e de costumes: «E a produção musical / do triste saloio nacional / nunca deixou de cheirar o cu / de cheirar o cu / o cu ao capital» (Tinto If), «Chegou da Beira Baixa / uma linda criancinha / vinha tirar o curso / construir a vidinha / vinha ver o mundo / tal como a sopeirinha» (Da Beira Baixa à Extrema-Dura); enquanto que o lado B é mais instrospectivo e calmo. A produção não é das piores - para quem não sabe, a produção foi um dos maiores problemas dos discos portugueses nessa "década dourada".
A capa do disco é divertida q.b, com o Farinha Master a fazer de beato, na contra-capa há mais fotografias dele a protagonizar um rufia, um padreco, um sacana, um boémio e duas em ambiente Zen-brilhante. No interior, mais fotografias maradas: campinos-khrisnas, gajos vestidos de Rockers de 80's com outros gajos vestidos com fatos orientais, o Master no estúdio de gravação acompanhado por um engenheiro de som (?) dono de um bigode à portuguesa, afinal de contas, não podemos esquecer onde estávamos.
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E agora algo completamente diferente, a tracklist-work-in-progress de Dada Tuga : a Portuguese Post Modern Pop/Rock 1983 - 2003:
1- Pop Dell Arte: "Querelle" (1987)
2- Mler Ife Dada: "Dance Music" (1989)
3- Enapá 2000: "Pão, Amor e Totobola" (1987)
4- Ocaso Épico: "Da Beira Baixa à Extrema-Dura" (1988)
5- Mão Morta: " É Uma Selvajaria" (1990)
6- Santa Maria, Gasolina em teu ventre!: "Go West, Céline" (1991)
7- ...
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