segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

PALOP Style!


Tubarões : Tabanca (ed. de autor?; 1980)
Voz de Cabo Verde : Saragarça (ed. de autor?; 19??)

Mais mistérios discográficos africanos -sempre do "PALOP style" - a acrescentar a estes e tão bem fotografados como este. No primeiro caso não é assim muito grave - há alguma informação pela 'net - e a banda é (re)conhecida (até têm um myspace!) embora a edição seja misteriosa, não se percebe se é uma edição de autor mas tudo bem, em 1980 lá estavam "os Tubarão" a dar na coladeira e funáná, alternando faixa sim faixa não com temas pró "roça-roça" e canções lamechas-quebra-coração. Porreiro o "roça-roça" já as lamechas não há muito cu que aguente. E realmente é um LP previsível e com ritmo quebrado por causa da alternância das faixas dança / choradeira / dança / choradeira / etc... Mas o que faz dançar faz mesmo dançar e perdoa-se a tristeza das outras músicas.
Lixado de perceber mesmo é o Saragarça que é uma caixinha de surpresas, se por um lado há o tradicional de Cabo Verde, à queima-roupa aparecem músicas com ritmos latinos (afro-latinos!?) ou até uma Soul romântica cantada em inglês (Dad's Home) ou ainda um (rock) psicadélico Dju de Galinha. Os nomes dos artistas que estão na capa dão a entender que seria uma colectânea e o logotipo na capa pensa-se que a editora poderá ser a Voz de Cabo Verde mas uma investigação na 'net descobre-se que afinal existe um Conjunto Voz de Cabo Verde onde encontra-se o Bana, Luis Morais, Paulino, Armando, Joãozinho, Leonel, Bebeto e Cabanga (ou seja os nomes que estão na capa)... confuson confuson!
Resta dizer que estes quebras-cabeças, em óptimo estado (o dos Tubarões ainda estava embalado em plástico) foram as únicas coisas de jeito que numa loja de antiguidades na Rua das Escolas Gerais, por menos de 5 Euros (gratís um "disco dos pequenos" de Ranchos Populares!). É bom partir a cabeça desta forma...

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Kein Mehrheit Für Die Mitleid


Praxis : Sacrifist (Subharmonic; 1994) ; Warsawa (Innerhythmic Foundat; 1999)

Dizem os sites especializados que Sacrifist é o álbum mais atípico dos Praxis e o menos apreciado. Se é verdade a primeira afirmação, quase que não há Hip Hop (muito menos "scratch") e o Evil Metal é quase o fio condutor graças às participações de Mick Harris, Yamatsuka Eye e John Zorn; a segunda afirmação já é de não concordar a não ser que não se goste de Naked City e Painkiller - e os nomes até agora referidos não enganam de que estamos nesse domínio. É um álbum de puro Art Metal, feio demais para os intelectuais da treta, demasiado bizarro prós grunhos do Metal. Por mim, está mais do que aprovado - até porque é o segundo álbum da banda, porque raios haveriam eles de se repetirem? Para agradar a quem?
Warsawa é um excelente álbum ao vivo onde se ouve o virtuosismo de Praxis em "modo normal", ou seja com muito Dub, Funk e a guitarra metaleira dos "mesmos de sempre" (Bill Laswell, Buckethead e Brain) e muito "scratch" (do bom!) e Hip Hop em que os heróis são Mix Master Mike e phonosycographDISK. Extremamente fluído começa logo com um "scratch" de 20 e tal minutos, entretanto pouco a pouco os instrumentos mais convencionais: bateria, baixo e guitarra. Por acaso foi o primeiro álbum que ouvi da banda, tenho apanhado agora os "oficiais" de estúdio e a conclusão sobre a banda é única, seja em estúdio típico ou atípico ou ao vivo: muito aconselhável!

