domingo, 27 de março de 2011

Europa aborrecida


desculpem aqueles que esperam novas neste blogue desde Setembro do ano passado!
andei a acabar de desenhar bds para o livro da CCC Freak tour. Mesmo os discos adquiridos na viagem entraram no livro como resenhas críticas (tipo tiras) - o único que tinha a certeza que não entraria no livro era o dos Depth Affect por isso já aqui foi divulgado. o livro da tour tornou-se numa espécie de guia de espaços alternativos na Europa do que um verdadeiro caderno de viagem.
os lançamentos estão preparados para Lisboa na Map Design (Alameda) e para o Porto na Feira do Jeco, uma feira de edição independente.

sábado, 26 de março de 2011

Jorge Lima Barreto : "O Siamês, Telefax, Stradivarius" (Campo das Letras, 1997)

Não vale a pena ficar assustado com este livro pelos desenhos horrorosos do Vítor Rua, pelo "copyright" da SPA na ficha técnica ou da fotografia de Jorge Lima Barreto a segurar um gato (siamês) - Cliché Fotográfico de Todo o Escritor na Badana do Livro Nº1.
Publicado em 1997 apresenta-se quase como um livro de aforismos, em que Barreto recolheu uma série de frases / textos sobre música e os mass media. Quase poderia ser apontado como um livro preguiçoso mas nesse caso devemos perguntar ao acusador se seria capaz de ler e organizar toda a informação de autores como Adorno, William S. Burroughs, Jacques Lacan, etc... e editá-la como Barreto fez numa tentativa pós-moderna de escrita, admitida logo na Introdução.
A leitura deste volume é excitante para qualquer melómano ou qualquer pessoa que se interesse por música para além daquilo que papa como mínimo denominador comum da rádio, TV e FNACs. São apontamentos que exigem reflexão de parágrafo a parágrafo porque questionam a tempo inteiro como, aonde e porquê que ouvimos música - e já agora, qual a música é que ouvimos.
Sendo de 1997 há claro uma ou duas situações que não consegue prever como a desmaterialização da música do formato "disco" e a inflação dos concertos. Afimar-se algures no livro que os concertos deixarão de existir ou de ter representatividade face à imposição do formato "disco" pelas indústrias fonográficas. É divertido reparar que foi o contrário que aconteceu entretanto com o advento da Internet. Os discos como formato físico desapareceram em Ipods e computadores que são buracos negros de música (música fútil que não necessita de imagem, créditos, informações de qualquer espécie) e os concertos afirmaram-se como o negócio mais importante da indústria - com a Madonna, em 2007, a negociar o seu contrato milionário não com uma editora (como acontecia no passado) mas com uma produtora de concertos.
O livro acerta noutros pontos, não se preocupem, e dá comida para o cérebro tal como uma assinatura anual da The Wire, só não é tão bonito como a excelente revista britânica.
Talvez por isso que tenha tido um triste fim, como aliás todos os poucos que importam publicados em Portugal, ou seja, a sua editora faliu há 2 anos e com isso o seu acesso de origem - têm piada sugerir que o aspecto manhoso do livro tenha levado a editora à falência, não têm? O meu exemplar encontrei no "anarca-alfarrabista" Utopia (no Porto), entretanto já me cruzei com outros exemplares por aí e na 'net. Aproveitem se o encontrarem...

sexta-feira, 25 de março de 2011

Boring Europa


primeiro volume nova colecção da Chili Com Carne, LowCCCost, dedicada a livros de viagens

# de Ana Ribeiro, Joana Pires, Marcos Farrajota, Ricardo Martins e Sílvia Rodrigues


em Espanha, Itália, Eslovénia, Sérvia, Áustria, Alemanha e França

8000 km / 15 dias

sobre a tour europeia da Chili Com Carne realizada entre 1 e 15 de Setembro 2010 nas cidades de Valência, Bolonha, Ljubjana, Pancevo, Graz, Berlim, Poitiers e Vigo.

##

participações especiais de Karol Pyrcik, Jorge Parras, Martin López Lam, Jakob Klemencic, Aleksandar Zograf, Simon Vuckovic, Vuk Palibrk, Christina Casnellie, Andrea Bruno, Igor Hofbauer, Edda Strobl, Helmut Kaplan, Pilas versus Nanvaz, e ainda com Gasper Rus, David Krancan, Matej de Cecco, Matej Lavrencic, Katie Woznicki, Letac, Boris Stanic e Johana Marcade nas comic jams feitas em Ljubljana e Pancevo.

