quarta-feira, 8 de outubro de 2008

lalalalalala toing!

Mais boa música da Finlândia desta vez com as produções da Lal Lal Lal, editora de referência em questões experimentais e psicadélicas por aquelas bandas.

Começo com os Avarus, "banda da casa", uma vez que os seus criadores são os donos da Lal Lal Lal, e também uma referência elogiada pela Wired. O álbum Vesikansi (co-edição Secret Eye; 2006) é emblemático do projecto: tocado e gravado de uma vez só (aliás ao vivo no Lazybird Club em Dublin), é improvisado até ao tutano, provavelmente só com um microfone para gravar a barulheira industrialoíde feita sabe-se lá com que instrumentos tal é a estranheza que se ouve da rodela. Parte da estranheza deve-se ao facto que os músicos finlandeses tocam com qualquer coisa que lhes venha parar às mãos, desde paus de uma árvore a instrumentos musicais "oficiais" (estragados ou não) ou inventados - uma tradição de Histeria Ártica, diga-se de passagem - talvez por isso que há tantas fotos de morsas na embalagem, esses pesados animais árticos de pele enrugada. A capa cheira-me que foi pintada e montada por Roope Eronen do atelier de bd Kuti Kuti.

E por falar de instrumentos inventados e no Eronen. Neste caso, é mais instrumentos moribundos no projecto Nuslux e o o CD-R Triple (Ed. de autor; 2007) que é Eronen (dos Avarus e cabeça da Lal Lal Lal) a solo a torturar dois osciladores em curto-círcuito ligados a três copos de água. Os sons são estridentes e arrepiantes como se as máquinas tivessem aprendido a foder, ou pelo menos, a masturbar. Quando pensavamos que não se conseguia fazer mais música irritante... eis um finlandês espertinho para nos provar o contrário - um outro CD-R de Eronen ao que parece ele usava um moribundo sampler Yamaha a dar o pifo... Mas como diz o Merzbow «Noise para mim é a música Pop».

A Lal Lal Lal edita também vinil, arranjei dois singles:

Kompleksi: (I Ain't No) Lovechild / Moscow 1980 (2005) é Electro-Trash do pior feito por um duo da cidade de Tampere com pancadas por sex-shops (é Electro, certo? ergo sexo) e fetiche estalinista. Por isso quando os sintetizadores disparam somos levados para parvalheira kitsch retro-pimba que serve para lembrar como os tempos eram simples antes do muro cair. O disco é acompanhado por um cartaz A4 fotocopiado de uma colagem manhosa (estilo punk'zine) de glórias soviéticas. Alguém lembra-se do Misha? Exacto: Moscovo 1980...

Javelin: Oh Centra (2006) não são finlandeses mas sim norte-americanos de Providence - mas nada de Noise Rock por estas bandas! Também é "kitschtrónica" com aura de inocência infantil, que se deve em grande parte por causa da capa com gatinhos desenhados, aos sons 8 bits e às vozinhas de Estrumfes pastilhados. A cadência é muito Hip Hop, no entanto. Giro...
Curiosidade, quer Javelin quer Kompleksi soam bem em 33 ou 45 rotações... Creio que deve ser esta uma das vantagens de ter gira-discos.


Por fim, ainda nota para outra edição finlandesa, não da Lal Lal Lal mas que se insere em sintonia com as atitudes DIY e Improv que há tantas num país com metade da nossa população. Neste caso, estamos no campo do Jazz com On Duty (Kissankusi; 2007) dos Black Motor que é um CD-R ao vivo com quatro temas Free mais mal-gravados que os CD's do zine Galatic Zoo Dossier - o som está todo distorcido que parece um "bootleg" feito pelo puto mais ranhoso do planeta. De positivo é a energia da banda e o à vontade do trio para fazer versões quer de uma música do Billy Childish quer de Redd Stewart & Pee Wee King. Os finlandeses gostam de baralhar - experimentar é a palavra certa - e é por isso que gosto deles!

PS - Kiitos Roope Eronen e Tommi Musturi!
PPS - ficou de fora um CD dos Fricara Pacchu porque pretendo fazer uma tira a criticar o disco...

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