quinta-feira, 19 de outubro de 2006

Por um punhado de selos

v/a: "Movimentos perpétuos : música para Carlos Paredes" (Universal; 2003)

É raro, mas mesmo raro, um artista popular português ainda estar vivo e receber uma homenagem em Portugal. Em 2003 fizeram-se uma série de iniciativas para homenagear Carlos Paredes, sob o nome Movimentos Perpétuos - título emprestado ao segundo álbum de estúdio do guitarrista, Movimento Perpétuo (Columbia, 1971) - mesmo a tempo de reconhecer de vez a importância deste músico (*). Uma das muitas iniciativas foi este disco-duplo de homenagem com 20 temas de Paredes revistos por outros 20 artistas seleccionados por Henrique Amaro da Antena 3.
O produto é bem executado, bem gravado e inteligente pelos vários cruzamentos de gerações e abordagens musicais: HipHop, Electrónica, Jazz, música de câmara... infelizmente não consigo deixar de achar que muitas das abordagens são limitadas e sem grandes riscos. Tudo é melancólico - apanágio idiota de ser português e da guitarra portuguesa - em que se salva o Ensemble J.E.R. (creditado como José Eduardo Rocha) e os Gaiteiros de Lisboa - curiosamente separados por serem os últimos do alinhamento do primeiro disco e os primeiros da segunda rodela - cujo uso de instrumentos pouco convencionais provocam aquela excelente reacção de aversão-que-se-estranha-e-logo-entranha-se. De resto, é impossível achar alguma ponta de interesse às "soundtracks" pirosas de Rodrigo Leão, aos cosmopolitismos fanhosos das Mísias, a grande treta western-sparghetti dos Dead Combo (ainda não tinham gravado os álbuns e já tinham cunha para homenagear os grandes), os arfares símios de Maria João, as mudanças mal-executadas de Lupanar (se não têm unhas para tocar o que pretendem, então vão aprender seus porkos!), ... no geral quase se cria um clima de beleza artificial para inglês ver - por acaso o HipHop e Electrónica de Sam the Kid, Bullet e Shelter Av. safam-se mais do que possam parecer à primeira audição. Maldita melancolia e saudade! Se é para assim prefiro não ser português! Então porque raios faço eu com um disco destes? Bem, a história até tem a sua piada, troquei com um tipo que conheci pela 'net que queria comprar selos. Lembrei-me que tinha uma colecção quando era puto e como estava a "apodrecer" decidi despachá-la para esse tipo - só fiquei com os selos do Zaire (onde passei parte da infância), mais um da URSS (fabuloso selo vermelhão com dois astronautas!), alguns de Portugal, um de Itália e de Espanha porque estes selos fazem parte do meu ADN visual-emocional. Em troca de cerca de 300 selos recebi isto...

(*) passados 3 anos, o site www.movimentosperpetuos.com já foi à vida, curiosamente e infelizmente...

Qualidade numérica: 3,8/5 Objectivo pós-audição: trocar por moedas nazis?

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