domingo, 22 de outubro de 2006

On the count of ten, you will be in Europa












Flat Earth Society: "Trap" (Zonk / Sabotage; 2002)
Kaada: "Music for Moviebikers" (Ipecac / Sabotage; 2006)

Duvido que esta sociedade seja quadrada como a outra embora a ideia de uma big band seja coisa do passado. FES é um grupo belga da parte flamenga que explode de som pelos poros, tantos danos deve ter feito ao vivo (conta a lenda) que convenceu o Mike Patton a editar um "best of" dos seus 4 álbuns esquecidos na Europa, Isms (Ipecac; 2004) - embora deva admitir que esta banda fizesse mais sentido na Web of Mimicry... Em esquizofrenia e energia (zappaniana, bungleana, pattoniana?) há aqui um bocadinho de tudo para todos os gostos: swing, free, mambo, cabaret fumarento da 2ªGG, cha-cha-cha, lounge mais qualquer coisa embrulhado no respeitável formato do Jazz. Nada de electrónicas e afins, a atitude é mais do tipo, ou sabes tocar ou vais para casa... [4; podia ser melhor se não tivesse a voz da gaja - que mania de por sopeiras a cantarem nos combos de Jazz]
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“I wanted to find a title that described the fact that this was cinematic music. The alternatives were Music for an Imaginary Film, which was too cliché, Accompaniment to a Cinematographic Scene sounded too pompous and another idea was Fake Film, Real Music, which sounded stupid. Music for Moviebikers was a good fit.” - Kaada

Conhecido pelas bandas sonoras de filmes na sua terra-natal, a Noruega, Kaada foi dado a conhecer ao mundo via Mike Patton e a sua Ipecac em Thank You for Giving Me Your Valuable Time (Ipecac; 2003), uma "vintage sample extravanganza" bastante viciante e refrescante, um dos melhores álbuns de 2003! Uma via que foi desviada no álbum seguinte com Patton, Romances (Ipecac; 2004) e que agora foi cimentada com estas "falsas bandas sonoras", em que os samples também são abandonados por uma verdadeira orquestra de instrumentos de cordas, sopro ou outros instrumentos como o saltério ou o dulcitone, onde há coros, assobios, recitais. A música é composta por Kaada mas executada por 22 elementos e dirigida por um maestro - Baldakhin. As coordenadas sonoras são dadas por Tom Waits, Yann Tiersen, Ry Cooder, Ennio Morricone e outros que não me lembra agora, sem nunca se chegar a momentos épicos ou estridentes. Todo o percurso deste "filme" é realmente feito de bicicleta pelo campo com chuvinha a tombar incessantemente. Estamos no fim do verão no norte da Europa e a caminho do doloroso Inverno.
Cheira, de facto, a filminho europeu subsidiado pelo Estado para só meia dúzia de almas sensíves verem. Não que eu seja contra, não que eu ache mau o "filme". Só tenho pena é que raro, na Europa destruída pelo betão e neo-liberalismo, encontrar um campo para passear de bicicleta à chuva miudinha, ou pior, que se encontre tempo para poder fazer isso. Talvez uns jovens universitários possam fazê-lo, escapando às aulas inúteis. Que efeito inverso que esta música bonita me faz! [4; para o ano escuto outra vez, por que raios a embalagem teria de ser tão sui generis]

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