###

banda sonora gratuita em linha: "A Grande Explosão" de Ghuna X via Phonotactics #### 128 p. 23 x 16,5 cm impressas a azul escuro, capa impressa a branco sobre cartolina Dali bluemarine 285 gr com badanas

ISBN: 978-989-8363-11-4 #####

PVP: 10 eur. 50% para sócios, lojas e jornalistas (aceitam-se encomendas) à venda no sítio da CCC, Trem Azul, Fábrica Features, Utopia, B Shop (CCB), CDgo.com, Matéria Prima, Letra Livre (ZDB) e Mundo Fantasma

######

sobre o livro: a tournê europeia Spreading Chili Com Carne Sauce in Boring Europa tinha como objectivo principal divulgar o trabalho da Associação e dos seus artistas. Até pode parecer um acto desesperado de querer mostrar "à força" o nosso trabalho mas, desde sempre, a CCC trabalhou com projectos e autores estrangeiros – Mutate & Survive, Mike Diana, Greetings from Cartoonia, MASSIVE, Festival Crack, etc... O problema é que quase nunca vemos estes nossos amigos, dada a solidão imposta pela nossa posição periférica. Fomos dizer "olá" ao pessoal amigo! E aos que só comunicávamos por correio! E, claro, conhecer malta nova! Fomos percorrer 8000 Km de Europa em 15 dias oferecendo um pacote completo de cultura underground portuguesa a quem nos recebesse: concertos de R- e Ghuna X, festa animada com o unDJ MMMNNNRRRG, exposição de impressões e serigrafias, e, claro, uma enorme selecção de zines, livros e discos independentes. Em troca queríamos apenas simples alojamento, comida (se fosse possível à organização) e dinheiro das entradas para os espectáculos. Se os punks e metaleiros fazem isto porque não podemos fazer a mesma coisa com livros? Get in the van! Decidimos chamar a coisa de boring, pelo sim pelo não, porque vivemos numa uniformização cultural capitalista à escala global - como tão bem ironiza Jakob Klemencic algures no livro - em que as identidades nacionais ficaram reduzidas a meia dúzia de artefactos rurais e rituais anacrónicos prontos para serem vampirizados pelos comportamentos fotográficos dos “turistas = terroristas”. Desde o início pensámos que só podia ser bom editar um livro com os desenhos dos viajantes - um relato on the road das pessoas com quem nos cruzámos, das cidades e dos países que visitámos, etc... Era impossível de falhar: seis pessoas a desenhar, seis livros de esboços fundidos num livro "oficial". Pura ingenuidade! A excitação de conduzir, o esforço físico de alguns trajectos, a desistência da Sílvia Rodrigues, logo ao terceiro dia, e a falta de confiança em desenhar da maior parte dos participantes deixou-nos apenas com UM caderno de esboços da Ana Ribeiro. Todas as outras participações tiveram de ser feitas à posteriori, complicando com os prazos pessoais e profissionais de quem gozou estas férias diferentes. Juntámos textos, BDs, desenhos “acabados” bem como “esboços” da Ana Ribeiro, Joana Pires, Marcos Farrajota, Ricardo Martins e Sílvia Rodrigues; e bds de autores estrangeiros que relatam a recepção da nossa “caravana” - Jorge Parras, Martin López Lam, Jakob Klemencic, Aleksandar Zograf, Vuk Palibrk e Christina Casnellie. Outros cederam-nos desenhos ou bds sobre viagens para enriquecer esta edição - Andrea Bruno, Igor Hofbauer, Edda Strobl, Helmut Kaplan, Pilas versus Nanvaz. Compilámos as melhores BDs-cadáver-esquisitos ou comic jams feitas em Ljubljana e Pancevo - são bds feitas numa sessão com várias pessoas em que cada um desenha uma vinheta continuando o trabalho dos anteriores perdendo-se sempre o controlo do avanço da “estória”. Em "Lissabon", a Karol Pyrcik ficou a tomar conta das gatas do Marcos e da Joana, e a fazer um diário gráfico sobre a sua estadia, contrapondo as nossas visões, mas fez batota e produziu umas divertidas ilustrações sobre futilidades lisboetas e quotidianas.

