terça-feira, 14 de maio de 2013
O disco mais fodido de 1980 e o disco mais cool de 1981
Yello : Solid Pleasures (1980) + Claro que si (1981)
(Ralph / Vertigo)
O título é exagerado como é óbvio, em 1980 deve ter havido discos mais fodidos e discos mais "cool" em 1981... O meu interesse e fascínio por Yello começou pelo Claro que si comprado na Feira da Ladra nos inícios dos anos 90, deles conhecia o vídeo-clip do tema The Race (de 1988) e pouco mais. O vídeo e o som eram extravagantes para quem estava condicionado aos programas de TV como o Top + nos anos 80 em Portugal. Já ter passado não sei aonde na TV e não me esquecer deles (pudera!) foi uma sorte. Apesar de nos anos 90 querer afastar-me do Pop "mainstream" à descoberta da "música alternativa" tinha curiosidade na banda e comprei o disco por 500 paus, hoje, 2,5 euros mas que ainda era coisa cara para um disco em segunda mão na altura. Rendeu porque é um dos meus discos favoritos de sempre.
Começa com Daily Disco e tal como quase tudo dos Yello parece errado e tosco apesar dos grandes padrões de produção sonora - Boris Blank é conhecido por ser um picuínhas nos sons que produz - mas o "disco" que tocam não tem a "fiesta" dos Boney M nem coisa que se pareça. Sobretudo não tem uma fantasia escapista, os temas parecem que foram feitos por pessoas deprimidas sabendo que o Prozac só irá aparecer na década seguinte - e a essa espera é dolorosamente eterna! Esta é uma hipótese, a outra é que soa a boémios blasés - uma forte hipótese, porque se Yello não é "working class heroes" também não é "teeny bopper", o milionário vocalista Boris Meier entrou na banda já com uns 30 anos. Na altura levei um duche de água fria porque Claro que si não era uma electro-fanfarra como conhecia do tema The Race. Em compensação conheci uma música cheia de ambientes noturnos, cinematográficos e cínicos, que mudam de camisa de faixa em faixa, passando pelo Reggae falsificado de Ballet Mecanique, ao igualmente falsificado (?) Cuad El Habib - um tema Dark Synth com letra e voz em árabe - voltando ao Disco para camionista que é The Lorry e que até para não haver dúvidas inclui um solo xunga de guitarra à ZZ Top. Depois metem-se na selva New Age de Homer Hossa; e por fim, acabam com Pinball Cha Cha que dá a pista do que os Yello seriam mais conhecidos no futuro, ou seja, andróides dandys com suor latino-americano, caricaturas de machismo e de ar Retro.
Recentemente, numa feira de discos na Matéria Prima (do Porto) encontrei o Solid Pleasure, primeiro álbum do grupo que comprei a 6 euros (roubalheira, a edição é uma porcaria!) e foi novamante um choque! Claro que primeiro estranha-se e depois... Repete algumas coisas do Claro que si, do Disco tosco (Downtown Samba) ao tal "Reggae falsificado" (Rock Stop), só fica de fora é o arabesco. O que entra é que é inesperado, nomeadamente os temas Assistant's cry e Stanztrigger, o primeiro parece Test Dept se estes tivessem previsto os "call-centers". Os temas imediatamente anteriores, Magneto e Massage, só ajudam para criar esse ambiente Industrial, tanto que a primeira vez pensava que eram um tema só. Stanztrigger podia ser sem querer dos Throbbing Gristle se estes fossem mais técnicos. Acaba com Bananas to the beat parecido ao que viria ser um ano depois a conclusão de Claro que si com o Pinball Cha Cha.
Não esperava esta aproximação Industrial nos Yello, habituado a vê-los como flâneurs pós-modernos ou uma raça pós-colonialista em extinção mas pesquisando vê-se que estes temas em específico tinham como créditos Carlos Peron, que abandonaria o projecto e fará bandas sonoras Dark fatelas e EBM sem piada. Peron foi com Blank o fundador dos Yello. Meier entrou mais tarde para voz / letras / videos fazendo deles um trio - e não o duo que estamos habituados a ver. Tem piada que o tipo com o nome latino pelos vistos queria ser um europeu chato do pós-industrial enquanto os que tem nome mais germânicos queriam era libertar a franga.
Seja como for, são dois álbuns fabulosos, que obrigam a ouvir como deve ser tão cheio de histórias e universos em cada faixa, curiosamente são discos cada um com menos de 40 minutos! É incrivel como as bandas até há mais de 20 anos atrás eram capazes de fazer discos com vários tipos de música - ex.: Kashmir dos Led Zep, qualquer tema dos Mano Negra, os três primeiros discos de Ministry com Paul Barker, os Mão Morta, Beastie Boys, Talking Heads, etc, etc, etc,... Nos dias de hoje, as bandas fazem discos em que tocam o mesmo tema vezes o número de faixas do disco. Quem explora um nicho de mercado, seja Punk seja EBM seja Indie, tem de trabalhar como robots para os círcuitos comerciais que há em cada um desses nichos, que geralmente são completamente conservadores - se encontrarem um gótico que curta ska será de admirar, por exemplo. Ouvir Yello no século XXI pode parecer um bocado triste mas a verdade é que ninguém é capaz de fazer mais discos assim - e ao que parece, nem eles próprios que foram envelhecendo senilmente. Entre Yello ou uma merda indescritível como os Vampire Weekend mais vale ouvir uns velhotes, não por sentimentos de nostalgia (não os ouvi na altura e na realidade podia o ter feito porque era adolescente nos anos 80) ou por ser vintage (a idioteira do século XXI). Vale apenas pela qualidade comprovada, no fundo, é a mesma coisa como ter de escolher entre um livro do Graham Greene e um Peixoto que ande prái...
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4 comentários:
Falta-te ouvir terceiro LP, "You gotta say yes to another excess". O último grande disco dos Yello, e o último com o Carlos Peron.
gracias pela dica... e tu? conheces o Macaco Tozé do Janus?
Olha, é a primeira vez que respondo a um comentário com dois anos de atraso...
O meu primeiro contacto com o Macaco Tozé foi numa paragem de autocarros perto de Braço de Prata. Eu e o camarada João Chambel tínhamos vindo de uma exposição de BD (seria o Salão Lisboa?) para essas bandas, e o Janus tinha deixado uns fascículos do Macaco em cima do banco, para quem quisesse levar. Ficámos logo fãs. Mais tarde comprei a edição da Mnnnrrrg, às vezes ainda durmo com ela debaixo da almofada.
que doente!
sei dessas história através do Chambel... e sim era o primeiro Salão Lisboa (1998!)
maravilhoso!
(a vossa história e o facto de teres voltado cá para responderes!)
abraços
M
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