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

CIA info 70.4


esta prancha é parte do meu "teenage wet dream", uma parceria com o autor de bd Fábio Zimbres (e grafista e designer, já agora) e um dos responsáveis da revista Animal, que teve um impacto fortíssimo na minha juventude - conheci autores como o Max, Mattioli, Mattotti, séries como Love & Rockets, Ran Xerox, Tank Girl ou o que era um zine, Grindcore, fetiches e desvios sexuais, casas okupadas, joyriders e o que há de bizarro no planeta.
Conheci, o meu herói escondido de juventude (?), quando ele veio por causa do Festival da Porcalhota e a primeira versão da exposição Divide et Impera. Super-simpático e introvertido nunca pensei que ele tivesse gostado tanto das minhas bd's autobiográficas quer as de pseudo-ficção-científica.
Enquanto estivemos em contacto por e-mails, sugeri um argumento que não foi lado nenhum - foi escrito para o realizador brasileiro Ivan Cardoso, para um workshop no MOTELx, organizado pela Groovie Records... hum, porque nunca nada dá certo com a Groovie? I wonder... Bom, seja como for o Zimbres curtiu, é o que importa, e será publicado no número 22 do Mesinha de Cabeceira, edição feita (na maioria) de projectos frustrados porque em Portugal trabalha-se mesmo muito mal! Seitan Seitan Scum (é o nome da coisa!) deverá ser lançado este mês de Fevereiro. Logo se vê, para já estou satisfeito em partilhar a versão a preto e branco recebida há três meses, e a cores recebida em Dezembro pelo Zimbres! Valeu!
Entretanto acho engraçado partilhar o argumento escrito pró tal realizador e enviado para o Zimbres, só porque muito raramente escrevi um argumento by the book - geralmente sempre escrevi as bd's desenhando as páginas mas novamente isto era para um filme e supostamente para gente profissional...


NM 4.2 : Suite Presidencial

"NM" significa Nação Mutante, uma série que tenho estado a desenvolver há alguns anos. Trata-se de um mundo de futuro próximo onde a humanidade ganha “poderes” através de próteses e mecanismos. Em alguns casos podem ser apenas máscaras ou coisas inúteis apenas para enfeite ou mecanismos úteis que até permitem voar. A história é sempre a mesma mas o que vou fazendo é remisturá-la conforme as encomendas que recebo – os desenhadores que me pedem e o tipo de publicação, a transformação para filme não me choca nada até enriquece o projecto. A primeira “versão” foi publicada em episódios em fanzines como o Dossier Top Secret e Mesinha de Cabeceira – apresentava personagens em pequenas aventuras naifs de 2 páginas. A segunda versão foi publicada num fascículo da colecção Lx Comics (editada pela Bedeteca de Lisboa / Câmara Municipal de Lisboa) com desenhos de Pepedelrey (32 páginas a preto e branco) e contava com uma trama policial inútil. Chama-se NM2.3: Policial Chindogu – 2.3 porque o Pepedelrey desenhou 3 vezes, e Chindogu que são invenções japoneses absurdos. A terceira versão saiu no Mesinha de Cabeceira Popular #200, desenhada por JCoelho. Focava a vida de um dos personagens – chefe de uma seita a lembrar a Igreja da Cientologia e o seu fundador Hubbard que criou a seita, segundo a lenda, para provar uma aposta que fez com escritores de Ficção Cientifica. Pode ser vista aqui: almirantefujimori.blogspot.com/2006/12/nm3-mesinha-de-cabeeira.html