Criámos um inovador “Frankenstein comix” ou uma Babel impressa? Em breve teremos reacções a este livro. Esperamos ter surpresas exteriores tão agradáveis como as que tivemos quando chegávamos aos sítios durante a digressão. #######

Apoios (tour e livro): GRRR Program + Centro Cultural de Pancevo, IPJ, MMMNNNRRRG e Neurotitan

########

Historial: Realização da tour Spreading Chili Sauce around Boring Europa (1-15 Set) ... Lançamento 27 de Março na MapDesign (Lisboa) e 2 de Abril na Feira do Jeco (10 anos dos Maus Hábitos) ... Cabaz Underground (sorteio dia 3 de Abril nos Maus Hábitos) ...
exemplos de páginas:

terça-feira, 15 de março de 2011

Trust



Uma ida à Carbono para colar um certo belo cartaz fez-me disparar o sentido consumista há muito adormecido. Mas nada de CD's de 10 euros ou vinis de 5eur... nã! Fui ao refugo dos CD's a 2,5 eur que a loja nem se dá ao trabalho de guardar a rodela fora da caixa. E encontrei na secção Metal/Goth umas coisas bizarras que me puxavam prá nostalgia do Rock Industrial dos anos 90. Não resisti em comprar 4 CD's por causa:
a) da editora: Afterburn : WaxTrax! Records '94 and beyond (WaxTrax / TVT; 1994), compilação com os meus queridos KMFDM, e Pig, Die Warzau, Chris Connelly, e mais conhecido ainda Underworld e Richard H. Kirk (Cabaret Voltaire). A WaxTrax! foi uma editora que lançou os mamados do electro-industrial norte-americano (de Chicago) que produziram obras inesquecíveis ou pelo menos os melhores nomes de bandas como Revolting Cocks ou 1000 Homo DJ's. Também levavam para a América licenças de disco do melhor que se produzia na Europa como Laibach ou Front 242. No príncipio dos anos 90, com a explosão da "música alternativa", os artistas começaram a fugir da WaxTrax para irem para editoras "majors" (e no caminho a lixarem-se com isso, como aconteceu com os Melvins ou os Butthole Surfers) deixando as editoras "indies" à rasca, ou seja, sem os artistas que vendiam melhor. A TVT comprou a WaxTrax e passou a meter toda a música electrónica nesta "label", sobretudo licenças da Warp para os EUA. Esta compilação é disso resultado, entre o Electro-Rock-Industrial de marca como os KMFDM (que procurava) saltam os beats limpos e bem-comportados de Mark Franklin, B-12,... Talvez este foi o epitáfio da "label", acertei na mouche!
b) do nome: Vómito Negro seria o suficiente comprar só pelo nome... Vale os 2,5 eur! Mas comprei porque conhecia o nome destes belgas nos meus velhos tempos de Universidade embora não me lembre de alguma vez os ter escutado. Bom... tive de os experimentar tal como se experimentam drogas novas... The New Drug (Antler Subway; 1991) é o quarto álbum desta banda electro-industrial que baseia-se nos Cabaret Voltaire e salta para as linhas posteriores de exploração dos conterrâneos Front 242 ou dos Skinny Puppy. As faixas dividem-se EBM de primórdios e em Dark Ambients. Tem força dramática para não se querer dançar...
c) da capa: ia jurar que à primeira vista que Also sprach Johann Paul II (A.M.D.G.; 1997) de 300.000 V.K., seria uma banda de Power-Metal cristão. Fiquei banzado com esta capa do papa-porco-polaco e a contra-capa com o tipo vestido de armadura!? Como é possível tal obra? Como ficar admirado? Ainda há pouco tempo fizeram um musical dedicado ao Papa morto e eque esteve em exibição em Lisboa porque não um CD de... Techno!? Algures vi uma referência ao NSK e percebi que havia dedo dos Laibach por aqui. Investigações posteriores confirmaram isso, é um projecto paralelo de alguns membros do grupo esloveno que neste segundo disco fazem um Techno Trance tão chato como o Techno Trance geralmente é. No meio é identificável alguns maneirismos militares de Laibach mas basicamente é uma bosta musical total. Dedica-se ao triunfo do Cristianismo, ao Nietzsche, ao Richard Strauss e a Zaratustra mas os sinais "iconoclastas" são dificeis de identificar deixando no fim sem paciência para os decifrar. Certo mesmo é que ei-de oferecer este CD a alguém que curta Deus e isso tudo...
d) da imagem da banda: os Skin Chamber mal sabia que era um projecto paralelo dos Controlled Bleeding, projecto mítico q.b. já editado em Portugal na Fast Forward e nos CDs da colecção Antibothis. Este álbum de estreia - só haveria mais outro álbum - Wound (Roadrunner; 1991) tem umas fotos homoeróticas da banda com os dois tipos em tronco nu ou em couro num ambiente de garagem / fábrica abandonada. Coisa paneleirota mas a indicar o Industrial, tipo Tom of Finland com ferrugem que receava a ser aldrabado pró EBM. Mas não! O som é uma brutalidade Industrial-Metal mais próxima e pesada de Godflesh do que Ministry e tão lenta e "mantrica" como Swans. Apesar destas balizas não é um disco para ser desprezado porque é como se fosse Grindcore em slowmotion!!!

