segunda-feira, 1 de março de 2010

DISisPUNK


Discharge : Hear Nothing See Nothing Say Nothing ; Why (Clay; 1982, 81)

O David Soares deu-me uma prenda envenenada - aliás, duas! Aliás, três porque para além dos discos acima referidos também me arranjou o seu último romance, O Evangelho do Enforcado que ainda não li mas que espero que seja envenado também! Voltando às rodelas vinilicas, é incrível como nos podemos esquecer das coisas... Conhecia os Discharge (um pouco, de colectâneas e k7's gravadas de amigos), sabia do seu legado estético e musical - não haverá banda Metal e Hardcore que não lhes tenha dado créditos como influência, seja com versões (Sepultura) seja pela apropriação até do prefixo "Dis" para nomear outras bandas punk/Hardcore como Disfear, Disbelief, etc... Daqui houve muita coisa importante a sair, provevelmente o Trash, o Grindcore e o Crust - e o Hardcore finlandês?
Para não falar também do grafismo das edições que também marcou o movimento Hardcore nas décadas seguintes. Lembrava-me do seu estilo repetitivo e primitivo de "punk biesta" mais conhecido pelo "d-beat" mas efectivamente já não me lembrava de os OUVIR! A falta dessa memória deveu-se ao gradual desinteresse pelo Punk e até à sua decadência absurda - não faltarão exemplos mas prefiro nem dá-los para não ter de fazer um exercício que trarão más memórias de certeza.
E ainda há mais falta de memória que só piora a situação ao ouvir os discos! Eles ao reflectirem a banda e toda a sua atitude política/ musical/ estética, relembra-nos que houve várias gerações qiue viviam assustadas com a ameaça da Guerra Atómica - no caso britânico, provavelmente vindo da ressaca do polémico e censurado documentário The War Game (1965) de Peter Watkins. O que se coloca em questão ao voltar a ouvir o primeiro EP e LP é como desapareceu esse medo? Depois da Queda do Muro de Berlim, limpo-se o medo com lixívia insensata e luxúria alienante. 20 anos depois alguém sabe onde estão as ogivas nucleares? Num quintal Glasnost?
Pensando a nível meramente musical, a energia e barulheira destes putos-em-1980 é inacreditável, tanto que fico a pensar que o que ouvimos mesmo no chamado espectro independente é que as bandas que existem hoje (de Punk, Noise Rock, Hardcore) são uma fraude comparando com estes Punks manhosos de uma terrinha estúpida britânica qualquer. Assustador!!!

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