O trama principal da série – visto sempre de formas diferentes – é a morte/ assassinato do Presidente. E foi o que previ para mais um episódio. Neste o enfoque é precisamente sobre o Presidente, da forma como morre. A acção passa-se no wc do S.Jorge quando o Presidente visita o Festival de Terrir Mutante. Há uma tentativa de assassinato no hall. O Presidente escapa-se para o wc, onde encontrará George B-te (um rapper que prevê o futuro) e o assassino Freddy (um mutante com tentáculos que é dono de uma hamburgueria-canibal).
O Presidente tem um fato/poder de mudar de cara quando quiser (é assim que ele ganha as eleições) o que permite filmar o personagem com várias caras conforme os participantes que se inscrevam no workshop.
O Presidente explica a George que tentaram matá-lo mas que conseguiu escapar na confusão graças ao seu poder. Faz uma demonstração do seu poder. Numa das “pessoas” que encarna, George avisa-o que ele irá morrer.
Apesar do aviso o Presidente não faz nada para se proteger e ainda vai fazer as suas necessidades fisiológicas. Da sanita saem tentáculos de Freddy e mata o Presidente.
A policia (à paisana) entra e incrimina George de ter morto o Presidente.
Falta escrever os diálogos com um toque melodramático (de terror) e divertido (de ironia e humor).
Poderão ser oferecidos alguns exemplares do Lx Comics e Mesinha #200 para os participantes entrarem neste universo e enriquecerem as suas personagens.


GUIÃO

George wc do S. Jorge (primeiro problema: o George é negro e gordo ou parecido com uma ovelha… negra!)

George (pensamento/fala?) – vivo num mundo que as pessoas mudam de cara ou de corpo como quem muda de camisa. O meu mundo apesar de todos dizerem que é excitante para mim é uma puta seca… porquê? Porque eu vejo o futuro… [imagens de anúncios ou de um mundo mutante: mostrar tatuagens ou piercings dos participantes se houver)

Ouve-se um tiro, George assusta-se, quando se recompõe entra o Presidente (como mulher se houver uma participante) abruptamente e tenso; fecha a porta violentamente… lá fora ouve-se barulhos de confusão

Pode entrar um genérico: Suite Presidencial dará já informação ao espectador (a ironia e a compreensão, ironia da suite ser um wc, e compreensão que uma personagem será um presidente)

George – ei! Não pode entrar aqui a não ser que seja um multi-travesti…
Presidente – tentaram-me matar… lá fora!
George – a uma miúda tão gira!?
Presidente – Ah!? Ah!

Presidente muda de cara / corpo (o fato mantem-se o mesmo para o poder identificar ao longo do filme)

George – ah! Afinal sempre é um multi-travesti…
Presidente – melhor… sou o Presidente (da Nação Mutante?) !!!
George – uau! O Presidente!!! Que honra… não sabia que o Presidente era um multi-traveca!!! Se soubesse já teria usado isso numa letra do meu projecto de HipHop …
(começa a rapar, ou escrevo uma letra ou alguém improvisa uma letra – matei o presidente do Gabriel,o pensador!?)
Presidente – Sou mais que isso, represento o multi-traveca como a terceira-idade… uso um fato hooligan-holograma o que me permite qualquer pessoa a qualquer hora
Presidente muda de cara / corpo pelo menos quatro vezes (sempre com o mesmo fato!)
Presidente (enquanto muda de aspecto e a rapar) –
como pensas que ganhei as eleições / achas que foi pelo desempenho de funções? Yo!
George (apavorado) – meu deus!!!
Presidente – impressionante, né?
George (assustado) – o terceiro… o terceiro…
Presidente – ah!?
George (dramatizado) – o terceiro vai morrer!!!!
Presidente – que parvoíce é essa?
George – mude para a terceira “pessoa”, sff (faz gesto de parêntesis quando diz “pessoa”)

O Presidente muda para a terceira pessoa

George – você tem de ter cuidado, essa pessoa vai morrer envolvido em enorme tentáculos saídos de um poço fedorento e imundo!!!
Presidente – muita ganza, né? Onde poderia haver tentáculos num poço fedorento e imundo aqui?

