quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Gémeos falsos


Ragga Twins: "Step out"
v/a: "Steppas’ Delight - Dubstep Present To Future"
(Soul Jazz / Sabotage; 2008)

Não há editora de música que relembre e respeite mais a música "Black" que a Soul Jazz... Se foram os discos de Reggae e Dancehall que lhe deram mais projecção, será injusto não referir às compilações ou reedições de discos de Funk ("über-cool" a recente colectânea New Orleans Funk : The Original Sound of Funk : Volume 2, que merecia um artigo só para ele), ritmos afro-cubanos (interessante o disco Tumba Francesa — Afro-Cuban Music From The Roots) e Voodoo, Disco, Soul (investiguem a compilação de singles das Sisters Love, Give me your love) mas também outras "danças" inesperadas como o Post Punk e No Wave, Tropicália e música electrónica em geral.
Não se sabe se é a Soul Jazz que controla o mundo ou se ela rege-se pelas modas mas cada vez que a editora pega em algo perdido na história da música urbana moderna, de repente parece que ela está a dar. Pelo menos é o que parece... quando pegaram no Acid e de repente ia jurar que o Acid tinha voltado. E se neste Novo Milénio, ou pelos menos nestes anos zero, parece que a recriação e revivalismo estão na ordem do dia, e se o Jungle parece que está aí outra vez, a Soul Jazz tinha de nos trazer tesouro cheio de singles e máxis raros dos Ragga Twins, que nos inícios dos anos 90, juntamente com os produtores Shut Up and Dance criaram a ponte entre o Reggae e o Hip Hop, o Jungle - e em paralelo e derivação o Drum'n'Bass, UK Garage, Dubstep, Grime,... Ouvi-los nos dias de hoje soa algo estranho porque o som é baço e naíf - quase que se já se pode falar em "e-vintage de estado 808" - o que poderá fazer delícias aos "e-nostálgicos". As vozes acabam por sobresair em excesso enquanto debitam "raggas"sobre a cena Rave e o clima social britânico da altura - que de alguma forma não é muito diferente dos dias de hoje.
CD ou LP duplo, Steppas' delight, ao que parece é uma edição de luxo para quem quiser saber o que é o Dubstep - digo «ao que parece» porque o que tenho são CD's promocionais sem as fotografias e textos que costumam acompanhar as edições da Souljazz, ficando reduzido ao acesso à música e à nota de imprensa. O problema dos promocionais é que estão com as faixas trocadas em relação às edições oficiais sendo um bocado labiríntico analisar a "coisa" - por outro lado, não é o propósito do Dub baralhar os sentidos para entrarmos "algures" noutra dimensão?
Claramente existe um fosso entre os "cromos" e os "novatos" que são separados pelos discos, sendo o primeiro melhor que o segundo devido à "creme de la creme" do Dubstep que o compõe, como os conhecidos Kode 9, Benga e The Bug (este último, aproveito para avisar que deve ser um dos melhores músicos deste início de Milénio). Juntamente com Shackleton e Search and Destroy tecem as barreiras deste (sub)género musical inventado no sul de Londres. E se a proposta da compilação é apontar futuros possíveis para o Dubstep, no primeiro disco já são feitos pequenos desvios-padrões com Unkle Sam (próximo do Reggae), TRG (quase Techno Minimal) e Seventeen Evergreen (quase que próximo de Rave). Ou Plastician que juntamente com Gatekeeper (no segundo disco) juntam o Grime à colecção.
É no segundo disco onde impera mais "confusão" - apesar da inclusão de "standards" como Ikonika e Shonk - indo para novas lóagicas como o do Hip-Hop (Joker), aquela mixórdia que foi Kruder & Dorfmaster - Vade de retro satanas não estamos nessa! - por Martyn, House-qualquer-coisa-merdosa de Geiom (c/ Marita) ou de Silkie, a natural perversão do Dub tradicional por Peverelist... enfim nada de Futuro muito radiante, diga-se.
A excepção deste disco passa por Gothtrad, o melhor do segundo disco, uma percurssão meta-espacial de assustar até os mais sóbrios, na direcção do Dub Industrial... mas espera, na edição ao público esta faixa está no primeiro disco! Hum... parece-me que quem tiver a edição normal poderá ficar com o primeiro disco e despachar o segundo. Ou então comprar a "colecção" Box of Dub : Dub Step and Future Dub (2 volumes também pela Soul Jazz) porque ao menos não há tretas e temos as participações de Digital Mystikz, Burial e Skream...

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