quinta-feira, 10 de março de 2011

Hipster!


Estive no Porto algumas semanas e claro que aproveitei para ir a lojas à séria porque como toda a gente sabe não há disso em Lisboa. Uma que fui é a CDGO.com que estão sempre a despachar a preços fixes discos hipsters que os hipsters já não curtem mas desta vez não encontrei nada excepto este DVD, Sound Mirrors : Videos + Remixes (Ninja Tune; 2006) dos Coldcut. Custou uns 10 euros o que é barato se pensarmos que é DVD mais CD... E curti os gajos quando vieram cá tocar... E é da Ninja Tunes, caramba!
Seja o DVD ou o CD das remisturas ambos começam bem com o tema True Skool (com voz de Roots Manuva) e percebe-se porque os Coldcut são os Mestres de beats post-House ou de house tribalistas digitais (?) só que o álbum vai variando em altos e baixos estranhos, incoerentes e falsos. Há temas de belezas artificiais enfadonhas, vai continuamente perdendo o "Groove Black" e é isso mesmo... o disco vai ficando esbranquiçado! Para Mestres da técnica de corta-e-costura (Hip Hop) é preciso ser mestre para juntar cromos como Jon Spencer, Roots Manuva, Saul Williams e não sair nada de jeito. Talvez por isso tenham tentado disfarçar as músicas pedindo vídeos que fugissem ao habitual "video-promocional" e entrassem num campo mais artístico. Só num vídeo é que aparecem os Coldcut e Manuva, True Skool - porque será? porque é um bom tema! É óbviamente um single! E por isso mereceu um vídeo promocional...
Os vídeos são ilustrações das músicas com a tal vantagem de não incluírem os stars e músicos. Assim não temos de ver palhaçadas e farsolices destes artistas a quererem-nos entreter durante 3 minutos e tal. Alguns dos filmes roçam a abstração (Sound Mirrors pelos Up the resolution), outros criam narrativas (Mr. Nichols que é um reaproveitamento de um filme de Andreas Riiser) e muitos são filmes de animação, em que destaco o divertido This Island Earth de Joel Trussell que já trabalhou no igualmente divertido vídeo War Photographer de Jason Forrest. No total há uma mensagem política de descontentamento "fim-de-Bush" / "pré-Obama" mas fazer música de dança (club, soul, r'n'b, house) com uma mensagem política parece tão contraproducente como lamber os pés a um paraplégico.
As remisturas pouco adiantam aos originais, ou seja quando o tema é bom avança-se pouco, quando os temas são chatos nada aacontece mas também se dá o fenómeno de alguns casos as remisturas serem tão vulgares que até envergonham como uma mistura Big Beat (em 2006?) dos Qemist - creio que algumas delas já devem ser antigas mas ainda assim... Por fim, um disco de remisturas é sempre uma treta que só poderá interessar os DJ's, ou só deve mesmo ser editado isoladamente, maxi a maxi, single a single mas nunca compilar em "álbum" porque soa a uma manta de retalhos sem sentido ou ordem.