Mostrar uma latrina de uma casa de banho – será nessa que ele morrerá…

George – não sei não sei mas tem de se proteger e fazer alguma coisa… ou então morre!!! Eu prevejo o futuro, posso ter dúvidas mas nunca me engano…
Presidente – olha ó amigo e que tal se antes me fizesse uma coisa útil e fosse ver se a “costa está limpa”?
George (admirado) – como assim?
Presidente – vá verlá fora se está tudo sob controlo pela meta-polícia…

George sai pela porta, resignado
Presidente vai para a casa de banho

Presidente (tira a roupa de baixo, senta-se na sanita) – eu prevejo o futuro… tentáculos que parvoíce!

Imagem da porta. Ouve-se barulhos estranhos e o Presidente.

Presidente – o que caralho é … arght!!!!!!!!

George entra na wc todo feliz

George – presidente presidente, está tudo bem, mataram o tipo que o tentar assassinar e já vem os guardas para protegê-lo…

George vê, horrorizado, sangue a sair da porta da casa de banho

George abre lentamente a porta e vê o cadáver do presidente entre pedaços de sólidos fisiológicos (porcaria).

George fica petrificado.

Entram polícias (pessoas vestidas de fato e óculos escuros…)

Polícia 1 – está preso por assassinato do Presidente
Policia 2 – e esquece os teus direitos ó merdoso, estás mesmo fodido!
Policia 3 – eu amava o presidente!

Policias batem no George.

Fim

Passa genérico final – seria possível ter um genérico de telejornal a passar essa informação onde mensagens tipo “rapper mata Presidente no banheiro” poderiam passar juntamente com a ficha técnica.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Grow to the max


Puppet Mastaz : The Takeover (Discograph; 2008)

Vivemos tempos bizarros, em que o Ser Humano pouco tem de valor... Não falo só que a vida humana pouco vale, tratada de forma ainda mais selvagem do que nos tempos medievais mas até na cultura popular ela foi ultrapassada: a banda mainstream mais interessante são os Gorillaz (desenhos animados), a banda Death Metal mais cool são os DethKlok (outros desenhos animados), a série de TV com mais tempo de vida e mais vista à escala planetária são os Simpsons (que aliás ganharam uma influência doentia) e a banda "alternativa" mais fixe e refrescante são os Puppetmastaz (fantoches), quer saltitem pelo Hip Hop ou não.
Mas eles enganam-nos neste terceiro álbum de originais. Nele há muito humano a trabalhar nas vozes e produção - sendo eles da nata da Electrónica de Berlim como T. Raumschmiere*, Max Turner, Gonzalez e Jamie Lidell... estes são os que reconheci porque as vozes não estão creditadas no disco. Este é portanto o disco mais esquizofrénico e surpreendente dos fantoches, dura cerca de uma hora e dez minutos mas cada minuto em minuto foi desenhado para nos surpreender ou com uma nova voz, uma nova intervenção ou uma mudança de género de música urbana (Reservoir Foxin com o seu excerto drum'n'bass, por exemplo). Esta obra-prima de Berlim deixará o Kanye West ou qualquer outra estrela do Hip hop à rasca. Sim esses mete-nojos rodeados de dinheiro e de crews de falhados nem chegam aos calcalhares do flow do Mr. Maloke, esses pretos que venderam a sua comunidade para o Bling Bling não merecem uma caganita do coelho Snuggles, o Sean Paul não é digno de uma bufa do Ryno! De tanto imitar os humanos (serão as Estrelas de Cinema ou do Rock ainda humanos?), os fantoches ultrapassaram-nos em tiques e trejeitos, conseguindo um up-grade tal que a próxima jogada será demasiado alta para o Snoop Doggy Dog, ele vai ter de rastejar como ele fazia no primeiro álbum! Auf auf!
Nada mau para criaturas tão... pequenas!

*existe um tema que lembra o Animals (que está neste álbum) em I Tank U (Shitkatapult; 2008) do T. Raumschmiere - e nem se quer é o Animals Territory que tem a participação dos Puppetmastaz... bom qualquer coisa que me fez reconhecer a voz do Raumchimireresrerere...